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Lições do Caminho Partido: A incerteza como Aliada

Lições do Caminho Partido: A incerteza como Aliada


(Pintura do artista Takato Yamamoto)

Eu fico com você agora, meu amigo
Minha língua de navalha está lambendo suas bochechas rosadas
e orelhas feridas.
Eu sussurro segredos sórdidos que não são verdadeiros, nem falsos

(1)

Tenho passado mais tempo observando as pessoas do que interagindo tanto com elas. Claro, tenho passado muito menos tempo na internet e focado em mais coisas do meu dia-a-dia e daquilo que me importa.

De certa forma, tenho ignorado cada vez mais as pessoas que me aborrecem ao invés de entrar em atrito direto e resolvido as coisas com mais calma e jeito do que com truculência, intimidação ou argumentações incisivas. Não que nada anteriormente não fosse eficaz, sempre deu certo de uma forma ou outra, mas acho que com os anos nossas prioridades mudam…e mudam muito. Agora vejo melhor do que nunca a total perda de tempo em discutir certas coisas ou de insistir em algum assunto, discussão ou problema: as coisas podem ser muito mais simples e certas coisas não valem realmente o meu esforço.

É a mesma coisa com “inimigos” (acredito que não tenha…ao menos declarado rs): não tenho inimigos, pois não dou essa honra para qualquer um. Gente que não gosta de mim? deve ter vários. Gente que quer meu mal? provavelmente tem. Mas isso não é um inimigo, é só alguém que não gosta de você. Também tem gente que não gosto – e que apenas ignoro.

Caso eu considerasse alguém como meu inimigo, eu deveria agir rapidamente, pois reconheceria que essa pessoa poderia representar algum perigo para mim.

Nomear alguém como seu inimigo é atribuir valor a essa pessoa. Gente medíocre tem muitos inimigos, gente fraca também.

Sempre vejo muitas pessoas brigando via internet por causa de assuntos completamente irrelevantes. Se importando com coisas que nem mesmo afetariam suas vidas, nem mesmo indiretamente. Logo, qual o objetivo? nenhum, apenas a discussão. E normalmente as brigas se dão pelas certezas. Isso mesmo, pelas certezas individuais.

Nas minhas andanças pela Estrada de Espinhos (2), consegui perceber e venho percebendo cada vez mais um problema que é inerente a humanidade e que foi intensificado pelas religiões, principalmente pelas grandes religiões ao longo da História: Certeza.

Sim, certeza. Não de uma forma literal em todas as situações, mas de cada pessoa defender de forma inflexível sua própria visão de mundo.

Quando temos certeza de algo, fechamos muitas portas com muitas possibilidades. A certeza é boa no que diz respeito a nós mesmos, ou ainda quando sabemos ser comedidos. Isso não quer dizer falta de comprometimento, mas sim, de não se deixar levar completamente por uma hipótese.

Quando fazemos um ritual, feitiço ou qualquer coisa do gênero, temos a mais absoluta certeza do que estamos fazendo, afinal, isso é uma das chaves para nosso Poder.

A certeza de que falo é a certeza de como funciona o mundo.

Quanto mais conhecemos sobre o mundo, mais entendemos o quão pouco sabemos, pois isso expande nossa percepção e isso nos possibilita a enxergar mais longe e perceber que ha muito o que conhecer.

É como alguém preso num quarto, achando que o mundo é o quarto, pois tudo o que a pessoa conhece é o quarto. Quando abre-se a porta e ela vê uma sala, maior do que o quarto, ela descobre um mundo novo, maior, diferente, com mais possibilidades. Depois ela passa a outros cômodos e, mesmo ela achando agora que sabe demais porque ela descobriu que seu “mundo” é muito maior (porque ela já descobriu toda uma casa), ela passa para a porta de saída da casa e descobre que ha mais casas, como a dela, como seu mundo, até onde sua visão contempla. Além disso, ela vê carros, ônibus, bicicletas, outras pessoas, árvores, prédios…ela enxerga até o horizonte e se dá conta do quão pouco ela conhece… quando essa pessoa caminhar mais e mais, irá descobrir bairros, cidades, Estados, Países, continentes, Oceanos… até descobrir o Planeta e passar ao universo… e pensar que tudo começou quando ela pensava que o mundo era apenas seu quarto…

Para quem conhece, é disso que se trata o Mito da Caverna de Platão.

Chega um determinado momento na vida daqueles que trilham o Caminho Partido, em que a realidade em si é contestável. A forma de vida, o sistema, as escolhas.

Descobri que a incerteza pode ser minha companheira. Uma vez pensei num aforismo o qual publiquei num texto daqui do blog (não lembro qual) onde eu disse que “Apenas os ignorantes tem certeza de tudo. O sábio é aquele que sempre possui dúvidas”. Tal pensamento veio de situações cotidianas, lidando com pessoas completamente crédulas em suas ideias, tão infantis quanto de qualquer outro ignorante por igual. Havia apenas uma (pobre) argumentação, não havia o mínimo de interesse em nada além do que me convencer (no caso, convencer a ele mesmo) do que dizia…

Por conta dessa pessoa, tão ignorante e tão preocupado em parecer inteligente, fiz outro aforismo: “Não ha nada pior do que um ignorante com o vício de falar: verborragia deveria ser um defeito apenas dos gênios”.

