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A grande provação na grande tribulação


Muitos de vocês sabem que eu sou pós-tribulacionista e que tenho um livro sobre o tema – "A Igreja na Grande Tribulação", onde argumento, como o título sugere, que a Igreja passará pela grande tribulação. Dias atrás eu estava assistindo a uma pregação do Pr. Paulo Junior sobre escatologia (essa aqui), a qual eu concordei em grande parte e discordei de alguns pontos, e me surpreendeu um argumento que ele deu em favor do pós, baseado em Apocalipse 3:10, que fala da “hora da provação que está para vir sobre todo o mundo, para pôr à prova os que habitam na terra” (Ap 3:10). Ele observou que o termo “provação” na Bíblia sempre se aplica a crentes, nunca a ímpios.

É um argumento bem simples e objetivo, embora eu nunca tivesse pensado nisso, mas faz todo o sentido. De fato, o básico da teologia sistemática é que Deus prova a crentes, e não a pessoas do mundo. Ele não vai provar muçulmanos ou ateus que não tem nenhum compromisso com ele. Ele prova a Igreja. Se isso é verdade, então temos aqui um argumento bem simples, claro, direto e objetivo que prova que a Igreja estará na grande tribulação para ser provada por Deus, para passar por este último e final teste de fogo. Mas é claro que antes de sair concluindo isso eu fiz questão de fazer uma pesquisa nos termos originais e uma exegese em torno dos mesmos, para não correr o risco de me precipitar e argumentar algo que parece totalmente verdadeiro, mas que pode não ser.

Descobri que em Apocalipse 3:10 duas palavras gregas são usadas para provação, uma na parte que fala da “hora da provação”, e a outra na continuação que diz que ela viria para “pôr a prova” os habitantes da terra. Na primeira parte é usado o termo peirasmos, e na segunda é usado o termo peirazo. Como já parece evidente, os termos são sinônimos no grego, de acordo com a Concordância de Strong. Sabemos que o grego koiné era um idioma pobre onde muitas vezes uma mesma palavra podia ter significados diferentes dependendo do contexto, na falta de uma outra que designasse o contrário. Por exemplo, o grego não tinha diferença entre “mulher” e “esposa” – era gune que aparecia sempre que um autor falava de uma ou de outra, e os tradutores tem que entender pelo contexto se está falando de uma esposa ou de uma mulher que não é a esposa.

Da mesma forma, os dois termos aqui tratados (peirasmos e peirazo) podem significar “provação” e também “tentação”. Sim, o grego não tinha palavra que distinguisse uma coisa da outra, embora os escritores bíblicos soubessem perfeitamente bem que se tratavam de coisas distintas. Tiago, por exemplo, diz que Deus a ninguém tenta (Tg 1:13), mas na Bíblia Deus coloca pessoas à prova o tempo todo. Tentação é uma forma de tentar levar a pessoa ao pecado, geralmente causado pelo diabo, enquanto provação é a ação de colocar alguém à prova para testar a fidelidade dessa pessoa, o que na Bíblia é feito por Deus, embora às vezes o termo ocorra em relação a pessoas colocando Jesus à prova de forma maldosa (Mc 8:11; Mt 19:3).

Aqui não irei analisar as ocorrências do termo no sentido de tentação, porque não é este o sentido de Apocalipse 3:10. Analisei todas as ocorrências dos termos no Novo Testamento quando no sentido de provação e o resultado foi o seguinte:

• Jesus provando [peirazo] seu discípulo Filipe (João 6:6).

• Abraão foi provado [peirazo] por Deus (Hebreus 11:17).

• Os profetas foram postos à prova [peirazo] por Deus (Hebreus 11:37).

• Supostos apóstolos foram provados [peirazo] também (Apocalipse 2:2).

• Os crentes da igreja de Esmirna também foram provados [peirazo] (Apocalipse 2:10).

• Há crentes que desistem na hora da provação [peirasmos] (Lucas 8:13).

• Os apóstolos permaneceram ao lado de Jesus durante as suas provações [peirasmos] (Lucas 22:28).

• Paulo foi “severamente provado [peirasmos]” (Atos 20:19).

• Os cristãos da Galácia foram provados [peirasmos] (Gálatas 4:14).

• O que persevera na provação [peirasmos] recebe a coroa da vida (Tiago 1:12).

• Os cristãos deveriam ser entristecidos por um tempo, por “todo tipo de provação [peirasmos]” (1ª Pedro 1:6).

• Os cristãos estavam sendo provados [peirasmos] pelo “fogo” (1ª Pedro 4:12).

