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Ultimas leituras: Resenha Madame Bovary – Gustave Flaubert (contém spoiler)

Tags: emma charles

 

Um livro que foi publicado em uma época de mudanças, o autor Gustave Flaubert critica a maneira como a sociedade francesa estava vivendo. O enredo acontece no interior da frança e conta a história do médico Charles Bovary, um  homem tímido, desastrado e pacato, que fica viúvo e se casa com a bela Emma.

Emma é uma mulher que deseja se inebriar de amor, que não encontra vivendo sua vida conjugal com Charles. Sempre entediada, triste e esperando que algo novo e bom a encontre. Um dia charles é convidado para um baile, de um conde que havia tratado de uma enfermidade. Emma se empolga e manda preparar um lindo e elegante vestido para que possa ir na festa.

No baile tocava a valsa, a dança que para a época era descrita como vulgar, Emma não sabia valsar, mas o conde pede para que ela o acompanhe. A cena é descrita com detalhes e mostra a maneira como suas pernas se entrelaçam e ela se sente vivendo uma outra vida. Ela queria viver como a burguesia.

“…No íntimo da sua alma, contudo, esperava um acontecimento.
como os marinheiros aflitos, percorria com os olhos desesperados a
solidão da sua vida,
procurando ao longe alguma vela branca nas brumas do horizonte.
Não sabia ela qual seria esse acaso, o vento que lho traria para perto,
nem para que praia se sentiria
levada, se seria chalupa ou navio de três pontes, carregado de angústias
ou cheio de felicidades até às escotilhas mas todas as manhãs, ao acordar,
esperava que viesse naquele dia e escutava todos os ruídos,
levantava-se em sobressalto, surpreendia-se
de que não tivesse vindo; depois, quando o sol se punha, cada vez mais triste,
desejava estar já no dia seguinte.
Após o aborrecimento daquela decepção, o coração ficou-lhe novamente vazio
e começou outra vez a série dos dias todos iguais. Iam então agora seguir-se assim
em fila, idênticos uns aos outros, inumeráveis, nada trazendo de novo! As outras
existências, por muito monótonas que fossem, contavam, pelo menos, com a
possibilidade de qualquer acontecimento. Imprevisto. uma aventura trazia às vezes
consigo peripécias sem fim e o cenário transformava-se. mas, para ela, nada
acontecia. deus assim o quisera! o futuro era um corredor todo escuro que tinha ao
fundo uma porta bem fechada.”

Depois desse dia ela se revolta ainda mais com sua pobre vida. Passa dias, semanas e meses esperando por um novo convite que não chegava e ficava sonhando acordada com o conde. Notando a insatisfação de Emma que sempre chorava pelos cantos, Charles decide se mudar para outra cidade, Emma vai com o coração cheio de esperança e com o pensamento lhe dizendo: Pior que está cidade não deve ser. Emma parte da cidade grávida.

Quando chega na nova cidade, conhece Leon e o farmacêutico Homais que logo se tornam amigos da família. Emma nutre um desejo escondido por Leon, que também a quer. Porém Leon parte para terminar seus estudos de advocacia e Emma fica imensamente triste e se sente mal por não ter revelado seus sentimentos.

Emma é uma mulher intensa, culta, precisa de romance, se sente mal por não amar seu marido e ao mesmo tempo sente raiva por ele a amar tanto.

Logo conhece Rodolfo, um homem experiente que logo percebe a fraqueza de Emma, decide conquista-la e assim faz.

Emma agora tem um amante e mal pode acreditar que seus anseios estivessem terminados. Estava radiante e feliz. Encontrava-se sempre com Rodolfo, estava apaixonada. Gastatava um bom dinheiro para manter-se sempre bem vestida e bonita, logo contraiu muitas dividas assinando promissórias da qual não lia. Com o passar do tempo ela já não se contentava com os encontros, invejava a liberdade que os homens possuíam e as mulheres não, sentia raiva disso e não achava justo, decidiu que queria fugir com ele e ser livre de seu casamento.

“…Um homem, pelo menos, é livre; pode percorrer as paixões e os lugares, atravessar os obstáculos, consumir as felicidades mais distantes. Mas a mulher é impedida continuamente. Inerte e flexível a uma só vez, tem contra si as molezas da carne com as dependências da lei. Sua vontade, como o véu de seu chapéu preso por um cordão, palpita a todos os ventos; há sempre algum desejo que carrega, alguma conveniência que detém.” 

