SÃO PAULO e RIO – A tradicional imagem de um formigueiro humano às vésperas do Natal na região da Rua 25 de Março, em São Paulo, um dos centros de comércio popular mais conhecidos do país, virou coisa do passado. No segundo ano consecutivo de recessão, o número de frequentadores caiu visivelmente. Todo mundo ainda quer dar um presente ou lembrancinha, mas, com menos dinheiro no bolso, parte dos consumidores ficou em casa. Para alento dos lojistas, porém, quem foi concentrou as compras no local, o que fará com que o volume de Vendas este ano seja um pouco maior.
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Nas contas da União dos Lojistas da Rua 25 de Março (Univinco), o volume de vendas neste fim de ano deve crescer entre 3% e 5%. A projeção foi refeita há pouco tempo, depois de comerciantes perceberem um aumento do fluxo a partir de novembro. Até então, a expectativa era de vendas estáveis.
— Se ficasse estável já seria uma vitória, mas o último bimestre surpreendeu, e houve esse aquecimento na reta final — conta Eduardo Ansarah, diretor-presidente da Univinco.
Ele lembra que o ano, que já sinalizava ser fraco, registrou queda de vendas no primeiro trimestre. Depois houve estagnação e, por isso, não se esperava crescimento algum para o ano. No entanto, em sua avaliação, os consumidores que foram até a 25 de Março e ruas próximas concentraram as compras na região, em detrimento de eventuais aquisições em shoppings e comércio de bairro.
A maior parte dos itens comprados vai de R$ 60 a R$ 120, abaixo dos até R$ 150 do Natal de 2015. Também é um ano em que não se observou qualquer item líder de venda, ou uma moda que tenha prevalecido.
— Com a recessão, mudou o perfil do consumidor. Ele está menos impulsivo e mais criterioso — explica Ansarah.
Carlos Thadeu de Freitas, economista-chefe da Confederação Nacional do Comércio (CNC) e ex-diretor do Banco Central, afirma que, para o comércio como um todo, o Natal ainda será de queda nas vendas:
— O Natal de 2015 foi o da recessão, o de 2016 é o da realidade, das compras que cabem no bolso e dos presentes de menor valor, não do crédito. Teremos recuo nas vendas do comércio, mas será menos pior do que no ano passado.
Em dezembro de 2015, as vendas do varejo caíram 7,1% frente ao mesmo mês de 2014. Para dezembro de 2016, prevê-se recuo entre 4% e 5% em relação a 2015.
Quando se considera 2016 como um todo, porém, a Pesquisa Mensal do Comércio (PMC, do IBGE) será a pior desde o início da série histórica, em 2002, segundo a projeção da CNC. A previsão é de perda de 6,5%. Para 2017, a expectativa é de estabilidade, segundo Freitas:
— É a primeira vez que temos dois anos seguidos de queda no varejo.
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