Essas são todas as ocorrências dos termos no Novo Testamento, no sentido de provação. Como é bastante claro, nunca um descrente é provado. Não há qualquer ocorrência do termo na Bíblia onde os pagãos são colocados à prova. Isso sempre diz respeito ao povo de Deus, ou pelo menos àqueles que se dizem de Deus. Alguns (como Abraão) são provados e provam sua fidelidade a Deus, enquanto outros (como Saul) são provados e não resistem à prova. Um cristão verdadeiro pode ser posto à prova e mostrar a genuinidade de sua fé da mesma forma que um falso cristão pode ser posto à prova e mostrar que sua fé é falsa, mas note que em todos esses casos é alguém inserido no contexto do povo de Deus (i.e, Israel na antiga aliança e a Igreja na nova) que é posto à prova. Nem mesmo teria sentido testar um ímpio que nem sequer alega ser cristão, uma vez que a prova é para aqueles que estão “dentro”, não para aqueles que estão “fora”.

Para tentar deixar este conceito mais claro, pense numa prova de escola. O professor passa a prova para os seus alunos,mas ele não pode passar a mesma prova para alguém de fora (de outra turma, ou alguém aleatório de fora da escola), porque alguém de fora não estudou as matérias e nem tem essa obrigação, ele não está matriculado no curso, então não faz qualquer sentido aplicar a prova a ele. A prova é aplicada a quem está “dentro”, a quem precisa provar que tem aquele conhecimento que sustenta possuir e que deveria ter por meio das aulas e das atividades, e não a quem está “fora” e não precisa provar nada a ninguém.

Da mesma forma, quando Deus põe alguém à prova, é para provar que a pessoa em questão é mesmo fiel a Ele, e esse tipo de prova não tem qualquer sentido a um ateu, muçulmano, budista ou a qualquer pessoa totalmente distante dos círculos cristãos, ou seja, a pessoas que não estão na fé e por isso não precisam ser testadas, porque já se sabe que não estão na fé. Não tem sentido nenhum Deus pôr um ateu à prova, como se estivesse dizendo: “Prove a sua fidelidade a mim”, quando o ateu já não crê em Deus e por isso não tem que provar nada (se tivesse que “provar” algo, seria sua descrença e não a sua crença!).

Claramente na Bíblia a provação sempre tem o sentido de pôr a prova alguém em sua fidelidade a Deus, e não em relação a qualquer outro tipo de prova. Portanto, o texto necessariamente se aplica à Igreja. É inócuo e sem sentido afirmar que essa grande provação apocalíptica viria em sua grande maioria a ateus, irreligiosos e pagãos como um todo, mas não à Igreja, quando isso no Novo Testamento sempre se aplica somente à Igreja visível.

Assim fica muito mais fácil compreender a grande tribulação. Pré-tribulacionistas costumam argumentar que não teria sentido Deus derramar a sua ira sobre a Igreja, e como o Apocalipse é o derramar da ira de Deus, então a Igreja teria que estar livre. Este pensamento não deixa de ser lógico e coerente, mas ignora um fator essencial, que é o fato de que a tribulação não é apenas o derramar da ira de Deus, mas também a grande provação final da parte de Deus. Desde Abel e Caim o povo de Deus é provado, ocasião na qual Abel foi aprovado e Caim foi reprovado. Depois disso os patriarcas foram provados (vide a história de Jó), os israelitas foram provados, e os cristãos foram provados mais do que todos, especialmente nos primeiros séculos onde tinham que provar sua fidelidade a Cristo diante da morte.

Cristãos eram perseguidos, aprisionados, espancados, torturados, queimados, decapitados e crucificados pelo nome de Cristo. Quem não reconhecesse o César como o kurios (Senhor) era considerado um fora-da-lei e uma ameaça ao Estado. Por causa disso os cristãos tinham que se reunir escondidos em casas, e nem assim eram poupados do suplício – consta que pelo menos onze dos doze apóstolos foram martirizados por causa de sua fé. Em meio a toda essa perseguição violenta, Pedro escreve dizendo que os crentes se entristeceriam por “todo tipo de provação-peirasmos (1Pe 1:6), mas explica no verso seguinte a finalidade dessa provação:

“Assim acontece para que fique comprovado que a fé que vocês têm, muito mais valiosa do que o ouro que perece, mesmo que refinado pelo fogo, é genuína e resultará em louvor, glória e honra, quando Jesus Cristo for revelado” (1ª Pedro 1:7)

É essa a finalidade maior da provação: para que por meio dela possamos nos tornar crentes melhores e mais maduros, com a fidelidade a Deus provada por meio do “fogo” (um símbolo das perseguições). Agora pense no seguinte: os cristãos dos primeiros séculos já eram severamente provados por meio da perseguição severa do Império Romano, e João no Apocalipse nos diz que a grande tribulação será uma grande provação final. O que entendemos por isso? A resposta é óbvia: na grande tribulação, a provação que já existia naquela época seria intensificada em uma última provação final que testaria a fidelidade da Igreja.

