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Testemunho | Afinal eu venci o cancro e todos os dias faço questão de esfregar o meu sorriso na ‘cara’ dele

Foi com 16 aninhos (quase a fazer dezassete) que a vida me resolveu pôr à prova.

Corria o ano de 2009. Andava eu no meu 11º ano… Uma menina super feliz, boa aluna na escola, jogadora de basquetebol, com um grupo de amigos incrível e uma família ainda mais incrível. Com muitos muitos sonhos, muitas expectativas, muitos objetivos.

Talvez hoje considere que talvez vivesse um bocadinho distante da realidade. Tinha terminado o primeiro período de aulas e estava na altura das férias do Natal…

A verdade é que o meu quadro já se prolongava por mais de 1 ou 2 meses, mas sendo eu teimosa e não tendo dado qualquer valor a nenhum dos sintomas que apareciam acabou por se arrastar, tendo culminado num pico febril.

Estava na casa dos meus avós, como todos os anos. O natal é Sempre passado lá.

Lembro-me de tudo como se fosse hoje. Lembro-me das dores de cabeça, do cansaço que sentia só de fazer a cama, das dores nos joelhos e cotovelos, da pouca vontade que tinha de comer aqueles doces todos (coisa muito estranha mesmo), das pessoas a dizer que não me reconheciam como a pessoa animada que costumava ser…

Mas nunca me queixei muito. Não sou pessoa de me queixar.

Até que fiz febre. Na noite de 26 para 27. E ainda bem que fiz.

Dia 27, uma segunda-feira, a minha mãe trouxe-me de carro para Vila Real para ir à médica de família pedir análises. Colhi análises nessa mesma manhã. Tínhamos de aguardar pelo resultado e voltámos para casa.

Entretanto a minha mãe recebe um telefonema do laboratório a dizer que tinha de repetir as análises, porque devia haver algum erro, porque caso aqueles fossem realmente os meus valores iria precisar de fazer mais que uma transfusão de sangue.

Eu ouvi aquilo e pensei ‘transfusão de sangue? Mas o caso parece grave. Será que vai doer? Só vi transfusões na televisão e não parece ser boa coisa’ mal eu sabia q uma simples transfusão seria o menor dos meus problemas e que uma simples transfusão tornar-se-ia num dos gestos mais normais nos próximos meses da minha vida. Mas pronto, continuando… naquele momento já estava assustada, mas sempre com o pensamento que seria uma situação controlada.

Sou encaminhada para o hospital e lá repito todos os exames e mais algum. Estava frio, muito frio.

À medida que o tempo passa vou-me apercebendo que afinal a situação talvez fosse mais grave do que eu pensava.

Até que ouço as lágrimas da minha mãe no gabinete ao lado… aí o pânico tomou conta de mim. E depois ela entrou no gabinete onde eu estava a soro e agarrou-se a mim a chorar…

Eu já chorava também e ainda nem sabia o que tinha… até que a minha mãe se acalmou, ganhou coragem e disse ‘querida, acham que tens uma leucemia, vão mandar-nos para IPO’…

Pum Pum… duas das palavras mais assustadoras numa só frase… leucemia e IPO. IPO associava ao local onde se tratavam os cancros… e leucemia, apesar de não saber bem o que era a doença em si na altura, associava a uma coisa muito grave por causa das campanhas de procura de dadores de transplante, em que apareciam sempre crianças carequinhas… pior dia da minha vida até hoje.

Um misto de revolta carregadinha com muito medo… era como me sentia… ‘porquê a mim? O que vai acontecer a partir daqui? Será que há esperança para o meu caso? Será que vou morrer? Será que nunca mais vou voltar a escola? A ver os meus amigos? A jogar basquetebol?’ mil perguntas na minha cabecinha confusa e assustada.

Nessa mesma noite vim de ambulância para o IPO do Porto. Chovia torrencialmente. Lembro-me de entrar no parque de estacionamento e ler as palavras ‘Instituto Português de Oncologia do Porto’… o pesadelo afinal era real.
Seguiram-se meses e meses de sofrimento. Sofrimento em todos os aspetos e mais algum.

Primeiro disseram-me que naquele ano não iria mais à escola, teria de assistir às aulas por videoconferência. Falaram-me em isolamento e ambientes estéreis, e máscaras e batas por causa dos bichos oportunistas.

Sempre que saía à rua tinha de ir armada de máscara. Carequinha e de máscara. Só mesmo para chamar a atenção.

Depois falaram-me do tratamento. Dois anos. A famosa quimioterapia, aquela nossa amiga que ajuda na cura, mas quer sempre algo em troca. Levou-me os meus longos cabelos castanhos e qualquer penugem que pudesse estar presente no meu corpo.

Levou-me quase todo o músculo que tinha. Deixei de andar. Durante uns tempos andei de cadeira de rodas. Levou-me 12 kg. Levou-me a vontade de comer.

Em vez disso trouxe-me uns belos enjoos e o medo de sequer cheirar alguma comida. Trouxe vómitos também. Aqueles vómitos que mesmo depois de sairem a primeira vez não aliviavam rigorosamente nada. Aftas. Aftas gigantes e dolorosas que só passaram depois de uma semana com morfina (bela sensação já agora).

Picas. Picas em todo o lado, braços, mãos, dedos, rabo, costas… até nas veias dos pés tentaram. Com agulhas pequenas, grandes, médias. Dores. Dores como nunca tinha sentido antes.

Isto para não falar da cortisona que transformou a minha cara numa autêntica lua cheia.
Psicologicamente tive uns momentos piores do que outros. Chorei imenso, muito mesmo. Acho que naquele ano derramei mais lágrimas do que em toda a minha vida até ali. Choro de revolta, de sofrimento, de dor, de medo… faz parte também.

É preciso aprender a lidar com a doença e mostrar-lhe que somos mais fortes.

Agarrei-me à vida com uma garra que desconhecia ter e não a larguei. Descobri que apesar de estar muito mal no meio dos enjoos e todas as outras coisas, conseguia rir e fazer rir.

Descobri que era mais forte do que pensava. Lutei com mil sorrisos, o meu e o de todos os que lutaram comigo e daí resultou a minha vitória. Passinho a passinho fui caminhando para o final mais feliz que poderia pedir.

E cá estou eu hoje. Estão quase a completar 5 anos desde que terminei os meus tratamentos e quase 7 anos desde que fui diagnosticada.

Neste momento estou no último ano do curso que sempre quis. Desde pequenina que queria ser médica. E depois de estar do outro lado, do lado do doente, tive mais certezas ainda de que queria poder fazer aquilo que todos os médicos por quem passei fizeram por mim.

Ser médica e humana ao mesmo tempo. Fiz os exames nacionais do 11º no IPO, fiz o 12º ano já na minha escola (embora ainda a fazer tratamentos) e entrei. E hoje sinto que sou uma menina mais feliz depois de tudo o que passei. Porque fico feliz com pequeninas coisas. E dou muito mais valor à vida que tenho, ao mundo em que estou e às pessoas incríveis que me rodeiam.

Dou valor aos pequenos grandes momentos. Aprendi e aprendo todos os dias a estabelecer prioridades, a viver intensamente.

Aprendi o verdadeiro significado de humildade.

Agradeço a Deus por esta oportunidade e vivo a vida fazendo os possíveis para não O desiludir.

Afinal eu venci o cancro e todos os dias faço questão de esfregar o meu sorriso na ‘cara’ dele.

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