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Spice e o lado negro de Manchester

Boa noite, cuties! Você sempre acompanha por aqui resenhas de livros bacanas e avaliação de hotéis bonitinhos. Mas hoje trago um tema bem pesado, mas importante: um problema social que testemunhei em minha viagem recente à Manchester e que me deixou bastante assustada. Vamos falar sobre Spice (também conhecido como K2 ou simplesmente maconha sintética), uma droga cem vezes mais potente que o velho baseado e que vem causando sérios problemas em países como Reino Unido e Estados Unidos.

Pois bem, quando falamos que vamos para a Europa, todo mundo imagina aquelas cenas de puro glamour e elegância: a gente andando toda diva sob o fog londrinho com manteaux nude chiquérrimo, agindo como uma legítima "local", super habituada àquele frio do cão que parece que vai entrar pelas narinas e congelar o seu cérebro (já deu pra perceber que amo frio, né?). Em suma, ninguém se imagina passando raiva por conta de problemas como drogas e violência. Infelizmente, a vida não é o insta da Camila Coelho e você acaba se deparando com umas cenas bem bizarras que te fazem pensar: "o que raios estou fazendo aqui?"

Durante minha viagem, fiquei em um hotel delicioso chamado Macdonald Manchester Hotel & Spa (não, não é o hotel da rede de fast food e não, não tem Big Mac grátis). Uma de suas vantagens é a localização, pois fica a dois minutos de Manchester Picadilly, a principal estação de trens da cidade. Se por um lado isso é ótimo, pois tínhamos vários restaurantes, mercado e lojinhas por perto, por outro lado, todo mundo sabe que estes locais são famosos por seus frequentadores "alternativos", que ficam ali pelo entorno, fazendo-se lá não sei o que. E assim, numa destas idas e vindas à estação, acabei conhecendo uma Manchester muito mais sombria e bem menos poética do que uma música do Joy Division (que já é suficientemente sombria,  diga-se de passagem).

A primeira situação ocorreu durante o dia. Eu voltava da universidade com um amigo, quando percebemos que um rapaz estava tendo uma crise no meio da rua. Paramos para ajuda-lo, sem saber muito bem como conduzir a situação. Ele estava de pé, mas se contorcia de uma forma muito estranha. Seu corpo estava enrijecido e ele não era capaz de balbuciar uma única palavra. Corremos para o hotel para chamar uma ambulância, quando notamos que se tratava de uma overdose. Os paramédicos chegaram bem rápido e o susto passou. A partir daquele episódio, fomos observando a existência de vários jovens em situação semelhante, andando  pela rua como zumbis, especialmente durante os finais de semana.

Alcoolismo também é uma constante. Eu já andava meio irritada com alguns indivíduos sem parâmetro que mexiam conosco durante a noite. A gota d´água foi quando saí um belo dia para buscar meu jantar (com o dia ainda claro) e fui hostilizada por um grupo de adolescentes visivelmente alterados e bastante irritados com a minha linda cor de pele. Como se não bastasse, na volta, uma dupla de ingleses estressados, com um soco inglês na mão, causava na rua, gritando e dando socos no ar e deixando todos os imigrantes que passavam por ali (inclusive eu) numa paúra sem precedentes. O que aconteceu foi uma dobradinha indigesta de ódio racial e intolerância (que aumentou muito por conta da situação com os imigrantes), aliado ao intenso consumo de álcool e drogas, dentre as quais merece destaque o spice.

Mas o que é o Spice?

O spice é um canabiol sintetizado em laboratório que provoca ansiedade, alucinações, vômitos, tremores e convulsões, além forte dependência química. A sustância ativa da droga foi desenvolvida na década de 90 pelo químico John W. Huffman e aperfeiçoada, em 2009, pela Pfizer que buscava um poderoso analgésico. No Brasil, a maconha sintética chegou em 2015, mas não se disseminou com a mesma intensidade que em outros países.

O spice pode ser utilizado em variadas formas, mas em geral o produto líquido costuma ser aspergido sobre ervas e fumado. A comercialização do spice era lícita inicialmente, sendo a droga vendido na forma de incenso e aromatizador, não destinado ao consumo humano.  Os governos até tentaram barrar o avanço do spice: com crescimento da utilização dos compostos mais comuns como entorpecente, o Reino Unido proibiu o uso da substância JWH-018. Mas, com o passar do tempo, novas fórmulas foram desenvolvidas para fugir da regulamentação e agora estima-se que há mais de 500 tipos de maconhas sintéticas, o que acaba dificultando seu combate e tratamento. Em muitos países ela ainda é lícita, inclusive.

Segundo o site de notícias da BBC, a popularidade do spice se deve a fatores como intensidade dos efeitos, preço baixo (bem mais barata que a maconha natural) e o fato de que seu uso não aparece nos exames toxicológicos mais comuns. Hoje, a droga é a segunda droga mais utilizada pelos estudantes do ensino médio no Reino Unido. No final de semana do dia 10 de abril, enquanto eu ainda estava lá, foram contabilizadas 58 ocorrências envolvendo o uso do entorpecente e oito prisões só em Manchester (confira a matéria aqui).

Abaixo tem um vídeo falando um pouco mais sobre esta droga. Fica o alerta para os perigos do spice, extremamente tóxico e que pode até mesmo ser letal.





Enfim, pode ter sido apenas uma infeliz coincidência estar por lá em um período conturbado com estes. De qualquer forma, a experiência foi fundamental para que eu passasse a ter uma visão mais realista sobre a vida fora do país, acabando um pouco com aquela idealização clássica, fruto de muitos anos ouvindo The Smiths e assistindo Absolutly Fabulous. A vida não é o insta da Camila Coelho, nem um vídeo do The Verve com a gente caminhando cheio de confiança pela terra da Lady Di. Principalmente para quem não tem a cútis nórdica de Caco Antibes... hehehe...


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