Planejou tudo, mas Rodolfo ciente da loucura desiste na ultima hora e escreve uma carta para Emma, quando ela recebe a carta seu mundo desaba. Ela sobe até o sótão olha a rua, se inclina pensando em tudo que viveu com Rodolfo e seu próximo passo é jogar-se no asfalto abaixo. Charles a chama e ela desperta, acaba de ser salva.

” …Procuro nos búzios e no horóscopo o resto da minha dignidade. Tento ser mais cética, mais durona, mas sou totalmente tendenciosa quando alguma coisa diz que eu posso ser feliz. É sempre mais fácil culpar o autosabotamento com signos do zodíaco ou algo que se preze, do que entender que você, independente de onde marte esteja neste exato momento, gosta de arrancar as próprias penas apenas para ver aonde dói. 

Gosta de se cutucar para ver aonde sangra, aonde incomoda, que parte do seu corpo sente mais falta dele, em que momento do dia você perde a razão, fica sem ar, o porquê grita tanto internamente ao ponto que se deita exausta de tanta coisa que é sua, mas que você não sabe lidar, e por isso é fácil apelar para o impalpável e para todas as superstições existentes para que tirem a culpa que você carrega de querer tanto ser como os outros, mas não é.
O amor que tanto se proclama, dessa busca e espera infindável, “que chegue e será bem vindo, que será esperado” que some em alguns meses, que se sobrepõe na esquina por um outro qualquer, por essa falta, esse buraco no estômago, essa fome de se sentir amado, de se sentir querido, de se sentir seguro, quando amor é nada além da sensação de estar caindo e não saber onde se segurar.
E por isso eu culpo toda e qualquer manifestação esotérica, pelo meu amor volúvel que vai para qualquer pessoa que me desperte algo que valha terminar o dia, e sendo assim é mais fácil despejar em alguma coisa impalpável a minha incapacibilidade de ser como o resto das pessoas.
Porque eu nunca tive motivos para acreditar em nada que dure para sempre. Porque eu sempre fui tocada pelas mais diferentes formas de vida e por qualquer frase um pouco mais inteligente, porque dói entender que a posição da lua não interfere no quanto eu morro um pouco todos os dias. Porque eu acredito em tudo e isso de não descartar nada, me faz voltar para casa depois de me apaixonar a cada esquina, e querer uma cama só.
Eu me machuco pra saber onde dói, mas hoje sei exatamente que parte de mim sente mais falta dele. Tudo.”

 O que acontece a seguir é que Emma entra em profunda depressão, Charles deixa seus pacientes de lado e dedica-se exclusivamente a ela. Cuida dela com todo carinho e toda preocupação. Meses depois Emma se apega a sua fé, a fé que conheceu em seu colégio de freiras e volta frequentar a igreja. Ela supera sua depressão e decide dedicar-se ao marido e a filha. Flaubert critica a igreja e seus costumes de maneira descarada e sem nenhum pudor.

 Um dia Charles decide leva-la para a cidade grande para assistir um musical que estava estreando, quando chegam ao teatro encontram com Leon, Emma logo pede para que charles a retire do teatro dando varias desculpas que não se sentia bem e pede para que possam ir a um lugar mais reservado.

Leon propõe a Charles que deixe Emma mais uma noite na cidade para que possa terminar de assistir a peça. Charles adora a ideia com toda ingenuidade que existe. A confiança e o amor  que Charles sente por sua esposa é evidente, na qual o leitor sente pena do pobre homem.

 Leon marca um encontro com Emma no dia seguinte, praticamente a arrasta para uma charrete e lá ela comete seu segundo adultério: se entrega a ele enquanto o cocheiro percorre as ruas da cidade. Depois disso Emma mente para Charles que esta fazendo aulas de piano para que possa ir encontrar-se com Leon.

