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15 anos da morte de Ricky Espinosa, símbolo do punk argentino

Tags: ricky flema banda


Em 30 de maio de 2002, o líder da Banda Flema morreu. Atirando-se para fora da janela de um quinto andar. Os membros da banda de Gerli lembram Ricky e mantém seu legado vivo.


“Todos os meus filhos estudam e trabalham. O problema é que se juntam com os vizinhos e começaram a escutar essa música. Um dia eu encontro um grupo de protesto em minha casa. Desde o de 18 ai de 4 anos, cantando todos”, diz uma senhora, robusta, cabelo curto e blusa vermelha, em uma sala que simula sediar um tribunal de direito. O ano é 1997. Na frente dela o Dr. Luis Moreno Ocampo, um advogado de prestígio, ex-promotor de justiça da Junta Militar, que agora está realizando um programa de televisão, Forum, a Corte del Pueblo. Moreno Ocampo a ouve atentamente. Ele deve mediar as duas partes em conflito para tentar resolver suas diferenças. Do outro lado do palco, está um dos 13 filhos da senhora, o de 17, o “réu”. O pedido da mulher é que ele deixe de ouvir punk rock, especialmente a banda Flema, porque suas letras atentam a educação que ela e seu marido ensinaram a toda a família. Sua recomendação é que escutem “música dançante ou os Los Fabulosos Cadillacs”.



Um pouco tímido, como o olhar escondido debaixo de um gorro com a imagem de uma folha de maconha, está Jorge Retamar, o jovem que vai tentar defender o seu direito de escolher qual música ouvir. Retamar não parece querer se rebelar contra o sistema, pelo menos não ainda, sim contra as ordens de sua mãe. Apenas se senta em seu púlpito exibe uma bandeira Argentina com o nome escrito à mão de sua banda favorita: Flema, é claro. O júri analisa o conteúdo das canções. “Eles são letras escritas por alguém que as viveu e eu estou vivendo agora”, argumenta Retamar.

Neste programa também foi chamado Manuel Ricardo Espinosa, cantor Flema e autor dessas letras que tanto preocupam a mulher, porque eles falam “de drogas, de morte, de álcool, da polícia”. “A senhora tem sorte de ter o filho que você tem. Nossas músicas não vão deseducar. Quando você vê um filme de assassinato, não sai matando pessoas. Isto é o mesmo, mas é música”, diz “Ricky” diante das câmeras do Forum. Ele explica que há muita “confusão e desinformação” sobre a banda e o significado de suas canções. Em particular, ele se detém em uma que a mulher cita em várias ocasiões, mas errada: Si yo soy así (Se eu sou assim), um hino para os fãs de Flema. “A música diz: “Si yo soy así NO es por culpa de las drogas y el alcohol. No necesariamente se tiene que estar drogado para ser de una manera” (“Se eu sou assim não é por causa de drogas e álcool. Não necessariamente tem que ser dopado para ser de uma maneira”) esclarece o músico.


Névoas do passado

Nascido e criado no bairro de Gerli, em Avellaneda, em 1986, aos 20 anos, ele entrou como guitarrista do grupo tinha montado com alguns amigos da área, Flema, que após várias mudanças de formação reformulou e liderou.

Embora ele sempre movimentou pelo subterrâneo da cultura rock, Ricky Espinosa foi um dos maiores expoentes do gênero punk na Argentina e na América Latina. Ele também foi muito questionado, incluindo por colegas do punk. Não era um músico virtuoso, tinha uma voz feminina e por vezes nasal, não era ‘esteticamente atraente’ nem tinha o porte de frontman. Mas seu estilo era frontal e agressivo. Ele pintava o rosto e subia ao palco, sempre com a ideia de se divertir e provocar, algo que era capaz de fazer com seus próprios seguidores. Com músicos da Flema costumavam tocar no meio de seus shows Honky Tonk Woman dos Rolling Stones, uma banda que adoravam, sabendo o quanto isso irritava aos punks, por esta insólita mas certa antinomia que os tornava inimigos dos “rolingas”. Coisas tribos urbanas na década de 90.

As letras de Ricky eram ásperas, antissistema, introspectivas, de rua, alcoólicas, narcóticas, suicidas, mas não eram um mero capricho do artista. Elas descreviam também uma época. O desemprego, a desigualdade social, cada um por si, que levou o “No Future” da explosão do punk em Londres em 1977, replicado, salvando as distâncias enormes na década neoliberal de Menem na Argentina. “Para mim, o No Future tem a ver com fazer os discos sem saber se eu vou vende-los”, brincou o músico a repórteres.

