Orrin Devinsky, neurologista do Centro Médico Langone (Universidade de Nova York) e colegas em vários outros centros de pesquisa publicaram os resultados do maior estudo até a data de um medicamento à base de cannabis para a epilepsia, resistente à tratamentos, na revista The Lancet Neurology. Os pesquisadores trataram 162 Pacientes com um extrato de canabidiol (CBD), um produto químico não-psicoativo da maconha e os monitoraram por 12 semanas. Este tratamento foi dado como um complemento para medicamentos já utilizados pelos pacientes. O experimento foi aberto (todos sabiam o que estavam recebendo).
Os pesquisadores relataram que a intervenção com o canabidiol reduziu as convulsões motoras à uma taxa semelhante aos medicamentos existentes (uma média de 36,5%) e 2% dos pacientes tornaram-se completamente livre das crises. Além disso, 79% dos pacientes relataram efeitos adversos, tais como sonolência, diarreia e fadiga, embora apenas 3% desistiram do estudo devido à esses acontecimentos adversos. “Estava um pouco surpreso com o número total de efeitos colaterais, que foi bastante elevado, mas parece que eles não foram suficientes para fazer os pacientes desistirem e parassem de utilizar a medicação”, diz Kevin Chapman, neurologista e professor de pediatria na Universidade de Colorado, envolvido no estudo. “Eu acho que [este estudo]fornece alguns dados interessantes. Dados que mostram que é relativamente seguro os efeitos adversos do tratamento, dado que eles eram em sua maioria leves e de baixo risco.”
Histórias das habilidades da maconha em aliviar convulsões são datadas de cerca de 150 anos atrás, mas o interesse na maconha medicinal tem aumentado acentuadamente na última década com a ajuda das campanhas de legalização. Em particular, doentes e cientistas começaram a se concentrar nos potenciais benefícios da CBD, um dos principais compostos da cannabis. Ao contrário do tetrahidrocanabinol (THC), que é responsável por certos efeitos ‘eufóricos’, o CBD não causa “high feelings” ou o mesmo tipo de riscos que os pesquisadores identificaram para a THC, como vício e comprometimento cognitivo. Em vez disso, os estudos mostraram que ele pode atuar como um anticonvulsivo e pode mesmo ter efeitos antipsicóticos.
O estudo conduzido por Devinsky é atualmente o diagnóstico mais robusto dos efeitos do CBD sob a epilepsia (estudos anteriores incluíram menos de 20 pacientes), mas muitas questões permanecem. Em um tratado posterior publicado após as descobertas de Devinsky, também da revista The Lancet Neurology, Kamil Detyniecki e Lawrence Hirsch, neurologistas da Universidade de Medicina de Yale, que não estavam envolvidos na pesquisa, delinearam as principais limitações do estudo, que incluem possíveis “efeitos-placebo” e interações medicamentosas.
Uma vez que o estudo fora aberto sem um grupo de controle, a principal preocupação é quanto ao efeito-placebo, que estudos anteriores mostraram ser especialmente fortes com produtos à base de maconha. Por exemplo, um estudo de 2015 realizada por Chapman e seu grupo da Universidade do Colorado revelou que 47% dos doentes cujas famílias haviam se mudado para o Colorado para o tratamento da epilepsia à base de cannabis relataram melhora, em comparação com os 22% de pessoas que já viviam por lá.
Outro problema importante é a possibilidade de interações entre as drogas aplicadas – porque o CBD é um inibidor potente da enzima do fígado, podendo aumentar a concentração de outras drogas no corpo. Isto significa que, quando administrada com outros compostos, os efeitos colaterais subsequentes dos pacientes podem ser causadas devido ao aumento da exposição a esses outros fármacos, em vez de ser a CBD em si.
Apesar destas limitações, ambos os autores da pesquisa concordam que o estudo é um passo importante para o estabelecimento da CBD como um tratamento da epilepsia; segura e eficaz. “Este é um primeiro passo, e isso é ótimo”, diz Detyniecki.
Pesquisas futuras farão novos testes químicos com a CBD em busca de possíveis medicamentos para o combate à Síndrome de Lennox-Gastaut e de Dravet.
Eu acho que, com base nas provas que temos, se uma criança tem tentado tratar-se com vários medicamentos sem sucesso e a epilepsia ainda é grave, e prejudica sua qualidade de vida, os riscos em ingerir a CBD são baixas e sua taxa de sucesso em combate-la é maior”, diz Devinksy. “Sinto que é fundamental para nós, como uma comunidade científica, angariar mais dados. A Cannabis pode ser um tratamento muito necessário para um punhado de pessoas com epilepsia e outras doenças, mas, por agora, os pacientes devem esperar que novas informações lancem luz aos estudos.”
Fontes: Scientific American, The Lancet Neurology, NCBI, Clinical Trials
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