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O Mercado de notícias - Filme/Projeto do gaúcho Jorge Furtado.

Tags: jornalismo

Site oficial: http://www.omercadodenoticias.com.br
FaceBook: http://pt-br.facebook.com/omercadodenoticias

O que é?


O roteiro do documentário “O Mercado de Notícias” tem como linha condutora a peça homônima do dramaturgo inglês Ben Jonson (1572- 1637), “The staple of news”. A peça de Jonson foi encenada pela primeira vez em 1626, em Londres, e esta é sua primeira tradução para a língua portuguesa, feita por mim e pela professora Liziane Kugland. A peça é uma crítica bem humorada a uma atividade recentemente criada, uma novidade em Londres: o Jornalismo.
O Mercado de Notícias, o filme, traça um painel sobre mídia e democracia, incluindo uma breve história da imprensa, desde o seu surgimento, no século 17, até hoje, destacando seu papel na construção da opinião pública, seus interesses políticos e econômicos.
O documentário enfatiza dois aspectos destacados na peça de Ben Jonson: o primeiro o debate sobre a credibilidade da notícia, que inevitavelmente contraria e favorece interesses; o segundo é a necessidade constante e crescente de informações, a demanda por notícias que acaba por se tornar entretenimento.
Além dos trechos da peça e de pequenos documentários sobre a história do jornalismo, o filme traz entrevistas com treze grandes jornalistas brasileiros. Estas entrevistas, onde os profissionais compartilham suas experiências e percepções acerca da profissão – presente, passado e futuro – estão também disponíveis aqui no site, em versões ampliadas.
Acredito que um documentário, para ser durável – e ele deve ser, mais que uma notícia -, tem que ser útil, no sentido de iluminar um tema, uma atividade, uma época. Deve servir de elemento deflagrador de debates, instigar novas pesquisas, despertar nos espectadores aquilo que o Umberto Eco chama de “espírito de decifração”.
“O Mercado de Notícias” debate critérios jornalísticos, e este é o seu sentido e o sentido da peça de Jonson. É também uma defesa da atividade jornalística, do bom jornalismo, sem o qual não há democracia.

Jorge Furtado
Diretor e Roteirista


O Mercado de Notícias é um documentário sobre jornalismo e democracia.

O filme traz os depoimentos de treze importantes jornalistas brasileiros sobre o sentido e a prática de sua profissão, as mudanças na maneira de consumir notícias, o futuro do jornalismo, e também sobre casos recentes da política brasileira, onde a cobertura da imprensa teve papel de grande destaque.
O surgimento do jornalismo, no século 17, é apresentado pelo humor da peça “O Mercado de Notícias”, escrita pelo dramaturgo inglês Ben Jonson em 1625. Trechos da comédia de Jonson, montada e encenada para a produção do filme, revelam sua espantosa visão crítica, capaz de perceber na imprensa de notícias, recém-nascida, uma invenção de grande poder e grandes riscos.

Ficha técnica

O Mercado de Notícias (HD, 94 min, 2014)

Roteiro e Direção: Jorge Furtado
Produção Executiva: Nora Goulart
Montagem: Giba Assis Brasil
Direção de Fotografia: Alex Sernambi / Jacob Solitrenick
Direção de Arte: Fiapo Barth
Figurinos: Rosângela Cortinhas
Som Direto: Rafael Rodrigues
Música: Leo Henkin
Pesquisa: Bibiana Osório
Direção de Produção: Nicky Klöpsch
Assistente de Direção: Janaína Fischer
Coordenação de Finalização: Bel Merel
Estúdio de Som: Kiko Ferraz Studios
Animações: Rocket
Finalização: Cubo Filmes
Masterização DCP: Mistika
Site: Dobro Comunicação
Estratégia de Comunicação Digital: Zé Agripino e Babi Sonnewend

* Projeto selecionado no Edital de Apoio à Produção de Obras Audiovisuais Cinematográficas do Gênero Documental nº 05, de 2011, do Ministério da Cultura.