“… Despia-se brutalmente, arrancando o fino cordão do seu corpete que lhe sibilava ao redor das ancas como o escorregar de uma cobra. Ia na ponta dos pés nus ver ainda uma vez se a porta estava fechada; depois, com um único gesto, deixava cair, juntas, todas as suas roupas; – e, pálida, sem falar, séria, abatia-se contra seu peito, com um longo estremecimento…”

 Logo seu fornecedor de tecidos e produtos bate a porta e diz que o momento de pagar o que lhe deve chegou. Emma então desespera-se, tem as horas contadas para pagar tudo o que deve e não tem dinheiro. Sua casa e tudo que Charles tem serão tomados e ela ficará na miséria. Emma descobre que Rodolfo voltou, engole seu orgulho e vai até sua casa dizer o quanto sofreu com sua partida e pede ajuda financeira, Rodolfo alega não ter. E realmente ele não tinha, sente até mesmo pena da pobre mulher e pensa que se tivesse realmente a salvaria.

Ela então vai visitar um rico banqueiro para pedir emprestado, ele porém faz uma proposta indecente e ela recusa, sua carne não estava a venda.

Resta apenas uma opção: Leon. Ela o procura e propõe que ele pegue dinheiro do cartório, ele recusa porém diz que irá tentar emprestar e manda que ela o espere até as 15 horas do dia seguinte. Leon não aparece. Charles ainda não sabia do que se passava porém uma carta foi colada em praça publica detalhando o julgamento que os Bovary iriam sofrer e toda cidade já sabia.

“…A loucura assaltava-a, teve medo e chegou a controlar-se, mas confusamente, é verdade; pois não lembrava a causa de seu horrível estado, isto é, a questão do dinheiro. Sofria somente em seu amor e sentia sua alma abandoná-la com aquela lembrança, como os feridos, ao agonizar, sentem a existência esvair-se por sua chaga que sangra.

A noite caía, algumas gralhas voavam…”

 Emma entra na casa do  farmacêutico, diz a seu filho que não diga a ninguém que ela está lá e explica que tem problemas com ratos em sua casa e precisa de algo para resolver isso. Quando o rapaz pega o pote de Arsênico ela enfia as mãos no pote e engole grande parte do veneno. Chega em casa escreve uma carta para Charles e pede para que não pergunte nada a ela e não leia a carta até o dia seguinte, achava que dormiria e morreria. Simples assim.

Algo que a atormentava era que sabia que Charles lhe perdoaria por tudo que fez e sendo assim preferia a morte, achava que ele era o culpado por sua vida infeliz e por suas aventuras.

 Mas de longe sua morte foi como imaginou. Emma sofreu muito antes de morrer, foram horas agonizando, tendo alucinações e gritando de dores. Charles sempre ao seu lado desesperadamente infeliz por não poder salva-la.

Depois da morte de Emma, Charles quase descobre uma de suas infidelidades quando encontra a carta de Rodolfo. Porém terminou por achar que eles tinham um amor platônico, jamais consumado. Acreditava que muitos a cobiçavam, afinal era uma mulher muito virtuosa. Mas ao abrir um dos compartimentos da gaveta de Emma que ainda estava fechado, encontrou as cartas de Leon e teve certeza. Revirou a casa todo louco de cólera, encontrou mais cartas de amor e uma foto de Rodolfo. Diante disso tudo, Charles entra em depressão e um dia Berta sua filha, foi chama-lo para brincar e quando se aproximou notou que estava morto.

Pobre Berta, nunca tivera o calor e carinho da mãe e agora não tinha mais o pai. Foi entregue a mãe de Charles, que morreu no mesmo ano e então foi entregue a tia de Emma que era pobre e então ela teve que trabalhar duro para ajudar com as finanças.

 E assim termina este clássico do realismo.

Gustave Flaubert levou 5 anos para terminar de escrever, por isso é uma obra prima. Ele detalhou cada narração de forma que quando lemos, tudo vai passando como um filme em nossa mente. A escrita de Madame Bovary foi uma maneira dele mesmo se encontrar. Quando a obra foi publicada em 1857, foi um escândalo e ele foi levado a julgamento por ofender os costumes Franceses e por suas criticas a religião.Madame Bovary, de Gustave Flaubert, além de causar furor na época, foi além e criou um novo estilo literário. Considerado a primeira obra-prima da ficção realista, Madame Bovary foi publicado em 1857, causando grande controvérsia.”  (http://pt.wikipedia.org/wiki/Madame_Bovary)

Recomendo também o filme de Claude Chabrol 1991. É muito bom e realmente lembra a obra escrita por Gustave Flaubert.

 

 

 

 

 

 

 

 




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