Morte

O lema “viva rápido, morra jovem …” adotado pelo movimento punk desde a sua criação – e praticamente ninguém leva a sério – se fez realidade em Ricky. Também muito do que ele escreveu em suas letras, especialmente a ideia de suicídio. Em 30 de maio de 2002, aos 35 anos, ele morreu ao cair de uma janela no quinto andar, nos monoblocos do bairro Güemes de Avellaneda, edifícios dez andares que existam atrás da linha férrea Roca e dos estádios do Racing e Independiente.

Sua morte é controversa. Pouco se sabe sobre as razões que levaram Espinosa para tomar tal decisão, embora aqueles que o conheciam notou algo mais deprimido do que o habitual nos últimos tempos: ele tinha brigado com a Mercedes, o amor de sua vida.

Naquela noite, eles estavam em Luis guitarrista “Luichi” Gribaldo Fleuma. Eles tinham bebido álcool com suco de limão depois de gravar as vozes de “5 de copas”, sétimo álbum de estúdio que saiu postumamente à morte de Ricky: “Nós estávamos jogando Playstation muito bêbados, por um bom tempo. A janela estava aberta por causa da fumaça, porque estávamos fumando e de um momento para outro ele se atirou. Quando percebi que já estava com meio corpo para fora. Eu não consegui agarrá-lo. Eu congelei”, lembra Luichi hoje, 15 anos daquela noite fatídica em que lamentavelmente Ricky tornou-se uma lenda.

Ricky morreu na ambulância a caminho do hospital.

“A Flema sempre foi um grupo de amigos. Mas com Ricky era uma irmandade”, lembra Gribaldo voz rouca.

Uma espécie de Dr. Jekyll e Mr. Hyde.

Niilista, provocador, irreverente com a vida, a sociedade e as instituições, mas respeitoso com amigos e pessoas. Aqueles que o conheciam intimamente falam de uma pessoa de grande coração, muito alegre quando sóbrio, muito deprimida e imprevisível quando ele estava sob a influência de álcool.

Fernando Rossi, baixista e guitarrista da banda desde a sua criação, vocalista hoje, testemunhou: “O álcool transformava ele. Fazia ele fazer coisas que estando sóbrio não faria. Nada de grave, mas fazia cagadas. E no outro dia era um senhor Inglês, dizia que não se lembrava de nada e pedia desculpas. Eu o definia assim: “Ricardo é aquele que salva sua vida ou que queima a sua casa.”

Eu nunca vou ser polícia

Não era um cara durão e nem era contra tudo. O que realmente incomova Ricky era a hipocrisia da sociedade. “Na década de 80 não foi fácil para sair com o cabelo longo, casaco, jaqueta de couro, botas de combate, pregos, para as pessoas era um louco. Eles o viram com cabelo no rosto e atravessavam a rua. Ricky sofreu condenação social. Isso o fodia e me fodeu também “, diz Juan Fandiño, guitarrista, ex-fundador e compositor de temas nos primeiros anos de Flema que abriu a possibilidade da banda participar da lendária coletânea punk Invasión 88.

“Nós estávamos andando pela rua e a polícia nos parou. Eles me disseram ‘você anda’ e queria levar ele. Ele se sentia discriminado”, acrescenta Fandiño, loiro e de olhos azuis. Anos mais tarde, Ricky repetido em várias entrevistas que “Argentina é um país racista”.

“Ele foi muito discriminado, diz Rossi. Por ser moreno, por suas roupas, ter cabelos longos. Uma vez ele me disse que em uma casa foi ao banheiro e os donos entraram em seguida pra ver se tinha roubado o sabonete. Essas coisas machucavam ele.”

Fandiño formou a Flema com vários amigos, incluindo Fernando Cordera (primo Gustavo Cordera, ex vocalista da Bersuit Vergarabat), e logo depois se juntou a eles como guitarrista Ricardo Espinosa. Dessa primeira formação, restou apenas Ricky, que mais tarde se tornaria vocalista com novos membros. Fandiño e Espinosa, no entanto, sempre continuaram amigos.

“Todos bebíamos, mas em Ricky o álcool pegava mal, ficava triste. Melancólico. Sempre quis saber qual era a razão pela qual ele chorava e nunca soube me explicar. Havia coisas que eu vivi com ele em que ele provou não ter medo da morte. Na verdade, brincava com a morte. Ele era uma pessoa quando estava sóbrio e outra quando estava bêbado. Se transformava em um demônio. Mas como um amigo foi o melhor.”define Juan.