Filme compartilhado no MinhaTeca: 
http://minhateca.com.br/gatomestre.com/O+Mercado+de+not*c3*adcias-www.gatomestre.com,142767106.avi(video)

O MERCADO DE NOTÍCIAS


Um painel sobre mídia e democracia, incluindo uma breve história da imprensa, desde o seu surgimento, no século 17, até hoje. O papel da imprensa na construção da opinião pública, seus interesses ideológicos, políticos e econômicos. A história da imprensa será ilustrada pelo humor da peça “O Mercado de Notícias” (The staple of news, 1625), de Ben Jonson*, uma comédia sobre o surgimento do jornalismo. Trechos dos ensaios e da encenação da peça serão intercalados com documentários sobre a história da mídia e sobre casos recentes da política brasileira, onde a imprensa tem papel de grande destaque.

Ao traçar um painel sobre a história da mídia no Brasil e no mundo, o documentário pretende enfatizar dois aspectos destacados na peça de Ben Jonson. O primeiro é um debate sobre a credibilidade da notícia, que inevitavelmente contraria e favorece interesses. O segundo é a necessidade constante e crescente de informações, a demanda por notícias que acaba por se tornar uma espécie de entretenimento.

As entrevistas realizadas para o documentário, assim como a leitura dramática do texto de Ben Jonson, será disponibilizada ao público, na íntegra, no site do filme.


*Ben Jonson (Westminster, 11 de Junho de 1572 — Londres, 6 de Agosto de 1637) foi um dos grandes dramaturgos da Renascença inglesa, contemporâneo de Shakespeare. Entre suas peças mais conhecidas estão Volpone e O Alquimista. Jonson também foi ator e professor, um dos homens de maior cultura de seu tempo.

Jorge Furtado e Liziane Kugland são autores da primeira tradução da peça de Ben Jonson para a língua portuguesa. Em sua tradução, mantiveram as músicas, as rimas dos trechos em verso e adaptaram as paródias e referências a pessoas reais da época de Jonson, que eram bem conhecidas por sua platéia, para um contexto reconhecível ao público brasileiro de hoje, mantendo a ação na Inglaterra do século XVII.

