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Ocaso

(Imagem: Pinterest)

O diplomata e escritor Marcelo Cid publicou numa rede social dois enganos de crianças ao cantar o Hino Nacional brasileiro. No primeiro caso, uma turma inteira de pequenos estudantes ouvia o verso "do que a terra mais garrida" como "do que a terra margarida". No segundo, uma tia do próprio escritor, segundo ele, cresceria cantando "oh, lava a roupa e estende desse lado", ao invés de "o lábaro que ostentas estrelado".

Minha filha não deixava por menos, quando punha todo o fôlego em timbre de voz infantil para cantar "bendito o pernilongo desta fórmula", no lugar de "bendiga o verde louro desta flâmula". E para não sair de casa, aos quatro anos de idade meu neto Gabriel dava à melodia do hino um recheio de sons indecifráveis. Como pimpinichitu, umalibi e acebeldade. Em três "versos" ele recorria à palavra 'polvo': um polvo seu volato da pumompom, um polvo sa taná esse estante e um polvo esteve lá tá sa fundano, a ti.

Limitações à parte, justificadas ou não, ouvimos e repetimos desde muito cedo sobre liberdade, um povo heroico, e uma pátria que é mãe gentil dos brasileiros. Ainda: sobre um futuro que espelha a grandeza de um gigante naturalmente belo, forte e destemido. O que, convenhamos, destoa razoavelmente da realidade de quem começa o dia trabalhando duro e segue assim anos a fio, pagando impostos absurdos e vendo-se espoliado pela roubalheira que, ao invés da grandeza do gigante, espelha a vergonha dos Filhos de uma pátria nada gentil com sua prole.

Separando mãe e filhos existe uma elite que a confiança da maioria, crendo ainda no valor da palavra, elegeu para representá-la. Desavergonhadamente traídos, os eleitores são hoje apresentados às entranhas de uma organização criminosa, sobre cujos líderes o guarda-chuva da lei parece extraordinariamente mais amplo e generoso do que o é para os filhos daquela mãe gentil que o hino proclama.

Vai-se assim, de geração em geração, adiando o futuro. Afinal, sonhar pra quê?

Como na letra da canção, o sol está se pondo.

E o tempo esgota os sonhos.


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Ocaso

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