Fernando concorda e acrescenta que houve um tratamento especial para ele, mas ele tinha ganhado por seu modo de ser: “Ao Ricardo se perdoavam coisas que a outros não se perdoariam. Não porque era o líder da banda, mas pelo grande coração que tinha. Nos maus momentos era um amigo de ferro.”

Rossi se lembra do momento em que ele foi convocado por Ricky para entrar na banda. Ele foi recomendado por seu irmão mais velho Santiago, um amigo de Espinosa e baixista da Flema e Sin Ley que morreu em 2004. “Ricky me disse para ir em sua casa para um teste. E quando chegou me disse “vem, toma uma cerveja, escuta essa canção. Te agrada? “Eu pensei que ia me pedir para que tocasse uma música do Led Zeppelin. O suposto teste não tinha nada a ver com a música, Ricky estava interessado em conhecer as pessoas. Então, obviamente, nós nos tornamos muito bons amigos” relembra.


Mente distorcida, irremediável

“Ricardo não era uma armadilha que não tinha nada na cabeça. Ele tinha muitos códigos e era muito inteligente. Ele foi um cara que você estava jogando xadrez e matava você. Muito educado, conhecia muito sobre história, religião, cultura. Você poderia falar sobre qualquer coisa com ele. E o que não sabia dizia: ‘Sobre isso não opino porque não sei’”, diz Rossi ao descrever seu amigo.

Ricky se incomodava com as “máscaras”, o culto ao dinheiro, o culto de si mesmo. Por que ele nunca quis ser uma estrela, embora soubesse que, no âmbito do punk rock sua figura tinha tomado um significado especial. “Eu não calculei nada para chegar aonde estou, mas eu não acho que é um lugar especial. Eu não me traí, nada mais. Que não passei despercebido, sim, eu sei. Há muitas pessoas que me odeiam por ser eu e outros dizem ‘avante Ricky’. Eu queria fazer o meu, nada mais “, disse Espinosa em uma entrevista em 2000, a única que concordou em dar em casa para um canal zonal Avellaneda.

Renegava as aparições na mídia porque “mentem”, mas ao mesmo tempo jogava com essa exposição com inteligência. “Hoje eu tenho um problema. Venha dar uma nota aqui”, disse a um jovem Gustavo Olmedo em uma entrevista para o Much Music canal.

Ele usava uma camisa que tinha escrito uma sentença de Truman Capote. “Sou um alcoólatra, sou um viciado em drogas, sou bissexual, sou um gênio.” “Você leu o livro onde está essa frase?” Perguntou Olmedo testando-o. “Eu li, mas não entendi”, disse Ricardo irônico.


Após a morte de Ricky, Flema deixou de existir. Os membros restantes formaram a Topos e continuaram com aceitação mista do público. Mas em 2014, após uma série de apresentações em homenagem ao cantor, eles decidiram reviver o grupo e lançou um álbum sob o nome de Flema: No Nos Rendimos.

Quase todos os membros da nova formação foram parte da história do grupo e também de Ricardo. Rossi e Gribaldo, baixista e guitarrista da banda de Gerli desde que gravou o seu trabalho mais emblemático, El Excesso… (1994); Mais Juan Fandiño, criador do nome e das primeiras canções. O novo Flema é completado por Sergio Lencina na bateria e nos vocais Rossi. Hoje eles estão comemorando 30 anos de carreira, embora alguns acreditam que, sem Ricky não há Flema. “As críticas são válidas. Eu acho que nós temos que seguir para escrever um pouco mais sobre a história da banda. Hoje não há nenhum Ricky, não há frontman, hoje somos todos iguais. Algumas pessoas não querem que toquemos nunca mais, embora montamos uma banda de rock and roll. Quando você vê isso você tem duas opções, desistir ou fazer o que quiser fazer. Eu quero tocar”, diz Rossi.

Através da Flema e outros projetos musicais – Flemita e sua fase solo – Ricky Espinosa foi capaz de construir uma imagem, um mito e uma carreira artística que, embora não reconhecida pelo grande público e a indústria do rock mainstream, marcou uma era a fogo e deixou uma brasa acesa que ainda mantém vivo o sempre agonizante punk rock. Hoje seguem aparecendo outros jovens como Jorge Retamar na década de 90, se recusam a ouvir a música que está na moda, preferem algo que conecte com seus sentimentos mais viscerais, que fale do que lhes passa, que questione. Existem novos expoentes, claro. Mas Flema permanece sendo a banda punk cult por excelência. E isso é em grande parte graças a Ricky Espinosa.

“A audiência vejo mudando constantemente, o punk rock é música para os adolescentes. Normalmente, quando você amadurece deixa de fora a fúria do punk rock. Outros morrem, e alguns seguem.”

(Via Overlab)

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