Entrevista completa dos jornalistas

Fernando Rodrigues nasceu em 1963 e formou-se em jornalismo na Universidade Metodista de São Paulo, em São Bernardo do Campo, em 1985. Entre 1986 e 1987, fez mestrado em jornalismo internacional na City University, em Londres, no Reino Unido.
Na Folha de S.Paulo desde 1987, foi repórter, editor de Economia, correspondente em Nova York (1988), Tóquio (1990) e Washington (1990-91). Na sucursal de Brasília da Folha desde 1996, assina a coluna Brasília, na página 2 do jornal, às quartas e sábados. Mantém uma página de política no UOL desde o ano 2000 com informações estatísticas e analíticas sobre eleições, pesquisas de opinião e partidos políticos. Em 2007 recebeu uma fellowship da Fundação Nieman, na Universidade Harvard (Cambridge, MA, nos Estados Unidos).
É autor dos livros Políticos do Brasil (Publifolha, 2006), Racismo Cordial (Ática, 1994) e coautor de Os Donos do Congresso – A Farsa na CPI do Orçamento (Ática,1995), vencedor do Prêmio Jabuti de Livro-reportagem 1995.
Ganhou 4 prêmios Esso: Prêmio Esso de Jornalismo de 1997 (reportagem sobre a compra de votos na votação da emenda da reeleição); Prêmio Esso de Melhor Contribuição à Imprensa em 2002 (reportagens e o banco de dados Controle Público, que tem mais de 6.000 declarações de bens de políticos); Prêmio Esso de Melhor Contribuição à Imprensa em 2003 (relato sobre venda reportagem na mídia do Estado do Paraná) e Prêmio Esso de Melhor Contribuição à Imprensa em 2006 (livro e site Políticos do Brasil). O trabalho Controle Público (que atualmente é o Políticos do Brasil) também foi premiado em 2002 com o Líbero Badaró de Webjornalismo e com o Prêmio para Internet da Fundación Nuevo Periodismo Internacional, presidida pelo escritor colombiano Gabriel García Márquez.
Renata Lo Prete nasceu em São Paulo. Formou-se em jornalismo pela USP. Desde 1986, trabalhou na Folha de S. Paulo, onde exerceu, entre outras funções, as de repórter da Ilustrada e de política, correspondente em Nova York, editora de ciência, editora da Primeira Página e ombudsman. Ainda no jornal, editou, a partir de 2003, a coluna Painel Político.
Em 2005, fez as entrevistas com o então deputado Roberto Jefferson que revelaram o esquema do mensalão. Por esse trabalho, recebeu o Grande Prêmio Esso de Jornalismo.
Em 2011, estreou como comentariata na GloboNews. Em 2012, transferiu-se para o canal, onde atualmente é editora de política do Jornal das Dez.
Luís Nassif teve seu primeiro contato com o jornalismo aos 13 anos, editando o jornal do Grupo Gente Nova, em sua cidade natal, Poços de Caldas (MG). Em 1969, passou no vestibular de jornalismo da ECA-USP e começou a trabalhar profissionalmente em 1970, como estagiário da revista Veja. Em 1974, tornou-se repórter de Economia da revista. No ano seguinte, ficou responsável pelo caderno de Finanças. Em 1979, transferiu-se para o Jornal da Tarde. Lá criou a seção Seu Dinheiro, primeira experiência de economia pessoal da imprensa brasileira, e o caderno Jornal do Carro.
Em 1983, mudou-se para a Folha de S.Paulo, onde criou a seção Dinheiro Vivo e participou do projeto de criação do Datafolha. Criou em 1985 o programa Dinheiro Vivo, na TV Gazeta, e a partir dele fundou, em 1987, a Agência Dinheiro Vivo, que desde então veicula na internet informações de Economia e Negócios. Foi comentarista econômico da TV Bandeirantes e da TV Cultura de São Paulo. Também atuou no rádio, como um dos apresentadores do Jornal Gente, na Bandeirantes de São Paulo. Em 1987 saiu da Folha, por pressão do então Ministro da Justiça Saulo Ramos. A saída deu-se seis meses após receber o Prêmio Esso, por denúncias contra Saulo.
Retornou ao veículo em 1991 como colunista de Economia, função que exerceu até 2006. Desde 2005 mantém o Blog do Nassif (hospedado em vários portais), em que escreve sobre os mais variados assuntos, incluindo críticas à própria imprensa. Atualmente apresenta o programa Brasilianas.org, na TV Brasil, que discute políticas públicas aliando TV e internet.
