Supla surpreende usando a última moda de ternos para homens
Abro o jornal e vejo um promoter, carnavalesco, trajando um terno cenoura e com os cabelos pintados da mesma cor. Diz ele que trouxe inúmeros destes ternos coloridos diretamente de Nova Iorque para usar neste verão carioca.
A imagem, de primeira vista chocou-me. Depois lembrei-me de como somos preconceituosos com o modo de vestir. Com os costumes da moda. Lembrei-me de vários momentos de mudanças de estilo que eu mesmo passei, e sofri para vencer o preconceito.
1 – Tinha 11 anos quando foram lançadas a sandália de dedo (as chamadas havaianas). Alguns amiguinhos já usavam. Foi um problemão lá em casa para eu Conseguir Ter uma. “Coisa de mariquinhas” dizia meu pai. Mal informado que nordestinos e orientais já usavam estes modelos há séculos. Afinal, com a concessão de que a tira tivesse uma cor neutra (masculina) consegui a minha tão sonhada sandália de dedo. Por esta época surge para nós o bambolê, e até o seu uso por meninos era motivo de bullying.
2 – O tal do ban-lon. Uma fibra sintética que tornava os abrigos muito maleáveis e sedosos, bonitos mesmo. Havia-os nas cores as mais variadas. As mulheres foram as primeiras a usa-los. Era eu já adolescente e foi mais uma batalha a ser vencida em família para conseguir ter meu casaco de ban-lon quando já era uma moda aceita por ambos os sexos;
3 – As chamadas camisas “goleiro”. Até a chegada delas os homens usavam camisas de cores neutras e pasteis: azul claro, brancas, brancas com listinhas azuis, cinzas, marrons, castanhas... e de repente as vitrines ficaram cheias de belas camisas amarelo ovo, vermelho-sangue, azul rei, verde-alface, laranja, e por aí à fora. Aí eu á estava com mais de vinte anos, adulto e o universo patriarcal e machista olhava com profunda desconfiança e preconceito o uso desta vestimenta.
4 – Vieram as calças saint-tropez (de cintura baixíssima deixando o “cofrinho” à mostra) e as calças boca-de-sino. Estávamos na Ditadura, e para cúmulo da babaquice a polícia reprimia este uso, estigmatizando com detenções por motivos aleatórios quem os usava.
4 – E por último o direito de usar o cabelo no tamanho que desejasse. Aí foi um Deus nos acuda! Houve até uma marchinha de carnaval famosa que dizia “Olha a Cabeleira do Zezé, será que ele é? ”
Depois veio a onda hippie, as cores, as saias, as lantejoulas, os cabelos grandes, os colares, o amor livre...e a sociedade de consumo a pouco e pouco apropriou-se destes valores rebeldes e hoje o direito ao trajar-se flui melhor, embora ainda com preconceitos.
Mas a garotada de hoje - como nós os de ontem - saberá limpar os esqueletos nos armários. Afinal, esta é a autodenominada Geração Cristal.
Por Bemvindo Sequeira
Colaboraram: Bemvindo Sequeira; blogdobemvindo.blogspot.com.br