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A carta que eu não li

Vagueava eu pelo corredor da minha casa e dava por mim numa desorientação total, como se aquele corredor não teve um fim ou um início ou como se aquela divisória da minha pequena casa não me levasse a nenhum outro lado… Senti-me imensamente vazio como se o meu coração estivesse fora de mim…
De súbito, olho para o final do corredor e vejo um pequeno baú… Aquele pequeno baú continha das mais recentes às mais longínquas memórias… Algumas delas, bastante felizes, outras nem por isso… Só sei que uma força me puxava para voltar a ler aqueles textos e cartas, e deleitar-me a ver fotos fotografias de tempos passados… Não sei se deleitar-me, se entristecer de tanta saudade…
Abro a pequena caixa e a primeira coisa que vejo é um pequena foto da minha mulher no meio de um campo de flores… Caíram-me as primeiras lágrimas que não consegui conter. Imediatamente a seguir vejo uma foto da minha mulher com a minha filha nos braços, imediatamente a seguir ao parto. A única lembrança que tenho dela…
Já num choro incontrolável vejo uma carta que eu nunca tinha lido nem visto… Abro com cuidado para não estragar e para a puder ler e de repente leio que foi a minha mulher que escreveu… Começa com um título “Carta de despedida”… Assim que li este titulo percebi logo que tipo de emoções esta carta iria despertar em mim mas mesmo assim decidi continuar a lê-la.
A carta começava com “Duarte, escrevo esta carta para que um dia a leias. Esse dia será um qualquer dia posteriormente ao meu triste desaparecimento. Esta doença mata-me a cada dia e só tenho medo de saber que estará para perto o fim da minha vida.” Com este início pensei em desistir de continuar a leitura desta carta. Gemia por dentro e só me dava vontade de acabar com isto tudo, só para ir para ao pé da minha amada. Mas decidi continuar a ler.
“Sempre foste o homem da minha vida, e no dia em que te conheci soube logo que era contigo que queria ter a minha vida e talvez um filho… A tua felicidade contagiava-me, fazias-me ser a mulher mais feliz do mundo inteiro. Eu sei que tal como eu, sofreste muito com a morte da nossa prematura filha, mas nunca o demonstraste à minha frente só para não me fazeres sofrer… Mas eu sei bem que sentimentos nutrias nos dias, meses à seguir a esse acontecimento trágico na nossa vida. Tudo isto faz de ti o homem que és e que eu amo.
Amo-te Duarte, estarei sempre à tua espera…”
Não aguentei o choro, berrei intensamente como se fosse o último dia da minha vida…
Trocava tudo para ter só mais um dia contigo…


Crédidos da Fotografia: Filipa Fróis



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