Autor dos livros: Menino do São Benedito e outras crônicas (Ed. Senac, 2001); O jornalismo dos anos 90 (Ed. Futura, 2003); e Os Cabeças-de-Planilha (Ediouro, 2007), sobre a economia nos governos de FHC.
Geneton Moraes Neto nasceu no Recife (PE), em 1956. Iniciou a carreira de repórter com 16 anos, no Diário de Pernambuco. Formou-se em Jornalismo na Universidade Católica de Pernambuco (Unicap), em 1977. Entre 1975 e 1980, foi repórter da sucursal Nordeste do jornal O Estado de S. Paulo. Participou do movimento de cinema Super-8 de Pernambuco. Passou uma temporada em Paris, em 1980/1981, estudando Cinema na Sorbonne.
De volta ao Brasil, entrou na TV Globo Nordeste (PE) em 1981 como repórter e editor. Em 1984/85, outra temporada europeia, dessa vez como editor freeelancer no escritório da Rede Globo em Londres. Mudou-se para o Rio de Janeiro em 1985 como editor do RJTV. Em maio de 1986, tornou-se editor-executivo do Jornal da Globo. Em 1987, passou a colaborar regularmente com o caderno Idéias, do Jornal do Brasil, com entrevistas com escritores brasileiros e estrangeiros.
De volta à Globo em 1988, trabalhou na edição do programa Pequenas Empresas, Grandes Negócios. Entre 1990 e 91, foi editor-executivo do Jornal Nacional. Em seguida, foi para o Fantástico e em 1994 passou a editor-chefe do programa.
Em 1995, novamente em Londres, atuou no escritório da TV Globo. Em, seguida, trabalhou como correspondente em Londres do jornal O Globo e da Globonews, além de gravar e editar regularmente entrevistas para o programa Milênio.
Retornou ao Brasil em 1998, quando fez parte da equipe do programa Muvuca, comandado por Regina Casé. Em setembro do mesmo ano, voltou a ocupar o cargo de editor-chefe do Fantástico. Em 2006, abriu mão do posto de editor-chefe do Fantástico e passou a se dedicar exclusivamente à reportagem.Transferiu-se para a Globonews em 2009, onde passou a entrevistar personalidades de várias áreas para o programa Dossiê Globonews. Com as entrevistas com os generais Newton Cruz – ex-chefe do SNI – e Leônidas Pires Gonçalves – ex-chefe do DOI-CODI e ex-ministro do Exército – , ganhou o Prêmio Embratel de Telejornalismo, em 2010.
Dirigiu os documentários: Canções do exílio – a labareda que lambeu tudo (2010, para o Canal Brasil), e, pela Globonews, Garrafas ao Mar – a Víbora Manda Lembranças (2012), com entrevistas gravadas ao longo de vinte anos de convivência com o jornalista Joel Silveira; e Dossiê 50 – Comício a Favor dos Náufragos (2013), com gravações feitas com todos os onze jogadores que enfrentaram a Uruguai na decisão da Copa de 1950, no Maracanã.
É autor dos livros: Caderno de Confissões Brasileiras – Dez depoimentos, palavra por palavra (Comunicarte, 1983); Cartas ao Planeta Brasil (Revan, 1988); Hitler-Stalin: o Pacto Maldito (Editora Record, 1990) e Nitroglicerina Pura (Record, 1992), em parceria com Joel Silveira; Dossiê Drummond (Globo, 1994 e 2007); Dossiê Brasil: As histórias por trás da história recente do Brasil (Objetiva, 1997); Dossiê 50: um repórter em busca dos onze jogadores que entraram em campo para serem campeões do mundo em 1950, mas se tornaram personagens do maior drama da história do futebol brasileiro (Objetiva, 2000 e Editora Maquinária, 2013); Dossiê Moscou: Um repórter brasileiro acompanha o desfecho da mais fascinante reviravolta política do século XX: O dia em que começou a busca por uma nova utopia (Geração Editorial, 2004); Dossiê Brasília: os segredos dos presidentes (Globo, 2005); Dossiê História (Globo, 2007); e Dossiê Gabeira: o filme que nunca foi feito (Globo, 2009).
Em 2012, recebeu da Academia Brasileira de Letras a Medalha João Ribeiro, concedida a personalidades que se destacam na área da cultura.
José Roberto de Toledo é jornalista, formado pela ECA/USP em 1986. É um dos fundadores da Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo, da qual é o atual presidente.
É colunista de política do jornal O Estado de S.Paulo, em cujo portal mantém o blog Vox Publica. Criou e coordena o Estadão Dados, primeiro núcleo de jornalismo de dados da imprensa brasileira. É também comentarista do telejornal RedeTV News e entrevistador do programa É Notícia.
