Depois de ver a contratação do brasileiro Malcom fracassar, a Roma rapidamente descruzou os braços e voltou ao mercado, na busca por reforços. Vem do Sevilla um grande nome para dominar o meio-campo Giallorossi. Campeão da última Copa do Mundo, o volante Steven N’Zonzi chega para assumir a titularidade da equipe. Aos 29 anos, vive o auge de sua carreira e se confirma a contratação de maior repercussão do ano romanista.
Foto: ASRoma.com |
As ideias de Eusebio Di Francesco
Desde seu trabalho no Sassuolo, tem sido bem fácil entender a forma com a qual o treinador da Roma, Eusebio Di Francesco, enxerga o futebol. Seu esquema tático de preferência tem uma defesa formada por quatro jogadores, um meio-campo com três peças capazes de desempenhar funções defensivas e ofensivas e um trio de ataque — apelando constantemente pelo uso de pontas. É um time moldado para o ataque.
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Em seu primeiro ano na capital italiana, o treinador acabou apostando, com frequência, no trio formado por Daniele De Rossi, mais recuado e centralizado, Kevin Strootman, um pouco mais à frente e à direita, e Radja Nainggolan, esse, sim, mais adiantado.
Com a mudança de temporada, esse quadro mudou e precisa ser reinterpretado. Primeiro, porque Nainggolan foi vendido à Internazionale. Em segundo lugar, em decorrência da evolução da idade de De Rossi e da queda de sua condição física. Já na última temporada isso havia sido detectado pela direção do clube, que contratou o francês Maxime Gonalons para disputar posição com o titular e capitão. Apesar disso, o jogador não correspondeu às expectativas e ficou claro que seria necessária outra contratação (Gonalons acabou emprestado ao Sevilla).
O atleta que chega para assumir esse papel é N’Zonzi. Embora o clube tenha trazido Bryan Cristante e já contasse com Lorenzo Pellegrini, nenhum desses tem as capacidades necessárias para exercer a função do líder. O grandalhão recém-chegado (1,96m) é o único que tem a aptidão para fazer o que Eusebio espera de seu primeiro meio-campista: organizar o jogo e circular a bola, tendo presença física e grande capacidade de recuperação de bola.
Novo eixo com diferentes características
Por mais que N’Zonzi seja a reposição a De Rossi, ele não é De Rossi. O francês vem para assumir a titularidade do capitão. Pelo menos na teoria, já que: 1) moralmente, o italiano sempre será considerado um titular; e 2) em alguns momentos de sua carreira, Steven já atuou ao lado de outro volante (ex: com Grzegorz Krychowiak, no Sevilla) — apesar disso, em esquema tático 4-2-3-1, o que pode até acontecer na Roma, mas não é a tendência.
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Outra diferença sensível entre os dois são os passes. Steven acerta, em média, mais toques do que o capitão Giallorossi. Apesar disso, é preciso saber o tipo de bola que tem sido entregue aos companheiros.
Nas últimas duas temporadas, em comparação, o volante francês efetuou mais passes por jogo e com índice de precisão melhor, mas a maioria deles é curta e pelo chão. Por sua vez, o italiano faz pesada aposta nos passes longos. Na última temporada, foram mais de seis por jogo, em média. O nível de dificuldade desses é muito maior, o que interfere diretamente nos números.
Ou seja, N’Zonzi circula melhor a bola, mas faz menos passes de ruptura, aqueles que ajudam a desconstruir o sistema dos adversários e colocar os companheiros em melhor condição no ataque. Tudo isso faz muita diferença. Mesmo porque, essa não é a única mudança pela qual passa o meio-campo romanista: mais à frente, o time perdeu a fisicalidade, energia e agressividade de Nainggolan. Sua vaga deve ser ocupada pelo argentino Javier Pastore, que tem muito mais técnica, mas contribui menos defensivamente.
Adaptações à vista?
Parece claro que as contratações de N’Zonzi e Pastore têm como intuito o aprimoramento do toque de bola. Mesmo porque a peça que deve conservar a titularidade, Strootman, tem no passe uma de suas melhores qualidades — o que lhe rendeu o apelido de “Máquina de Lavar”, atribuído por seu ex-treinador, Rudi García. Ele dizia que o holandês recebia a bola suja e a entregava limpa a seus companheiros.
Embora Di Francesco admita que pode utilizar N’Zonzi e De Rossi juntos, isso importaria a mudança do time para um esquema 4-2-3-1, o que não é algo esperado, mas pode acabar acontecendo.
O treinador já disse: “não sou um fundamentalista” (a referência feita é à preferência pelo 4-3-3). A adaptação poderia explorar o que a dupla tem de melhor e daria mais segurança a Pastore, mas forçaria a saída de Strootman, perdendo-se sua capacidade de ligar os setores defensivo e ofensivo. Ou seja: como tudo, acomodar os dois importa ajuste e tem prós e contras.
A despeito disso, sobretudo considerando o momento da carreira de De Rossi, sua presença deve acabar sendo reservada aos jogos de maior competitividade e exigência física. Tanto em razão de suas características quanto em função de sua imposição moral e ascendência sobre o elenco. N’Zonzi, que vive seu auge, deve ser mais acionado. Mas tudo é uma questão de uso equilibrado do elenco, que ganhou profundidade. A contratação é mais uma boa tacada do diretor Monchi.