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Alta Gracia, onde Che Guevara foi morar para respirar melhor

Quem visita meu blog, sabe que para mim, conhecer os lugares não é só visitá-los e tirar fotos, é saber como o lugar foi se constituindo, como as pessoas foram se agregando e deixando suas marcas, na arquitetura, na culinária, nas festas, nas devoções. Quando fiz o trajeto da nossa viagem pelo interior da Argentina, a cidade de Alta Gracia despertou minha curiosidade, pois fiquei sabendo que Che Guevara havia morado ali e tinha um museu dedicado a ele. Che Guevara me encanta desde minha adolescência, suas idéias, sua coragem e determinação, no final da ditadura militar, abertura política, ter um pôster dele na parede do quarto, era um sonho que passava na cabeça da moçada toda. Infelizmente não consegui colocar um no meu quarto, mas que sonhei, sonhei. Há poucos anos Walter Sales nos brindou, com o belo e delicado filme “Diários de motocicleta”, neste filme um Che Guevara sensível vai mostrando uma America Latina com desigualdades sociais, riqueza cultural e belas paisagens.Não resisti, fui ao cinema dois dias seguidos, chorei, chorei , chorei. O filme só aumentou o encanto e claro que viajando pela província de Córdoba eu iria até Alta Gracia,seria um prazer passar por onde Che andou, brincou, sonhou, além do mais a cidade tem também outros encantos, como a Estância jesuítica, o Museu Manoel Falla,o Tajamar e belos parques.

Estudando um pouco sobre a história da cidade, fiquei sabendo que antes da chegada dos espanhóis a região onde está localizada Alta Gracia se chamava Paravachasca, era habitada pelos Comechingones que estavam ali há mais ou menos 2500 anos. De estatura mediana, pele morena, habitavam casas subterrâneas, conhecidas como “casas pozo”, distribuídas em círculo. Eles usavam irrigação artificial no cultivo de milho, feijão e quinoa, trabalhavam muito bem a pedra e com ela fabricavam morteiros, pontas de flecha e outros instrumentos. As estátuas antropomorfas e zoomorfas de argila mostram uma arte primitiva e severa. Pouco se conhece de sua religião, se crê que eles cultuavam o sol e a lua.

Com o início da colonização espanhola na região, que todos sabemos ter sido sangrenta, onde milhares de nativos foram subjugados, o colonizador Jeronimo Cabrera (fundador de Córdoba) doou as terras da região a Dom Juan Nieto em reconhecimento por serviços prestados, o lugar passou a chamar Alta Gracia em homenagem a Nuestra Senhora de Alta Gracia, padroeira de Algarrovillas de Alconetas, cidade espanhola onde Dom Juan havia nascido. Durante anos a região ficou com apenas alguns poucos ranchos, o herdeiro destas terras Dom Alonso Nieto de Herrera as doou a Companhia de Jesus em 1643, quando nela ingressou, e ali foi criada a Estância Jesuítica de Alta Gracia que chegou a ter produção têxtil, produção agropecuária e principalmente comércio de mulas. Nesta época Córdoba era a capital da Província Jesuítica Del Paraguai, que compreendia os atuais territórios do Paraguai, Brasil, Uruguai, Bolívia e Argentina. A estância de Alta Gracia tinha como objetivo sustentar o Colégio Maximo de Córdoba, lugar da primeira universidade da Argentina e mantinha forte intercâmbio com as outras estâncias jesuíticas.

Outra curiosidade com relação a esta estância é que em 1810 o francês Santiago de Liniers a adquiriu. Este homem foi muito imortante para a história da Argentina, um francês que serviu ao lado dos militares espanhóis e que foi fundamental na recuperação do porto de Buenos Aires quando este foi invadido pelos ingleses em1806, por mérito ele se tornou virrey Del Rio de La Plata entre 1807 e 1809. Com a invasão da Espanha por Napoleão, o rei espanhol Fernando VII foi deposto e José Bonaparte foi proclamado rei. Apesar de lealdade a Espanha, Liniers foi retirado do cargo de Virrey por ser francês, nessa época é que ele comprou a estância e passou ali 5 meses com sua família. Em carta a amigo ele descreve esse período como de grande tranqüilidade. Tranqüilidade que durou pouco, pois com a Revolução de Maio de 1810, Liniers por sua fidelidade a Espanha, foi perseguido pelos patriotas(que lutavam pela independência da Argentina) sendo preso quando tentava fugir para o Alto Peru. Ele foi fuzilado por ordem da Junta de Maio, que com esse castigo pretendia assustar os contra-revolucionarios que não acatavam a autoridade do Primeiro Governo Patrio. Hoje a estância chama Museu Liniers, onde podemos ver as melhorias feitas por ele e mobiliário que pertenceu a sua família. Deixo ai o link para quem quiser aprofundar nesta história.