Trabalhou por 13 anos na Folha de S.Paulo, onde atuou como editor da coluna Painel de 1991 a 1996, e como repórter especial de 1996 a 2000. Criou e foi editor-chefe do Jornal do Terra, no portal do mesmo nome, de 2002 a 2006.
Pioneiro das técnicas de Reportagem com Auxílio do Computador (RAC) no Brasil, dá cursos sobre o tema no Brasil e no exterior para instituições como: Knight Center for Journalism in the Americas, Abraji, ECA-USP, FGV e redações como Rede Globo, Folha de S.Paulo, O Globo, O Estado de S. Paulo, entre outras.
Co-autor de Era FHC: um Balanço (Editora Cultura, 2002), Persuasão e Marketing Eleitoral (Konrad Adenauer, 2000) e organizador da série de livros SP21 para a Editora Brasiliense.
Paulo Moreira Leite é jornalista desde os 17 anos, tendo começado a carreira na editoria de Esportes do Jornal da Tarde (SP). Estudou Ciências Sociais na Universidade de São Paulo (USP/SP).
Depois de trabalhar cinco anos no Jornal da Tarde, foi para a Folha de S.Paulo, onde ficou pouco mais de um ano. Em seguida, foi para a revista Veja e lá desempenhou as funções de redator-chefe e correspondente em Paris. Morou dois anos na capital francesa. Em duas passagens, somou 17 anos na revista.
Em 1999, foi contratado pela Gazeta Mercantil para ser correspondente em Washington. Dois anos depois, em setembro de 2001, assumiu o cargo de diretor de redação da revista Época e, depois, do Diário de S.Paulo. Também foi repórter especial de O Estado de S.Paulo, em Brasília e, durante oito meses, vice-presidente da Imprensa Oficial do Estado de São Paulo. Atuou também no portal iG e retornou à Época em 2008, onde foi repórter especial e colunista.
Em janeiro de 2013, assumiu a direção da sucursal da revista IstoÉ em Brasília.
É autor dos livros A mulher que era o general da casa – Histórias da resistência civil à ditadura (Arquipélago, 2012) e A Outra História do Mensalão (Geração, 2013).
Janio de Freitas iniciou como jornalista no Diário Carioca. Desde então foi diagramador, repórter, fotógrafo, redator, editor e reformador de jornais (Jornal do Brasil, Correio da Manhã e Última Hora-RJ, nestes dois últimos como diretor-geral). Trabalhou também nas revistas Manchete e O Cruzeiro. Como colunista do jornal Folha de S.Paulo, criou uma modalidade de comprovação de fraudes em concorrências de obras públicas, revelando e anulando licitações de bilhões de dólares.
Recebeu numerosos prêmios no Brasil e no exterior, como o Prêmio Internacional de Jornalismo Rei de Espanha. Entre outros, recebeu também a Medalha Chico Mendes, concedida aos que se destacam na luta pelos direitos humanos e por uma sociedade mais justa.
Leandro Fortes formou-se em Jornalismo pela Universidade Federal da Bahia (UFBA) e construiu a sua carreira em Brasília (DF).
Trabalhou para o Correio Braziliense e foi correspondente na capital federal dos jornais O Estado de S.Paulo, Zero Hora, Jornal do Brasil e O Globo. Atuou também na revista Época, na TV Globo, na Agência Brasil, e foi comentarista da Voz do Brasil, da rádio Nacional.
Foi repórter correspondente da revista CartaCapital, em Brasília, durante oito anos – período em que manteve um blog referência em cobertura política, na versão digital da revista. Deixou a publicação em novembro de 2013 e assumiu na agência digital Pepper Interativa como consultor para a produção de conteúdo.
É o criador da Escola Livre de Jornalismo, em Brasília, e do curso de Jornalismo Online do Serviço Nacional do Comércio do Distrito Federal (Senac/DF).
Publicou os livros Cayman – O dossiê do medo (Record, 2002); Fragmentos da Grande Guerra (Record, 2004); Jornalismo Investigativo (Contexto, 2005) e Os Segredos das Redações – O que os jornalistas só descobrem no dia a dia (Contexto, 2008). Participou também como coautor dos livros O Brasil no Contexto (Contexto, 2007), organizado por Jaime Pinsky; Políticos ao Entardecer (Cultura Editora Associados, 2007), organizado por Ney Figueiredo; e Reportagem, Pesquisa e Investigação (Editora Insular, 2012), organizado por Rogério Christofoletti e Samuel Lima.



