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A santa



Sorridente, assídua, prestativa, sensível, carinhosa, amorosa, ah, que doçura de menina. Quem não conhece uma pérola dessas, por favor, retire-se – ou fique e aprenda mais sobre essa estranha espécie.
A Santa foi canonizada na cabeça dos ignorantes que, desesperados por um punhado de beleza e sensatez, acreditam que perfeição existe. A santa nunca foi santa, nunca foi freira, nunca foi anja. A santa nem era crente, minha gente. A santa era humana.
E então, na primeira prova de que a santa não era santa porque não queria nem podia nem planejava ser santa, o mundo caiu. Olhares avessos se voltaram à pobre humana. Como pode ser humana? Era santa até agora pouco! Como pode? Esse mundo realmente está perdido... Vou procurar outra santa para idolatrar, espera aí.
Não, isso não existe. Não existe essa coisa de ser perfeita, de ser linda por dentro e por fora – aliás, ser linda ou não é algo tão abstrato como falar da alma e outras coisas. Rostos têm deformidades; espinhas, buracos, olheiras, caretas. Caráteres têm deformidades: deslizes, questionamentos, incertezas. Eis o conjunto que monta a verdadeira perfeição da humanidade: a sinceridade. Qualidades e defeitos andam juntos – infeliz ou felizmente. Sorrisos às vezes podem ser falsos – as pessoas tentam agradar não para serem tidas como agradáveis, mas para arrancar sorrisos supostamente verdadeiros ou simplesmente sentir o prazer que a sensação de missão cumprida dá. As santas-humanas xingam, pensam besteiras, são misteriosas, têm suas vontades, cometem erros, querem algo novo. As santas-humanas não são santas, já disse.
Elas pedem o seu apoio. “Descanonizem” essas pobres criaturas. 















(Ouçam Ópio, Zeca Baleiro)


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