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Ilusões

      Via com olhos cansados a cena se repetir a todo momento, cada toque, cada sorriso. Via a possibilidades, prospecções de como a vida seria se tudo tivesse seguindo o mesmo curso de sempre. Era difícil aceitar que, por mais que doesse, os caminhos da vida não são tomados por nós, mas pelo o que as tecelãs decidiram. Estava por trás da janela, observando com carinho e saudade todo aquele sentimento puro e inocente que um dia tivera e hoje estava morto.
Eleonore sabia que aquilo estava enterrado a sete palmos e que se tentasse reanimar, seria perseguida pelo resto da vida. “Não se mexe em cadáver” uma senhora mentora um dia a dissera, “traz coisas ruim”. Mas Eleonore não queria mexer mesmo, só observava, como uma mãe observa com dor e desespero o corpo do filho ao lado do caixão.
A escuridão e as entidades do lugar onde estava construíam tramas do outro lado da janela, a fim de seduzir a mulher a permanecer no escuro, a ceder a sede de ter um coração novamente Mas Ela estava ciente de que tudo aquilo não passava de marionetes querendo destruir o pouco que restara de sua alma.
- Você sabe que não podemos ficar juntos - dizia a si mesma, enquanto observava as imagens do seu passado em momentos carinhos, íntimos. A ilusão da pessoa que um dia amara a afagando em seu colo quebrava seu coração, mas de alguma forma não conseguia tirar os olhos.
Era como um vício, como se a dor já tivesse se tornado tão comum que precisava de mais para poder se sentir viva e não esquecer do porquê estava ali. A dor se tornara sua alimentação, sua respiração, seu sangue. Aliás, há quanto tempo não comia?
Não tirava o rosto da vidraça, seus olhos fixos no casal que, dentro de casa, eram tão bonitos, perfeitos um ao outro. Não havia dor, não havia sofrimento. Ou havia, mas ela preferia não se ater antigamente. Teria vivido a vida toda uma ilusão? Aquelas situações tinham sido apenas sonhos observados ao longe na esperança de serem alcançados um dia?
Finalmente conseguiu se desvincular da janela, e se afastou da casa. Atrás de si estava o barco que fora seu companheiro durante essa longa viagem. O rio acabara mas não sua viagem, tinha um grande caminho a percorrer e muitos tormentos para sofrer.
Ao seu redor, as sombras sussurravam seu nome, sua história tentando a fazer desfalecer pelo caminho. Mas Eleonore sabia que não podia fazer nada senão continuar andando, afinal, dessa vez não podia desistir.


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