ENTREVISTA / JORGE FURTADO

O jornalismo e o mercado de notícias

Por Norma Couri em 19/08/2014 na edição 812(Observatório da imprensa)


O Mercado de Notícias, a peça, tem 389 anos, escrita por um contemporâneo de Shakespeare, Ben Johnson, três anos depois do nascimento do primeiro jornal em Londres.
O Mercado de Notícias, o filme, acaba de estrear com trechos da peça montada pelo diretor gaúcho Jorge Furtado e depoimentos de 13 jornalistas. Peça e depoimentos entrecortados, parece que Ben Johnson é contemporâneo, vive aqui ao lado.
A profissão mais antiga do mundo, tirando aquela, é representada e relatada no documentário com as mesmas qualidades e defeitos de quase quatro séculos atrás. A manipulação da informação, a relação promíscua do jornalista com a fonte, as fofocas, o jornalismo de celebridades, o jornalista interferindo, às vezes alterando, às vezes intermediando o encontro do leitor e o fato.
É o primeiro documentário do cineasta que não terminou nenhuma das faculdades que cursou, incluindo as de Jornalismo e de Medicina, que entre direção e roteiro acumula cerca de 50 títulos na filmografia de curtas, longas e séries de TV, além de nove livros. Ilha das Flores, de 1989, uma obra-prima sobre um lixão frequentado por porcos e humanos, ganhou o Urso de Prata no festival de Berlim, e os outros filmes, duas dúzias de prêmios.
Mas por que logo agora que a profissão como a conhecemos quase despenca, e muda os contornos para alguma coisa desconhecida, Jorge Furtado resolveu tratar dela?
O documentário ouviu Janio de Freitas, Mino Carta, José Roberto Toledo, Fernando Rodrigues, Bob Fernandes, Cristiana Lobo, Geneton Moraes Neto, Leandro Fortes, Luis Nassif, Maurício Dias, Paulo Moreira Leite, Raimundo Pereira e Renata Lo Prete.
E cita, por exemplo, Millôr Fernandes: “Jornalismo é oposição, o resto é armazém de secos e molhados”; Jorge Luis Borges: “Jornalismo é um museu de miudezas efêmeras”; o historiador britânico Arnold Toynbee, sobre a cobertura política: “Quem não gosta de política está condenado a ser governado por quem gosta”; o editor-chefe da revista People Richard Stolley, sobre matérias que atraem o público: “Jovem é melhor do que velho, rico é melhor do que pobre, bonito é melhor do que feio, música é melhor do que cinema, qualquer coisa é melhor do que política e nada é melhor do que uma celebridade morta”.
Furtado mantém atualizado o site www.omercadodenoticias.com.br, onde estão as entrevistas, a peça completa em inglês e português e a pesquisa de oito anos ao custo de R$ 660 mil bancados pelo Ministério da Cultura e a Casa de Cinema de Porto Alegre. Mas não perca o filme.
Aqui, a entrevista que Furtado concedeu ao Observatório:

