O 'duende' é um dom de poucos. É pelo 'duende' que esteticamente diferenciamos uma bela ginástica de uma dança realmente flamenca. Sem o ‘duende’ não há Flamenco, segundo os tradicionais. Mas de fato você sabe o que é ?
O ‘duende’ é um ‘fazer arrebatar’, é a essência da arte andaluza. O conceito foi pela primeira vez utilizado por Federico Garcia Lorca em 1922 no texto Juego y Teoría del Duende. Com o passar dos anos, e a forte influência dos escritos de Lorca na cultura espanhola, a presença do conceito de ‘duende’ se tornou uma espécie de característica de reconhecimento de autenticidade do flamenco.
Em algum ponto nebuloso da história ter 'duende' era 'ser flamenco andaluz', ou seja, passou a ser falsamente interpretado como algo geneticamente transmitido. Mas no próprio texto de Lorca, não há indicativo direto de que este dom maravilho é 'coisa da raça'. Na verdade o seu artigo aponta a existência deste estado especial que toda inefável arte tem, mas que nos artistas flamencos se diferencia por ser este um estado que transmite o espírito oculto da dolorosa Espanha e não sua exaltação sublime. Em outras palavras, é uma particularidade da expressividade e sensibilidade cigana inerente ao flamenco e não um tratado sobre quem tem e quem não tem este dom.
Então seria o 'duende' um conceito obsoleto? Jamais. Este 'fazer arrebatar' se faz Cada Vez Mais importante na contemporaneidade, onde a arte espanhola andaluza vem ganhando cada vez mais espaço e se aperfeiçoando tecnicamente. É preciso revisitar o conceito, transmiti-lo, vivenciá-lo na carne e garantir que o flamenco COM ALMA siga perpetuado nas gerações atuais e vindouras.
Então como se desenvolveria 'el duende'? Eva peña no seu texto 'La técnica y la expresíon del baile flamenco', publicado em 04 de agosto de 2010 no blog 'Amigos del cante' explica que para chegar a desenvolver a expressividade na dança flamenca é preciso:
1- Ter uma capacidade expressiva acima de qualquer virtuosismo;
2- Desenvolver uma identidade individual no baile que transmita os valores coletivos da Espanha;
3- Dominar os códigos e estruturas da arte flamenca para fazer uso no improviso;
Ou seja, é preciso estudar a técnica e a cultura espanhola mas não se prender a isso. É preciso conservar o espírito livre, agregar os códigos técnicos a própria personalidade e aprender que flamenco mesmo é improviso e paixão. Isso requer TEMPO não apenas em treino mas em contemplação e vivência!
Que resgatemos o 'duende' e aprendamos que tocar, dançar ou cantar flamenco requer o corpo por inteiro: mente, carne e espírito completamente entregue em sagrada comunhão com a alma flamenca.
