A trajetória de Nicolás Blandi não é o que se possa chamar de um conto de fadas. Admirador de Hernán Crespo e Gabriel Batistuta, iniciou sua carreira no Boca Juniors, mas precisou logo sair para ganhar espaço. Naquela altura, a temporada 2010/11, o elenco xeneize ainda contava com a experiência de Martín Palermo, além dos gols de Lucas Viatri. Nico foi ao Argentino Juniors e mesmo lá não conseguiu o desempenho esperado, marcando só seis vezes em 27 jogos. Voltou e não se firmou. Precisou de tempo e de uma transferência para o San Lorenzo para desencantar.
Foto: Telam |
Adaptação difícil e passagem frustrante pelo futebol francês
Depois de marcar 20 gols em 61 jogos pelo clube de La Boca, Blandi foi vendido ao San Lorenzo, na metade da temporada 2013/14. Reserva na maior parte do tempo, seguiu para o bairro de Boedo para tentar recomeçar. Claro, era ainda jovem (24 anos), mas, tendo aspirações na carreira, não poderia mais esquentar o banco de reservas. O pior foi que sua contribuição inicial também passou longe daquilo que se esperava.
O atacante até fez parte do elenco que conquistou a Copa Libertadores da América em 2014, mas seu impacto foi diminuto. Marcou apenas um gol e sequer atuou nos jogos finais. Naquela altura, a titularidade cabia ao veterano Mauro Matos. Depois de viver um jejum assustador no início da temporada 2014/15, passando em branco em 14 partidas consecutivas e ficando na reserva no Mundial de Clubes, acabou emprestado ao Evian.
Foto: Diário Olé |
Na França, continuou a viver seu inferno astral. É claro que a fase do time, rebaixado ao final do Campeonato Francês, não ajudou. Mas a verdade é que seu desempenho seguiu pífio, além de ter tido problemas físicos. Em seis jogos, anotou um tento solitário e acabou voltando ao clube para a disputa da fase final do Campeonato Argentino de 2015.
O desempenho deu leves sinais de melhora, com o jogador encerrando a temporada com gols nas duas rodadas finais, contra os modestos Temperley e Atlético Rafaela.
O desempenho deu leves sinais de melhora, com o jogador encerrando a temporada com gols nas duas rodadas finais, contra os modestos Temperley e Atlético Rafaela.
“Ter ido à França me ajudou muito a entender algumas coisas, especialmente a valorizar o lugar em que estava. Estar em um grande clube como o San Lorenzo, que me dá a chance de disputar os torneios e atuar com jogadores de muita qualidade, estando a meia hora de casa, é algo importantíssimo”, revelou o jogador ao Clarín, em setembro de 2017.
Uma trajetória sólida que começa em 2016
Embora não tenha conseguido ajudar o San Lorenzo a fazer uma boa campanha na Copa Libertadores de 2016, caindo ainda na fase de grupos, Blandi finalmente teve o que comemorar com a camisa do Ciclón.
Em um daqueles campeonatos com fórmulas estranhas comuns ao futebol argentino, o San Lorenzo foi excelente na primeira metade do ano em solo doméstico. Líder do Grupo A, fez a final do Campeonato Argentino com o Lanús. Perdeu por 4 a 0, mas viu aquele jogador contratado para fazer gols balançar as redes rivais oito vezes, em 13 jogos.
Em um daqueles campeonatos com fórmulas estranhas comuns ao futebol argentino, o San Lorenzo foi excelente na primeira metade do ano em solo doméstico. Líder do Grupo A, fez a final do Campeonato Argentino com o Lanús. Perdeu por 4 a 0, mas viu aquele jogador contratado para fazer gols balançar as redes rivais oito vezes, em 13 jogos.
Foto: Evian |
Ele viveu um início de temporada perfeito, anotando quatro gols em suas quatro primeiras partidas. Além disso, teve boa prestação na Copa Sul-Americana, marcando cinco gols em oito jogos e ajudando o time a chegar às semifinais, perdendo para a heroica Chapecoense do saudoso goleiro Danilo.
Daí em diante, Blandi tem tido sempre bons números. No todo da campanha de 2016/17, treinado por Diego Aguirre, fez 11 gols em 23 jogos, aos quais se somaram mais cinco, em 10 encontros, pela Copa Libertadores de 2017.
Titular absoluto, manteve a boa forma no Campeonato Argentino 2017/18, balançando as redes nove vezes em 22 jogos e ajudando o San Lorenzo a terminar o certame na terceira posição, mais uma vez classificado para a Copa Libertadores.
O início brilhante no Campeonato Argentino 2018/19
Ainda vivo na Copa Sul-Americana corrente, em que Nico já fez três gols em quatro jogos, o San Lorenzo vive um momento instável no início do atual Campeonato Argentino. Mas só o clube, porque seu artilheiro — e agora também capitão — está on fire. São quatro jogos disputados, quatro empates e três tentos na conta do goleador. Após a última partida, contra o River Plate, o zagueiro millonário Jonathan Maidana afirmou: “Ele se antecipou bem no primeiro pau e não o paramos. Blandi é difícil [de marcar]”.
Hoje, os Cuervos têm várias referências, gente como Fabricio Collocini, Gonzalo Rodríguez ou Fernando Belluschi. Mas a maior delas, indiscutivelmente, tem sido Blandi. “Sempre trabalho para marcar e jogar a partida concentrado, com convicção”, disse o atacante após a referida partida contra o River.
Ele esteve perto de deixar o estádio Nuevo Gasómetro, inclusive especulado no Santos, mas ficou e dá continuidade a uma boa fase que já vive há um bom período. Nico demorou a engrenar, mas quando o fez…
Um tipo peculiar fora dos campos, praticante da leitura, culinária e pesca, interessado em psicologia e na advocacia, como já relatou aos periódicos Clarín e La Nación, Blandi precisou de tempo, mas encarnou as grandes qualidades dos bons centroavantes argentinos. Bom no pivô, poderoso na bola aérea e extremamente goleador — isso sem mencionar sua garra — Nico se confirmou um artilheiro formidável.