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“De uso exclusivo das Forças Armadas”

Desde que eu me entendo por gente (bota aí meados pro final dos anos 1980), quando eu era criança pequena – lá em Niterói, não em Barbacena -, cresci ouvindo rádio AM. Mantenho o hábito, mas há muitos anos só tenho paciência para os programas sobre futebol (e, mesmo assim, nem sempre aguento a quantidade de idiotices faladas por minuto nas mesas redondas). Os aparelhos da casa estavam sempre ligados na Rádio Globo. A família ouvia o Show do Antonio Carlos todas as manhãs – com algumas das figuras que estão nele até hoje, como a Zora Ionara.

Na programação esportiva da Rádio Globo havia muitas entradas de um repórter policial, Alberto Brandão (que depois foi para a Tupi, como parece ter acontecido com muita gente). A forma e o conteúdo das notícias que construía, quando se tratava de autos de resistência, casavam com a descrição que, anos depois, eu veria descrita, destrinchada e criticada no excelente Rota 66, do Caco Barcellos. Óbvio que só fui me dar conta disso já adulto, após ler o livro.

Mas não é disso que eu queria falar. Quando tratava de apreensão de armas com criminosos, o repórter nomeava as armas, informava os calibres e os tipos de munição. E, com certa frequência, destacava, ao se referir a certas armas e/ou munições: “de Uso Exclusivo Das Forças Armadas”. Naquela época, criança/adolescente, eu não atentava para o quanto de informações sobre o mundo real do crime organizado no Rio de Janeiro havia nessa expressão.

Posso estar enganado, mas acho que a expressão também aparecia em outras matérias policiais da época. Aliás, naquele tempo, os veículos e corporações de mídia não ocultavam nomes de torcidas organizadas violentas; nem de redes de solidariedade no crime (vulgo “facções criminosas”) criadas e fortalecidas nas cadeias, sob responsabilidade do Estado. (Deixando claro: provavelmente o jornalismo das corporações de mídia, na época, era tão ruim quanto o de hoje. Não estou aqui sendo saudosista de um jornalismo sem notícias mentirosas/fake news. No universo dos oligopólios de mídia brasileiros, isso nunca existiu.)

Já em meados da primeira década do século XXI, fui esbarrar com o mesmo repórter fazendo o mesmo tipo de reportagem na Rádio Tupi. Forma e conteúdo permaneciam os mesmos – ao menos soavam assim para mim. Mas a expressão mágica “de uso exclusivo das Forças Armadas” desapareceu. Desapareceu, me parece, não só das reportagens dele, mas da cobertura de crime em geral.

Aonde quero chegar? Parafraseando Elio Gaspari, Eremildo é um idiota. Ele acredita que a expressão desapareceu porque membros das Forças Armadas – especialmente no entorno da Baía de Guanabara – não transam mais armas, munições y otras cositas más com a bandidagem atuante em terras fluminenses.

*  *  *

Da série “não custa perguntar”: quando é que o Tribunal Superior Eleitoral vai decidir a respeito do recurso da chapa Pezão/Dornelles, já cassada pelo TRE/RJ? Depois que o mandato acabar, tipo processos de Romero Jucá e colegas peemedebistas, tucanos e pefelinos no Supremo Tribunal Federal?

A postura é previsível, considerando o que são o Judiciário e esse tribunal. Velocidade e prioridade inversas às que tiveram quando se tratou de referendar a cassação de Jackson Lago (PDT) do cargo de governador do Maranhão por abuso de poder econômico (sic). Com a medida, Sarney filha voltou a morar no Palácio dos Leões, aquele belo imóvel estatal que, para uma certa família, é como se fosse propriedade privada.



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