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Crítica: A Qualquer Custo (2016)



GUILHERME W. MACHADO


Menos é mais. Depois de uma temporada cujos grandes sucessos de público e premiação foram Mad Max: Estrada da Fúria e O Regresso, A Qualquer Custo vem a calhar como exemplo de um cinema que, mesmo transitando entre os gêneros de ação e western (embora não seja estritamente nem um nem outro), constrói seus atrativos justamente pela economia.  Não que exista um modelo melhor de fazer ação – gosto muito de grandes produções virtuosas –, mas às vezes algumas variações aparecem bem no momento certo, quando mais sentimos falta de algo, e o novo filme de David Mackenzie é um desses casos.

É fácil falar que o filme funciona tão bem nessa proposta por seus atrativos estarem mais direcionados aos seus personagens e ao lado dramático que acrescentam a obra, mas também é verdade que A Qualquer Custo acerta sim como filme de gênero. Mackenzie filma suas cenas de ação com muita parcimônia e precisão; o curioso, entretanto, é o quão bem ritmado o filme consegue ser (muito pelo bom trabalho de edição) SEM entrar naquele estilo à la Greengrass de ação hiper-decupada. A primeira cena, por exemplo, na qual a câmera acompanha de longe uma funcionária chegando para abrir o branco (e capturando ao fundo a calma vida de uma pequena cidade interiorana cedo na manhã), seguida por dois homens encapuzados que pretendem roubá-lo, estabelece imediatamente o tom do filme, que nunca é traído.

Acredito que seja a sadia mistura de gêneros e abordagens do filme que o conferem essa sua identidade que, embora não seja estritamente original, é seguramente própria e envolvente. Pode-se encontrar os roadmovies da virada dos anos 60 pra 70, os filmes de assalto a banco, os westerns, e até alguns toques estilo irmãos Coen (principalmente pelo uso pontual do humor numa história bastante séria). Por outro lado, A Qualquer Custo nunca parece uma salada de frutas, pelo contrário sempre se faz sentir como uma obra tão coesa na sua proposta (tanto estética quanto temática) que é difícil apontar-lhe defeitos.

O trio de atores é um destaque, e Jeff Bridges não tem dificuldades para encontrar-se nesse tipo de papel, mas quem realmente rouba os holofotes, tendo sido equivocadamente ignorado pelas premiações, é Ben Foster. É louvável a clareza com a qual ele apresenta seu personagem, que não cai naquele estereótipo raso de criminoso porra-louca que só busca adrenalina. Embora ele busque mesmo a ação, há duas esferas que o guiam: essa (ação), e o seu compromisso com a família. E isso aplica-se, na verdade, ao filme como um todo. A Qualquer Custo, dentre tantas coisas, é um filme sobre família, e, mesmo com todos seus outros atrativos, são essas relações que tornam a obra tão sincera e cativante de assistir.

Outro ponto chave do roteiro, e seguramente um dos pilares do filme, é a questão da crise. Taylor Sheridan (roteirista também de Sicario) aborda – às vezes com pouca sutileza, verdade – os impactos da crise financeira, e mesmo da pobreza de forma genérica, nessas partes menos visíveis dos Estados Unidos. A luta do personagem de Foster pode ser contra si mesmo, mas a do personagem de Pine seguramente é contra o sistema, contra o capitalismo oportunista dos bancos que mantém aquelas pessoas simples dependentes eternos de seus serviços por anos até que possam confiscar suas terras. O que torna o final a ironia perfeita: lutar contra o sistema só te leva até certo ponto, eventualmente ou você morre ou passa a fazer parte dele.

  NOTA (8.0/10):


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