Qual a sua impressão sobre o futuro do jornalismo hoje?
Jorge Furtado – Sou bem otimista.
Por quê?
J.F. – Depois de passado esse vendaval da internet, essa confusão que é o novo jornalismo, Twitter, Facebook, sites, blogs e tal, vai acontecer de novo o que aconteceu com a invenção da imprensa. O jornalismo sempre existiu. O soldado que chegou correndo de Maratona, para avisar às mulheres que tinham vencido os persas, era um repórter. Muito antes da imprensa já existia jornalismo – manuscrito, cartas, diários.
A peça fala nos barbeiros...
J.F. – É, e os nobres, eles paravam na praça, subiam no banquinho e contavam “está acontecendo isso e isso”, as pessoas se juntavam e iam para os barbeiros, contavam tudo o que ouviram e os barbeiros passavam adiante a história. Normalmente aumentando... o que os jornalistas também fazem (risos). Jornalismo sempre existiu, mas a invenção da imprensa trouxe uma explosão de notícias, jornais impressos, gazetas, revistas, notícias vendidas a granel, folhas soltas mesmo. Misturavam relatos verídicos e completamente fantasiosos, antigos. Podia ter acontecido há cinco anos, ano passado... E onde estava a credibilidade? Em quem vou acreditar? Assim os jornais foram obrigados a se estabilizar. É o que vai acontecer agora.
É impressionante a contemporaneidade da peça.
J.F. – Quando critica “são noticias saídas todos os sábados escritas por gente que não sai de casa...”, parece que estão falando das revistas de hoje!
O Paulo Moreira Leite comenta sobre repórter que não vai mais para a rua, cita Euclydes de Cunha na guerra de Canudos, “ele não foi para a rua, foi para o sertão”.
J.F. – Mas depois desse oba-oba vai haver depuração. Quando a internet começou a crescer em 1990 parecia que o jornalista era dispensável. Todo mundo tem Twitter e Facebook, para que cursos de jornalismo? Os jornais se encheram de colaboradores falando do café da manhã, “fui ver o filme, achei bacana”... Não, aguarde que nós vamos voltar, não para o papel, mas para quem tem credibilidade.
Foi o Leandro Fortes quem falou no filme: “Jornalismo é uma coisa muito nobre para acabar”. E o Raimundo Pereira: “Com essa confusão toda, o melhor para se acreditar ainda é o jornalão burguês porque tem 100 repórteres, 10 editores, departamento comercial...”
J.F. – Ele disse, mas acrescentou: “Eu não sou um dos maiores admiradores da burguesia”. E atrás dele tinha uma parede de Lênin que ia do teto ao chão. Imagine, ele é o último esquerdista; depois que morreu o [Oscar] Niemeyer ficou o Raimundo (risos).
O que você acha disso?
J.F. – Papel não tem sentido. Estão cortando uma árvore, pegando tinta, imprimindo o rolo, encadernando, botando num caminhão, andando pelas cidades, atravancando o trânsito, para chegar lá em casa um negócio que já li na noite anterior na internet.
A não ser o jornal dê ao leitor um plus.
J.F. – É o que o Janio de Freitas acha, ele diz que “o jornal tem que pensar o que tem de fazer para ser interessante. Já enfrentou a rádio, a televisão, e continuou. O jornal tem que pensar em si mesmo”. Pode ser que o jornal se reinvente, como aconteceu com a história em quadrinhos, [que] estão crescendo em papel, na internet não é legal de ver.
Para isso vai ser necessário algo fundamental...
J.F. – ... o profissional jornalista, tanto faz que seja no papel ou no digital.
Logo agora que Gilmar Mendes acabou com a necessidade do diploma?
J.F. – Só que as faculdades voltaram mais fortes, mais equipadas com TV e rádio, melhores do que quando entrei em 1981 na [Universidade] Federal [do Rio Grande do Sul, em] Porto Alegre. Sabe por quê? Os jornais descobriram: onde é que eu vou achar vocês?
Ou seja, as faculdades implantaram a tecnologia e estão mais fortes. Mas não ficou uma defasagem em relação à produção teórica?