E note que Deus nunca poupou os cristãos da provação por meio de severas perseguições, ele nunca os tirou do planeta em um rapto secreto para impedir que isso ocorresse. O próprio Senhor Jesus falou ao Pai que não rogo que os tires do mundo, mas que os protejas do Maligno” (Jo 17:15). Levando em conta que a tribulação apocalíptica será a maior de todas as provações e que essas provações sempre se aplicaram ao povo de Deus em todas as épocas, é evidente que na grande tribulação os cristãos passarão por uma prova final de fidelidade a Deus.

Não serão os ímpios pagãos e mundanos que serão provados, seremos nós, a Igreja. Eles serão apenas castigados (derramamento da ira de Deus), mas a provação é para nós. Se a Igreja “perfeita” primeiro século, muito mais próxima da verdade e guiada pelos próprios apóstolos mesmo assim precisava passar pelo fogo para ser refinada e aperfeiçoada (1Pe 1:6-7), imagine então a Igreja moderna, cheia de defeitos e desvios de todas as naturezas.

Para entender como este conceito funciona, pensemos em outra analogia. Suponhamos que você tenha dois filhos, um bastante rebelde e desobediente, e outro amável e obediente. No entanto, esse outro filho (assim como o primeiro) passa o dia inteiro na internet e jogando vídeo game, o que você a princípio não proíbe, mas suspeita que a fidelidade deste filho se deva exclusivamente a isso, e que se tira ou limita esse benefício ele mostraria a sua verdadeira face e passaria a desobedecê-lo como o outro filho, mostrando que sua bondade aparente era apenas por interesse, e não por realmente amá-lo e respeitá-lo. Você compreende então que o primeiro filho (o rebelde) precisa ser punido, e o segundo filho (o obediente) precisa ser provado. Então você toma uma decisão: irá cortar a internet e o vídeo game da casa por uma semana. Isso será ao mesmo tempo a punição que o primeiro filho merece, e o teste que o segundo filho precisa passar.

Essa analogia pode não ser perfeita, principalmente porque aos olhos de Deus os ímpios não são seus “filhos”, mas apenas criaturas. No entanto, serve para ilustrar bem o ponto em questão. Os cataclismos que afetarão a terra acometerão a ímpios e justos por igual, mesmo porque evitar isso seria impossível, uma vez que os cristãos estão espalhados em todas as partes do mundo. Não obstante, para os ímpios eles vêm como um derramar da ira de Deus, uma forma de castigo e condenação, enquanto para os justos é a provação final da fidelidade a Deus. Será para mostrar quem está com Ele por interesse, só porque cobiça bens terrenos, e quem está com Ele por aquilo que Ele é.

Este conceito não é novo. Paulo disse para os cristãos de Roma se sujeitarem às autoridades romanas, porque elas eram um “agente da justiça para punir quem pratica o mal” (Rm 13:4). Isso não deixa de ser surpreendente: aquela mesma instituição malévola e tirânica que servia para caçar e executar cristãos tementes a Deus por sua fidelidade a Jesus, também era usada por Deus para punir os ímpios que praticavam o mal! E muitas vezes a forma de punição era exatamente a mesma, como a prisão, os açoites, a crucificação e a decapitação. Ou seja: um mesmo evento poderia ser ao mesmo tempo uma punição para os maus e uma provação para os ímpios. Ao castigar um ímpio, Deus estava usando o Império Romano para executar sua ira, e ao castigar um crente pelos mesmos métodos Deus estava usando o Império Romano não para punir quem não praticou mal algum, mas para provar a fidelidade da Igreja.

Este conceito pode parecer chocante nos tempos modernos, a uma Igreja tão acostumada a focar apenas nas coisas terrenas e nos bens materiais, na “vitória”, na “prosperidade” e na “bênção”, e não é à toa que a teoria do arrebatamento secreto alcançou tanto sucesso de forma tão rápida, justamente numa época em que a Igreja adormeceu e esqueceu o que é provação de verdade, como aquela que os primeiros cristãos sofriam. É compreensível o porquê que cristãos que não querem nem pensar em tribulações aceitem com tanta facilidade uma teoria antibíblica que alega que seremos magicamente tirados do planeta para não passarmos pela maior de todas as tribulações que os crentes já passaram. Mas para a mentalidade dos cristãos primitivos, isso era mais que compreensível: era o que eles viam e viviam, era o que testemunhavam e testificavam. Era a provação em meio à tribulação, que em breve se tornará a grande provação na grande tribulação. 

Paz a todos vocês que estão em Cristo.

Por Cristo e por Seu Reino,
Lucas Banzoli (www.facebook.com/lucasbanzoli1)


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