Get Even More Visitors To Your Blog, Upgrade To A Business Listing >>

Peregrinar em honra de Astarte

Hoje, escreverei sobre o acto de peregrinar, tendo como ponto de partida a Santa Quitéria.

Kyteria era o título que os Fenícios davam a Astarte, quando esta divindade se apresentava como Deusa da Guerra. Kyteria a Vermelha e a Pura. Que o povo ainda lembra como protetora contra a raiva e os cães raivosos. A oração a Santa Quitéria sempre se rezou por todo o país, invocando proteção quando a guerra se aproximava. Sendo esta a oração (recolhida por Moisés Espírito Santo):

Ó Virgem Imaculada

Mãe de Deus Redentor

A triste hora chegou

De sermos pelos cães devorados.

Ó Virgem Santa Quitéria,

Que dos anjos sois rainha

Livrai a nossa nação

Desta praga tão daninha.

Livrai-nos Virgem Pura

Dessa raça infernal,

Enchei de boa-ventura

O nosso velho Portugal.

Santa Quitéria, na versão portuguesa, nasceu em Braga, era uma de nove irmãs, todas santas, mas não há tempo para referir as irmãs de Santa Quitéria. ;)

Para os historiadores da religião pré-cristã, a Santa Quitéria surge numa tríade, sendo os dois outros elementos da divindade representados por duas santas com os mesmos radicais KTR, que quer dizer puro. As outras duas santas são:

- a Santa Catarina, a filósofa de Alexandria, a santa mártir que, muitas vezes, surge como orago nos lugares onde havia cultos mistérios pagãos;

- e a Santa Comba (Colomba, pomba), a santa do maravilhoso.

O historiador Paulo Pereira diz-nos que as três são «como que diversas faces da mesma moeda ou, se quisermos, formas de veneração de um mesmo conceito, simbolizado pela pomba». Este historiador vê nisto mais uma evidência da cristianização de Astarte, que tinha na Pomba um dos seus atributos.

Todos conhecemos a simbologia cristã da pomba, mas no oriente a pomba aparece associada à Terra Mãe.

É também este historidaor que faz referência à canção popular As pombinhas da Catrina, em associação com estas três divindades, ou uma divindade tríplice.

As pombinhas da Catrina,

andam já de mão em mão,

foram ter à quinta nova,

ao pombal de S. João.

(...)

Se alguém nos vê passar,

diz: que lindos que eles são;

nós não queremos já voltar,

mas andar de mão em mão.

(...)

Sem ter beira nem patrão,

o voar é nossa sina.

- vão andar de mão em mão,

as pombinhas da Catrina.

Fica esta canção para reflexão. Mas, para além desta canção, há ainda a expressão «andar seca e meca» que, segundo o historiador Moisés Espírito Santo, é uma referência direta ao culto a Santa Quitéria (a explicação é muito longa, por isso fiquemos apenas pela referência). Mas, andar seca e meca é, de certa forma, peregrinar. Então, peregrinemos. ;)

Se eu partir daqui, de Braga, em direção ao meu velho Circo, ou Círculo, há vários percursos que posso fazer. Posso dirigir-me à Serra do Alvão, que é um lugar antigo, cheio de arte megalítica, da qual fazem parte as gravuras rupestres do Alto da Mão do Homem, bem como as pedras com a escrita do Alvão, que foram encontradas num Dólmen intacto e que, na pior das hipóteses teriam 6 mil anos, mas que segundo alguns especialistas podem ter 17  mil anos!... Mesmo com 6 mil anos de idade, seria a escrita mais antiga do mundo, uma vez que a escrita cuneiforme apareceu por volta de 3500 a. C. Hmm, continuemos. No Alvão, na freguesia de Vila da Cerva, subindo ao monte Alto dos Mouro, encontramos a capela de Santa Quitéria. Partindo dali, mantendo sempre a direção do meu Circo, chegamos à localidade de Vales e à Serra de Santa Comba, onde se situa um dos miradouros mais emblemáticos de Trás-os-Montes. Do Miradouro de Santa Comba a viagem continua, quase em linha recta, até ao término, no Circo, entrando aqui nas terras de Santa Catarina e no lugar onde, antigamente, havia um antigo templo iniciático.

Mas, permitam-me voltar atrás e contar muito rapidamente a lenda da Santa Comba de Vales, uma das mais belas e maravilhosas das lendas portuguesas, que conta a história de uma jovem pastora que vendo-se perseguida por um homem que a quer violar, simplesmente faz aquelas velhas fragas abrirem-se e entra dentro das rochas, que se fecham de novo.

Uma última coisa, nas romarias antigas de Santa Quitéria dava-se a bênção do gado, enquanto este dava uma à volta da igreja, no sentido contrário aos ponteiros do relógio, imitando assim o movimento da Terra girando sobre si própria.  

Bem, o fim da minha viagem, o Circo, marca a entrada numa terra onde antigamente os pombais eram muito comuns. Já restam poucos, mas continuam a ser construções muito interessantes e características. Termino, então, com a foto de um desses velhos pombais.

Peregrinar também é isto, este acto de deixar que a magia se revele e andar por seca e meca, em honra dos velhos deuses, neste caso, em honra de Astarte. ❤






This post first appeared on Peregrinar, please read the originial post: here

Share the post

Peregrinar em honra de Astarte

×

Subscribe to Peregrinar

Get updates delivered right to your inbox!

Thank you for your subscription

×