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Ford: mexicano que vendeu terreno para fábrica se ressente com saída da empresa

Jose Puebla Ortiz tinha um enorme terreno em San Luis de Potosí, região desértica ao norte do México. Então, veio a Ford e comprou a área para ser construída uma enorme fábrica, cujo investimento chegaria a US$ 1,6 bilhão. O valor chamou a atenção de muita gente e revelava duas coisas importantes.

A primeira era a busca da Ford pelo aumento da produção de carros pequenos no país vizinho, objetivando reduzir custos com automóveis que naturalmente são menos rentáveis que picapes e utilitários esportivos, que assim podiam ser feitos nos EUA, onde a mão de obra é muito mais cara que no país latino, mas que pode ser absorvida pelo maior valor agregado destes produtos. Ainda tem o fator das baixas vendas do segmento dentro de casa, dada a preferência do consumidor por picapes e SUVs, motivados pela gasolina barata.

A segunda era que o México mais uma vez levava um grande investimento para o setor automotivo, fato quase que rotineiro nos últimos anos, bem diferente dos EUA, onde fábricas são fechadas e funcionários dispensados. Diante disso, a postura da montadora foi duramente criticada por Donald Trump, candidato à presidência, que prometeu mudar a situação. Após eleito, o projeto de San Luis de Potosí rapidamente mudou de rumo.

Puebla Ortiz, que comprou um caminhão para futuramente trabalhar para a Ford na fábrica, viu seus planos virarem areia após a decisão da montadora de cancelar o projeto e sair do local. Diante dessa situação, Jose se ressente pela decisão da empresa e agora não sabe o que o futuro reserva. Desde que a marca foi embora, o mexicano não consegue encontrar um emprego com bom salário. Na mesma situação, encontram-se outros que trabalharam nas fundações da planta, que virou um esqueleto abandonado no deserto.

Para o México como um todo, a saída da Ford representou apenas o fim da esperança de muitos da região de San Luis de Potosí, mas não o de sua indústria automotiva, que nos últimos anos acumulou tantas fábricas e empregos que, já existe disputa por mão de obra qualificada, uma guerra por vagas que acabou por elevar os rendimentos daqueles que têm experiência no setor, assediados devido ao lento progresso na qualificação profissional em um país onde o trabalho informal é dominante.

Depois da Ford, Trump mira o fim do Nafta ou pelo menos uma alteração profunda que beneficie os EUA, pois também o Canadá produz automóveis que vão para as concessionárias americanas. O objetivo é elevar o emprego no país, promessa de campanha que o presidente quer manter a qualquer custo. O maior alvo dessa política é o vizinho do sul, mas o setor automotivo mexicano lembra que o presidente americano está desinformado sobre o acordo de livre comércio e o ritmo da indústria automobilística na região.

A AMIA, associação dos fabricantes de veículos no México, lembra que taxar produtos do país latino é o mesmo que barrar os próprios dos americanos, já que peças, componentes, veículos e matéria-prima cruzam a fronteira pelo menos oito vezes dentro do processo industrial. O vai e vem pelo Rio Grande é devido ao fato de o México não montar apenas veículos, assim como faz os EUA. A troca é necessária por conta dos custos, a fim de manter um equilíbrio saudável nas operações automotivas.

Com isso, analistas mexicanos estão mais confiantes que Jose Ortiz, pois a manutenção do Nafta é vital para o equilíbrio da indústria americana que, devido aos custos mais altos, não pode se dar ao luxo de fazer tudo sozinha. Como bem lembrou o site Jalopnik, em artigo recente, um mercado protecionista pode gerar alguns dos piores carros do mundo, já que não há concorrência externa para melhora-los. A certa tranquilidade latina se baseia no equilíbrio de poder institucional que existe nos EUA, onde o presidente não tem todo o poder para tomar decisões cruciais do país.

Essa semana, Trump disparou contra a Alemanha, criticando o país por praticar políticas injustas no comércio com os EUA e prometeu rever as importações germânicas. Ele quer taxar em 35% a entrada de carros alemães. Anteriormente, criticou os japoneses pelo mesmo motivo. Assim como o México, o país europeu desenvolveu sua indústria para exportação, tendo gerado um superávit de € 253 bilhões em 2016. FMI e a França criticaram. Só com os EUA, a Alemanha obteve € 64 bilhões a seu favor somente no ano passado.

E o México? Mesmo com 77% de seus carros exportados, enviados diretamente para os EUA, o país latino tem acordos comerciais com 45 países. Sua indústria já está em nível mundial, pois abastece o exigente mercado americano. No caso da Ford, a empresa decidiu buscar uma oportunidade melhor em seu país de origem, apoiada por Trump, mas com investimento menor. A indústria mexicana perdeu uma fábrica, mas provavelmente ganhará outras adiante, ainda mais agora com um interesse chinês pelo deserto.

Falando nela, a China, seus custos de produção já superam em algumas regiões costeiras as do próprio México e também do Brasil. Assim, o país da América do Norte pode se tornar também a base de exportação para os fabricantes chineses – como é para outros players asiáticos – não só em sua busca pela “América”, mas também por posicionamento global. Afinal, a plaqueta “made in México” é bem aceita até na Europa.

Enquanto isso, Jose Puebla Ortiz espera por dias melhores, que podem vir com mais um anúncio de fábrica na região, onde outras fábricas de automóveis já estão estabelecidas.

[Fonte: BBC Brasil/Deustche Welle/Jalopnik]

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