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Ilona e os fragmentos da lua

(escrito em 2010 para o blog O grito do pierrot)
Na praia, felizes, as crianças montavam seus reinos de areia, Ilona, uma doce garota, via todos aqueles castelos como um grande reino, de fato. Um castelo maior prosperava, outros, por ventura, eram destruídos pela água do mar que avançava, todas as casinhas, que não passavam morros de areia moldados por um balde, para a garota, formava a cidade. O castelo que ali reinava, construído por seu pai, refletia à luz da lua de uma linda noite de primavera. Era uma vez...

       Vestia-se com graça, como a Princesa que era, linda, ainda que fosse uma criança com um sorriso inocente e brilho nos Olhos. Passava boa parte do tempo sentada na sacada de seu quarto, onde podia sempre visualizar a lua no céu escuro que não havia estrelas desde o seu nascimento, exceto por uma grande e brilhante luz, a estrela d'alva. Por que não há mais estrelas no céu? - Ela se perguntava constantemente. Mas Ilona gostava da noite, a lua era sempre cheia, e durante os dias, a lua revelava outras faces. Aquele dia era seu aniversário de 12 anos, idade ideal para a consagração como princesa regente. Uma noite inteira de festas. Ao amanhecer, a princesa observou a lua mais uma vez, mas ela parecia triste, incoscientemente, a garota culpou a grande estrela que já roubava suas noite.
        O amor de Ilona pela lua parecia incognoscível, ao vê-la aparentemente triste, seus olhos enchiam de lágrimas. Ao observar a estrela d'alva todas as noites, seu coração parecia apertar. Um bufão daquele castelo amava Ilona assim como ela ama a lua. Ambos se divertiam, a princesa tinha um carinho especial pelo serviçal e adorava o chamar de bobo. Mas o bobo era capaz de ver a alma da garota, e, por saber de sua paixão, a presenteou com um brilhante colar de pérolas incomuns. Sorrindo, e com aqueles negros e grandes olhos, Ilona agradeceu pelo colar com um beijo no rosto do bufão - ela nunca se importou muito com os modos da realeza.
        O tempo é um mistério, lento ao seus olhos e rápido para sua mente, mas as vezes ele prega peças, é incompreensível. Ilona deixara de ser criança, nunca perdia o costume de observar a lua e a estrela, e naquela noite a princesa percebeu que a lua começava desaparecer do céu claro dando espaço para um brilho mais intenso da estrela d'alva. Ilona era forte, não ignorava suas razões para a felicidade, mas aquela angustia a tomava cada dia mais. Todos os meses o bufão a presenteava, um anel, um bracelete, tornozeleira, brincos, todos com a mesma pérola do colar de consagração, tudo em busca da felicidade da menina, parecia em vão. A garota guardava todos os presentes, agradecia, chorava.
         Sempre que um ciclo se completava a primavera presenteava a princesa com uma flor-de-lua. Aos 15 anos, Ilona era uma princesa à espera de seu príncipe, tornou-se uma linda mulher de cabelos longos e chacheados como uma cascata de ouro, olhos atentos, negros. Acordou feliz a ansiosa, esperando sua flor, correu para a sacada e ela não estava la. Olhou para o céu procurando a lua - assustou, a lágrima... impossível de se conter. 
          A lua não estava mais ali.
         Olhou para seu criado-mudo e percebeu que ali havia um pequeno embrulho, sabia que era mais um presente do bobo. Abriu delicadamente, a presilha de ouro brilhava e a pedra mostrava para Ilona, era a lua, ela sabia, como em todos os outros presentes.
        O bufão realmente amava Ilona, esta que agora tinha em suas mãos toda a lua. A garota chorava sempre, não compreendia, o coração pulsando em ritmo forte, inquieto, não compreendia. Como desejava, a cerimônia para seu noivado foi ao ar livre, no jardim do castelo à noite. Não queria aceitar o príncipe que a foi escolhido. A noite era marcada pela alegria de todo reino e a escuridão do infinito, não havia mais lua, mas Ilona desta vez sorria para a estrela d'alva que brilhava forte como nunca. Ao seu lado, também observando o céu, estava o bobo, e ao olhar para seus olhos, Ilona via os mesmos brilhos da estrela. Ela sabia, o bobo roubou seu coração.

- Minha querida, vamos embora? Está ficando tarde. - Sorriu para Ilona.
- Pai, o que significa meu nome? - indagou a garota com olhos de curiosidade. Seu pai apenas sorriu, abaixou-se e a abraçou apontando a lua que brilhava forte no céu em seu alegre sorriso minguante. - Filha da lua.


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