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Quando o escotismo francês assumiu um lado nas eleições presidenciais.

Todos os dias ganhamos (os escoteiros) oportunidades de nos posicionarmos e as perdemos. Nos últimos anos, foram aprovadas medidas que afetam diretamente a juventude, como a Reforma do Ensino, o congelamento de investimentos públicos, e atualmente existe até um levante de um nacionalismo perigoso que tem se pautado pela anulação do próximo como solução dos problemas. E o nosso atual silêncio, além de deseducador, faz com que nos distanciemos ainda mais da sociedade. Em nenhuma parte do mundo a neutralidade ajudou a construir um mundo melhor ou ajudou na emancipação da juventude, mas a fomentar uma adaptação servil por medo de tomar posições e ter um lado.

O movimento escoteiro tem um dever com a sociedade, e não apenas com nós mesmos como instituição. O escoteiro, como aquele batedor que segue à frente e se antecipa às adversidades, não precisa de muitas pistas para reconhecer aquilo que vai em contra das nossas demandas ou contra milhares de jovens e adultos que se dedicam ao escotismo.

Com dados que apontam quase 30% de desemprego entre os jovens, com o sucateamento da educação, com o cerceamento da distribuição de conhecimento, não ficar ao lado da juventude para agradar a todos e garantir votos dentro das instâncias escoteiras é uma postura, no mínimo, covarde.

Quando a crise mundial começou entre 2008 e 2009, não foram poucas as associações escoteiras mundiais que se posicionaram contras as medidas de austeridade, principalmente aquelas que invariavelmente afetariam os jovens. Uma destas associações, em especial, chama a atenção.

Em um cenário de polarização parecido ao que vivemos no Brasil, em 2017 a França celebrou sua eleição direta para a presidência do país. De um dos lados, a Frente Nacional transformava algumas camadas vulneráveis da população em inimigos comuns, com discursos xenófobos e racistas, distorcendo a história para ganhar votos de algum despistado – algo muito parecido ao que se vê hoje por aqui. O episódio fez com que os franceses votassem não apenas em outro candidato, mas pelo “não” ao representante da Frente Nacional.

Ao perceber a iminência de um governo em que a anulação humana, o revanchismo e a barbárie poderiam se tornar uma nova forma de administrar, oito associações filiadas a WOSM e que compõem a federação de escotismo francês assinaram uma carta contra a candidatura da Frente Nacional. O link original da carta pode ser lido aqui, e a tradução está logo abaixo:

Vamos votar, o pior é possível.

Caros escotistas e líderes escoteiros

Estamos em um momento importante da história do nosso país, em um destes giros dos quais não se conhecem todas consequências, que dificilmente identificamos os riscos, mas que pressentimos que possa haver um “antes” e um “depois”.

Como escoteiros e escoteiras, dedicamos tempo para educar crianças e jovens para que se tornem cidadãos livres, felizes, prestativos, ativos e apreciadores da paz, e a ambição do projeto escoteiro se opõe à visão defendida pela Frente Nacional. Este é o significado do nosso compromisso escoteiro, nosso compromisso como escotistas.

A federação francesa de escotismo foi fundada em 1941, durante a Segunda Guerra Mundial, em parte para defender um de seus membros: os escoteiros israelitas. Uma federação que defende crenças e espiritualidades diferentes, que se encontram no método escoteiro para desenvolver um projeto educativo, que acreditamos ser sempre atual – e ainda mais nos dias de hoje.

Há 70 anos, em 1947, o Jamboree da Paz nos reuniu em Moisson. Dois anos depois da guerra, o escotismo lançava a base para a reconciliação e a paz. Contra a opinião geral, convidava uma delegação alemã, mostrando, assim, que não é possível construir nada por oposição ou rejeição, mas pela integração e conhecimento do outro.

Fiel a si mesmo, o escotismo educa para a paz, para a cidadania e o encontro intercultural. Nossos valores, nosso projeto e nossas atividades educativas fazem de nós um ator da construção de um mundo mais justo, mais pacífico, onde a fraternidade, proteção do meio ambiente e respeito não são só palavras. Cada uma das nossas ações como escoteiros e guias carrega este compromisso e estes valores.

