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Humberto Eco e Fascismo

Em abril de 95, Umberto Eco proferiu uma conferência chamada Fascismo eterno que depois foi publicada na forma de um pequeno livro. Um dos argumentos é que o fascismo é uma matriz de pensamento que se transmuta, mas que preserva um conjunto de características variando em mais Intensidade. Nove das 1quatorzes características por ele descritas aumentam muito minha preocupação com o que estamos vivendo. Reproduzo abaixo essas nove. Deixo com vocês as associações.
1. O aparente irracionalismo do fascismo é também um culto da ação pela ação. Considera-se a ação bela em si mesma, autêntica e verdadeira. Ao contrário do pensamento crítico, cujo exercício é sempre uma ameaça à tradição.
2. O fascismo eterno provém da frustração individual ou social. Isso explica por que uma característica dos fascismos tem sido o apelo às classes médias frustradas, desvalorizadas por alguma crise econômica ou humilhação política, assustadas pela pressão dos grupos subalternos.
3. Aos que não se reconhecem em nenhum grupo identitário, o fascismo oferece um privilégio extensível a todos: a nação. O nacionalismo que surge daí oferece um elemento identitário englobante aos que não se reconhecem nas identidades sociais disponíveis. A identidade nacional também instaura um horizonte repleto de inimigos, estrangeiros sempre prontos a saquear a nação. A obsessão conspiratória e a xenofobia do fascismo encontram nesses termos uma base forte.
4. No fascismo não há luta pela vida, mas antes “vida para luta”. Logo, toda forma de pacifismo é conluio com o inimigo; o pacifismo é ruim porque a vida é uma guerra permanente. Essa característica também dá origem a uma contradição difícil de ser resolvida: quando um líder fascista alcança seu objetivo e vence sua luta, logo precisa encontrar uma nova guerra, já que a paz é a antítese de seu próprio princípio de ação.
5. O desacordo é, antes de tudo, um sinal de diversidade. O fascismo eterno cresce e apela sempre para o medo da diferença. Nele, diversidade, diferença e variação são ameaças.
6. Há um traço elitista no fascismo eterno, mas trata-se de um elitismo das massas, um elitismo popular que é anti-establishment, mas preza, ao mesmo tempo, pela hierarquia. A força da liderança está em uma cadeia de desprezo.
7. Como tanto a guerra permanente quanto o heroísmo de guerra são jogos de difíceis manutenção, o fascismo eterno transfere sua vontade de poder para questões sexuais. Esta é a origem de seu desdém pelas mulheres e condenação intolerante a comportamentos sexuais de desvio. Quando o tema do sexo fica complexo demais, o fascismo apela para as armas, o seu substituto fálico. Elas se transformam no ícone de demonstração permanente da vontade de poder. Devemos, porém, estar prontos a identificar outras formas dessa linguagem, mesmo quando ela toma a forma inocente de um talk show popular.
8. O fascismo cria e fala sua própria língua, institui um vocabulário próprio, organiza a gramática das experiências, dos ataques aos inimigos e de sua defesa. Devemos, porém, estar prontos a identificar outras formas dessa linguagem, mesmo quando ela toma a forma inocente de um talk show popular.
9. O fascismo eterno baseia-se em um populismo qualitativo. Em uma democracia, os cidadãos gozam de direitos individuais, mas o conjunto de cidadãos só é dotado de impacto político do ponto de vista das decisões da maioria. Nesse modelo, aos indivíduos enquanto indivíduos não cabe nenhum direito, e o “povo” é concebido como uma qualidade, uma entidade monolítica que exprime a vontade comum, cujo intérprete é seu líder. Tendo perdido seu poder de delegar, os cidadãos não agem individualmente, são chamados apenas para assumir o papel de povo. O povo torna-se, assim, uma espécie de ficção teatral. Desenha-se em nosso futuro um populismo qualitativo de TV ou internet no qual a resposta emocional de um grupo selecionado de cidadãos pode ser apresentada e aceita como a “voz do povo”. Em virtude de seu populismo qualitativo, o fascismo eterno deve se opor aos pútridos parlamentares e cada vez que um político põe em dúvida a legitimidade do parlamento por não representar mais a voz do povo, pode-se sentir o cheiro do fascismo eterno.

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