Dia 24 de março, Maria Amélia Bulhões, professora do Instituto de Artes Visuais da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, publicou em sua coluna no site Sul 21 uma tentativa de elucidar algumas coisas com respeito à Arte contemporânea. Antes de avançar neste texto, sugiro que você leitor dê uma olhada no texto dela, neste link.
Como disse ali em cima, o texto - me parece - é uma tentativa de elucidar algumas coisas a respeito dessa arte e de desfazer alguns mal entendidos. Apesar de fazer algumas definições acerca do conceito, não justifica nenhum - ou melhor, não responde a nenhum - "por quê?". Que "cozinhar para o público na Bienal de Veneza pode ser um ato artístico, como fez Rirkrit Tiravanija, assim como colocar uma montanha de batatas apodrecendo em uma galeria, como propôs Agnes Varda" não me diz nada além de que isso PODE SER arte; não me diz porque isso é. Que se "propõem rupturas com o sistema da arte, e este, por outro turno, vai aos poucos incorporando tantas e diferentes propostas que fica difícil determinar seus contornos" não determina ainda o que é ou não arte, nem ensaia uma espécie de cadeia reacionária em relação ao momento artístico anterior - me parece, inclusive, fazer justamente o contrário, deixar o conceito ainda mais indefinido. O texto, a meu ver, se propõe a levantar questionamentos, apontando para algumas possibilidades de respostas na tentativa de esclarecer o conceito de arte contemporânea - e nisso ele é um texto bom - mas ele não passa disso e não responde a pergunta sobre o que, afinal, é arte contemporânea, só assumindo que algumas coisas podem ser - apensar de indicar um link com alguma informação básica sobre isso. Enfim, como eu já disse em posts anteriores, Assim, propus uma resposta ao post dela, a qual transcrevo aqui (e como é uma resposta em um post, procurei não me alongar muito e fiz algumas ressalvas extras aqui no blog mesmo, o que vocês acabaram de ler):
**Não creio que o artista precise ser um gênio criador, mas, como criador de algo - mesmo que não genial, no sentido romântico da palavra - ele precisa estabelecer uma linguagem, um tipo específico de comunicação com o seu público, coisa que em muitos casos que vemos em museus e galerias de arte, não acontece. Talvez o problema não esteja na arte em si, no meio dessa comunicação, mas na relação entre os comunicantes, ou seja, entre artista e público. É preciso que se desenvolva a sensibilidade para uma análise da obra - ou seja, a obra de arte não é necessariamente identificada como tal; no entanto, a obra de arte é produto - e, portanto, reflexo - do artista (a menos que ela seja uma obra de arte alienada, cujo resultado é totalmente diferente da intenção do artista). Então, se a obra é de difícil acesso - em alguns casos, quase impossível - o artista não está sendo claro, de certa forma, consigo mesmo, isto é, ele não sabe o que está fazendo e com que propósito. Também não estou dizendo que a obra seja de "propriedade" exclusiva do artista; boa parte do seu significado se adquire na relação desse com o público. E, também por isso, se para o público - para o que tem minimamente a sensibilidade desenvolvida - a maioria das obras não tem muito significado, então há alguma coisa de errado nas escolhas do 'complexo artístico' caracterizado como "marchands, curadores, administradores de museus, críticos, fundações, agentes de arte, investidores, jornalistas e até produtores culturais, que substituem muitas vezes os críticos e os historiadores da arte". Ainda acho que sim, a arte pode impactar, mesmo "num mundo em que as mídias atordoam os olhares com imagens", se essa arte estiver falando sobre esse mundo. As pessoas andam sedentas por coisas que façam sentido e seria incrível que a arte que seja exposta em museus pudesse ser desse tipo.**