Junto aos mais de 50 milhões de outros escoteiros e guias no mundo, lutar contra o ódio, o medo, o fechamento em si mesmo, a rejeição do outro, é algo que fazemos todos os dias e ensinamos crianças e jovens a construir um espírito crítico para ser fiéis à promessa escoteira. O próximo dia 7 de maio não será apenas uma eleição presidencial, mas uma escolha da sociedade que queremos, uma escolha decisiva, uma opção que nos compromete. Uma sociedade não se constrói somente com homens e mulheres na política; ela também se constrói porque cada um de nós assume uma posição ativa na construção do nosso futuro.

Nossa democracia nos obriga fazer uma votação a cada 5 anos que, na configuração atual, nos deixa poucas alternativas.

Abster-se significa deixar de escolher ou reenviar a responsabilidade a outros. A alternativa neste segundo turno não permite uma “falta de escolha”.

Não Podemos Escolher aquilo que nos fecha, que nos estigmatiza, que rejeita a diversidade de pensamentos e culturas para uma unificação de uma visão identitária e nostálgica. Não podemos escolher ou permitir a escolha de outra forma de secularismo que a da nossa República, que garanta a liberdade de crer, de não crer, de praticar sua religião livremente, em privado ou em público, convivendo juntos.

Não podemos escolher ou deixar que escolham a desconstrução da Europa, com o risco de despertar todos os nacionalismos que afundaram a Europa em muitas guerras, quando o que desejamos é que evolua e se transforme. Não podemos escolher ou deixar que escolham viver em uma sociedade que não coloca a esperança de um mundo mais fraterno no centro de suas preocupações, onde ninguém seja excluído pela razão que seja. Não podemos escolher aquilo que, desprezando as lições da nossa própria história, arrisca a afundar outra vez nosso país em divisões fratricidas. Devemos estar à altura do nosso compromisso, nossa promessa e das promessas que foram pronunciadas por aqueles e aquelas que nos precederam.

Nós, eleitos ou nomeados como representantes de nossas associações, nunca enviamos uma mensagem como esta no passado. A fidelidade que temos com a história do nosso escotismo, com as convicções que o forjam, nos forçam a nos mobilizarmos na defesa de seus valores quando os políticos tentam derrubá-los. Nosso escotismo se comprometeu durante o pós-guerra, convidando jovens alemães ao Jamboree, e houve hostilidades. No marco da importante deliberação que se apresenta, consideramos que é nosso dever nos pronunciarmos para nossa comunidade educativa. Assumimos nossas responsabilidades e o fazemos no seio da federação de escotismo francês com a dúvida de se chegaremos a transmitir uma palavra de união e, ao mesmo tempo, com a certeza que o silêncio seria culpado.

Pensando especialmente em nossos irmão e irmãs dos “Escoteiros Israelitas de França” e nos “Escoteiros Muçulmanos de França”, pensando especialmente nas associações de escoteiros e guias em Rwanda, na Síria e outras partes do mundo, que se comprometem em reconstruir a paz sobre as ruínas dos conflitos; pensando neles, chamamos cada um de vocês, cada um de nós, a preservar o compromisso escoteiro nestas circunstâncias particulares.

O escoteiro transforma o “direito ao voto” em um dever pessoal para ir votar. E particularmente nesta ocasião. Não é possível confiar em outros para descartar o inaceitável. Se alguém é a favor ou não de outro projeto presente no segundo turno, há hoje apenas uma solução para rejeitar o projeto da Frente Nacional: votar em seu oponente no dia 7 de maio. Diretamente ou por procuração. No mês de junho, as eleições legislativas abrirão, então, outras possibilidades políticas.

No dia 2 de maio de 2017, assinam:

Elsa BOUNEAU, presidenta Fédération du Scoutisme Français
Isabelle DHOYER, presidenta Éclaireuses Éclaireurs De France
Jérémie HADDAD, presidente Éclaireuses Éclaireurs Israélites de France
Bastien ISABELLE, presidente Éclaireuses Éclaireurs de la Nature
Pierre MSIKA, presidente Éclaireuses Éclaireurs Unionistes de France
Gilles VERMOT- DESROCHES, presidente Scouts et Guides de France
Abdelhak SAHLI, presidente Scouts Musulmans de France



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