Ontem vi uma Senhora a fazer manobras com um Carro de bebé.
E, meus amigos, o talento que aquela senhora evidenciava era qualquer coisa de, como é que eu hei-de dizer, irritante. Mas irritante de um modo constrangedor.
É isso. Constrangedoramente irritante. Quase que me fez ficar com vontade de lhe espetar um banano nas ventas, com o mais recente livro do Saramago.
Comigo é assim. Violência, ok, mas com nível. Sem pontuação, mas de modo a fazer pontos, na testa da vítima. A bater, ao menos que seja com um Nobel.
Antes de mais, a Fnac estava apinhada de gente, ao ponto de, se eu quisesse ver o preço do dvd do Ruca, ter que pedir ao senhor gordo de fato cinza com os sovacos transpirados que por sua vez pedisse à senhora vestida com um cortinado laranja que estava a 20 metros dele, para gritar ao funcionário gay que me dissesse o número de telemóvel dele, através dos mesmos intervenientes mas em sentido inverso.
Isto para eu lhe ligar para ele me dizer o preço. Imediatamente a seguir, queimava o telemóvel, para que o funcionário não ficasse com ideias.
Não obstante, a senhora andava com o carro para trás e para a frente, provavelmente a tentar virá-lo.
Podia, também, estar a passar a carpete a ferro. Ou a imitar uma dança japonesa. Ou estava bêbeda.
Por fim, a senhora lá conseguiu virar o carro, e, milagre, sem gastar os pneus nem rasgar a carpete.
Boa, pensei eu, conseguiste virar o carro ainda antes do puto atingir a maioridade. Assim sim.
O giro foi constatar que o carro estava sem o bebé.
Voltei a pensar, e reparem que já vou no segundo pensamento do dia: "Nada como fazer actividades inúteis, no meio de um magote de gente, só para estorvar e meter nojo. Fechar o carro para quê? As pessoas marram contra isto porque querem."
O giro é estorvar.
Ainda pensei em dizer: "Ó Salete Fangio, se julgas que tens aí o teu neto estás bem enganadinha."
Mas não disse, com medo que a Salete, com o pânico, atropelasse a metade da população de Coimbra que estava na Fnac, a não fazer mais do que interpôr-se entre mim e o raio do dvd do Ruca.
Viva o Natal e o consumismo.
Ahhhh, Karl Marx. Ahhh, Lenine.
Ahhh PCP. A droga, não o partido.