Depois que conhecemos a estância (museu Liniers), tomamos um café com média luna  olhando para a bela paisagem do Tajamar (um dique de 80 metros de largura) que enfeita a circunvizinhança do museu. Esqueci o nome do café, mas é bem encostadinho, na rua do lado do museu. E ai chegou a hora de rumarmos em direção a casa onde morou o camarada Che Guevara, como estávamos sem GPS, o mapa ajudou e claro alguns pedidos de informação no nosso espanhol, que tantas vezes parecia uma língua falada por ET, e sinceramente contrariando todas as expectativas achei os Argentinos muito gentis, o tempo todo facilitaram nossa viagem.

Enfim chegamos a Villa Nydia, casa construída em 1911, pela Companhia de Tierras y Hoteles,  e declarada Bem Patrimonial pelo Governo Municipal de Alta Gracia  em 2000. Em 2001 abre suas portas como Museu Casa del Che, porque a família Guevara residiu a maior parte dos onze anos que passou em Alta Gracia nesta casa. Che nasceu em Rosário em 1927, mas sua familia decidu mudar-se em 1932 para  Alta Gracia, buscando o clima seco e puro da bela cidade, pois o menino Che que tinha asma e seus pais buscavam soluções para evitar suas crises. Percorrendo as salas do museu vamos conhecendo a história de Che desde sua infância, quando era chamado de Ernestito e lia muito, além de praticar esportes como golfe, com grande tradição na cidade, e gostava também de jogar xadrez. Contam no museu que ele achava o chimarrão indispensável  na hora de jogar e dizia “Ë parte do jogo, há que tomar disso para lubrificar o cérebro e pensar melhor”. Continuando o passeio pelo museu encontrei-me com a motocicleta “poderosa II” retratada no filme Diários de motocicleta, tive de me conter para que meu respeito pelo acervo do museu falasse mais alto, mas confesso que tive vontade de subir nela, fechar os olhos e reviver cenas do filme que me marcou tanto, mas tive de fazer esta viagem de pé em frente a moto. Lá também fiquei sabendo que Che antes da viagem de moto com seu amigo Alberto Granado, havia percorrido 4000 km de bicicleta, esta com um pequeno motor, pelo interior da Argentina.

Em outros espaços do museu me emocionei com os textos de Che e principalmente com as cartas que ele escreveu a seus filhos quando foi para a Bolívia, linda também a que ele escreveu quando da morte de sua mãe. Lágrimas não me faltaram na visita, a família já conhece este meu lado dramático. Durante a visita é projetado um documentário de 20 minutos, bem interessante. O que não combina muito é o preço da entrada do museu, 75 pesos, nada socialista, mas achei interessante que lá não venda lembrancinhas. E mais contente ainda fiquei quando meu filho comprou um belo pôster do Che no Mercado de San Telmo em Buenos Aires, e vai pendurar na parede.

Amigos chegando ao fim da viagem, vale a pena conhecer Alta Gracia, após o passeio pela cidade, siga em direção a Villa General Belgrano( vila alemã, bem turística), no caminho você vai passar por uma região chamada Los Molinos, o visual é de babar. Dando dicas, o restaurante do Golf Club de Alta Gracia é muito recomendado, Calle Carlos Pellegrini 1000,tel-{(03547)425570.Em fevereiro na cidade acontece o Encuentro Anual de las Coletividades, cujo lema é “O mundo todo em Alta Gracia”, com jogos , espetáculos e muita gastronomia.

Já estou com saudades, ainda volto lá, êta mundão de meu Deus.Deixo vocês com trecho do filme Diários de motocicleta.

Roseli Cordeiro Pereira




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