Engraçado o quanto uma pessoa sem o mínimo de importância conseguiu chamar minha atenção naqueles poucos anos de convivência. Pelo menos serviu para eu entender um pouco mais sobre os tipos de ignorantes e de como as pessoas um geral são tão parecidas em nunca buscar nada de importante ou relevantes para elas mesmas. Ao menos, de alguma forma, essa pessoa foi útil para algumas reflexões.

A ideia da incerteza é a de estar sempre com a amente aberta para novas possibilidades, sejam quais forem, mesmo que sejam absurdas do estilo teoria da conspiração.

Devemos lidar com aquilo que nos é apresentado. Não ha problema em descobrir coisas novas, mesmo que absurdas. O melhor a se fazer é se prontificar em como agir diante da nova situação, só isso.

Já falei para pessoas próximas que se um dia descobrisse que os Deuses Antigos (ou os novos, como o deus dos cristãos) eram na verdade pessoas de outros planetas, ok, iria lidar com aquilo que iria estar vivenciando ao invés de surtar ou negar. Se fosse levado numa nave espacial do nada e descobrisse que a terra é uma colônia ou sei lá…Qualquer possibilidade, pois mais absurda que seja, merece um mínimo, nem que seja realmente o mínimo, de consideração de um “e se”. E então, a partir daí, como lidar.

Isso ajuda a entender as diferentes visões que nos é apresentada em  todos os sentidos, tanto no dia-a-dia, quanto nas relações interpessoais.

imagine uma árvore: se temos três pessoas, cada uma delas estará vendo um ângulo diferente daquela árvore, portanto, temos 3 descrições diferentes (mesmo que possam ser similares) da mesma árvore. Agora imagine que essas 3 pessoas estejam olhando para pontos diferentes dessa mesma árvore: a descrição será ainda mais diversificada, mas será ainda a mesma árvore. Agora imagine que uma pessoa disse para elas pensarem em uma árvore e descreverem-na: cada uma dessas 3 pessoas iria pensar em árvores diferentes…descrever partes diferentes, de formas diferentes. É… é assim com quase tudo na existência, não só árvores. E isso porque estamos falando de algo que é objetivamente concreto para as 3 pessoas e que todas conhecem. Agora, imaginem partir de situações diferentes, com coisas que nem todas elas conhecem ou são familiarizadas? imaginem experiências diferentes? crenças diferentes? convicções diferentes? exatamente isso, caos. Se todos os 3 possuírem certeza absoluta de tudo, provavelmente haverá discussão, agressividades ou morte. Te lembrou alguma coisa?

De qualquer forma, descobri que ter dúvidas é bem mais lucrativo do que ter certeza. Fa muito tempo que enxergo as coisas dessa forma, mas amadureci a ideia de escrever sobre apenas ha algum tempo atrás e to escrevendo num impulso.

De qualquer forma, manter dúvidas sempre te mantém aberto a possibilidades. A incerteza sempre Nos faz ir além e ler, pesquisar, para cada vez mais tentar entender, conhecer, sair da nossa zona de conforto, que muitas vezes pode ser também intelectual: a pessoa se prende ao que ela entende, nos parâmetros que ela mesma definiu, sem nem mesmo se importar que sempre tem muita coisa além do que podemos enxergar.

Cada vez que entendemos mais sobre algo, mais expandimos nossa percepção, e assim, em proporção, entendemos menos do que achávamos do que entendíamos quando as possibilidades eram menores.

Isso parece ser constante em várias áreas não somente filosóficas, mas espirituais e existenciais.

A própria ciência trabalha nesse âmbito e cada vez mais nos traz avanços em tecnologia, ciência e desenvolvimento.

Se a mente sempre estar aberta e sempre ser alimentada com conhecimento, experiências e reflexões, sempre estaremos avançando cada vez mais em nosso Caminho. Claro, não é somente conhecimento, mas devemos focar na experiência prática e também no entendimento que podemos tirar de todas as culturas, crenças, métodos, filosofias, misticismo, bruxarias e tudo o mais que estiver ao nosso alcance e nos ser útil.

Fico por aqui em tais pensamentos, esperando que algum leitor entenda e se identifique com tais pensamentos e relatos.

Mantenham a mente aberta e sempre encarem novas possibilidades, sejam boas, comuns ou ruins em suas vidas, ao invés de negarem ou se prenderem a antigas crenças frente a fatos que mudam suas realidades.

O medo da mudança é comum, mas apenas os bravos abraçam as novas possibilidades sem saber seus resultados.

A morte é tua única certeza e, mesmo assim, pode ser contestada. Portanto, não se prenda a teorias e ideias sólidas e estagnadas, pois tudo aquilo que está estagnado, está morto.

Nunca deixamos de aprender, nem mesmo após a morte…

Bênçãos e maldições.
FFF
Leonard Dewar.

A ignorância pode até ser uma bênção para o indivíduo; mas com certeza é uma maldição para todos a sua volta“.
(3)

Notas:

(1) Trecho da música “Libre”, da banda “Tristania”;

(2) Uma forma pessoal de me referir ao Caminho, fazendo uma analogia por um Caminho doloroso e hostil, não importando sua forma. Uma maneira de me referir ao Caminho Partido;

(3) Frase de Leonard Dewar.




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