J.F. – É do que eu sinto falta, não só no jornalismo, mas no cinema. A gente não tem roteiristas porque falta leitura. O Geneton Moraes Neto diz isso: “Não existe exceção à regra, só sabe escrever bem quem lê”.
A Lygia Fagundes Telles disse outro dia que “quem está em processo de extinção não é o livro, é o leitor”.
J.F. – O Geneton fala: “O jornalista tem que investir em si mesmo, ler”. Jornalista não pode ser só um copiador de internet, copia-cola, tem de relacionar, filtrar.
Quem é o bom roteirista de cinema hoje no Brasil?
J.F. – O [Fernando] Bonassi, o Marçal [Aquino], o João Falcão, o George Moura, Guel Arraes e o Claudio Paiva, por exemplo. E poucas mulheres, a Adriana Falcão... Mas o Brasil hoje produz muito, 100 filmes por ano...
Não é só dramaturgia que falta, é teatro, é interpretação, que o naturalismo da televisão está matando.
J.F. – O realismo predomina na televisão. Eu até tento quebrar. Fiz uma série na Globo com a Fernanda Montenegro, Doce de Mãe, com 14 episódios. E faço experiências a toda hora – por exemplo, a série em versos Decamerão. Gosto de experimentar, mesmo na televisão, coisas não realistas. O problema é que com o realismo as pessoas se identificam rápido.
Ainda bem que temos bons documentaristas...
J.F. – O [Eduardo] Coutinho, mestre de todo mundo, inclusive do João Moreira Salles, que é o maior cineasta brasileiro hoje.
Eles são de uma geração que ainda lia.
J.F. – Como eu, 55 anos. Sou a última geração de leitores, devo ter uns 8 mil volumes, tive de comprar um apartamento só para os livros que não param de crescer. Eu me identifico muito com o Borges: ele chegava numa livraria, pegava um livro e dizia: “Ai, gostaria tanto de levar para casa esse livro... mas é um livro que eu já tenho!” (risos). Sou leitor compulsivo. E como Borges também não sou inimigo de gêneros. Só tenho umas obsessões. Shakespeare em primeiro lugar, Borges, claro, Montaigne, Fernando Pessoa... Gosto de poesia, João Cabral, Carlos Drummond. Leio poesia e sei muitas de cor porque leio até decorar... Se fosse profissão eu seria leitor!
Oito mil volumes... então você lê no papel!
J.F. – Claro, gosto de anotar à caneta; na internet, só noticia, coisa rápida.
Entrando na Pecúnia, personagem que financia o jornal na peça O Mercado de Notícias, não é no cinema que você ganha dinheiro.
J.F. – De jeito nenhum. Eu vivo da televisão.
E de publicidade?
J.F. – Fiz publicidade por quatro anos, nos anos 1980. Eu fazia a TV Educativa do Rio Grande de Sul, TVE hoje. Programas especiais, um curta, quando fiz o segundo, O dia em que Dorival encarou a guarda, o filme foi para Gramado e pedi autorização ao meu chefe para ir ao festival. Ele negou. Eu disse que iria de qualquer jeito. Voltei de Gramado com oito Kikitos e uma justa causa: fui demitido porque faltei uma semana. O filme ganhou o Festival de Gramado.
Só por curiosidade, quem era o diretor?
J.F. – Era um jornalista (risos), Cândido Norberto. Eu tinha um filho de dois anos, minha primeira mulher Eliana estava grávida de seis meses de nossa segunda filha, Júlia. [Jorge Furtado é casado há 25 anos com Nora Goulart com quem teve Alice.] Fui fazer publicidade. Nos primeiros seis meses ganhei mais do que no resto da minha vida até então.
Não tinha, digamos, conflitos internos?
J.F. – Claro, fazia comercial de banco, filmando de madrugada porque o banco tinha de estar fechado, 50 pessoas lá dentro, e acontece aquela cena clássica do casal chegando e cumprimentando o gerente, gerente sorridente. E eu pensava: quando vou ao banco o cara está sorrindo, as pessoas rindo dentro do banco, felizes? Isso não existe. Pensava: o que eu estou fazendo aqui? Mas tinha eu pagar as contas. Fazia publicidade mas não larguei os meus curtas. Fiz o Barbosa,Ilha das Flores – e este foi o que “Madalena” foi para o Ivan Lins (risos).
Ganhou todos os prêmios no Brasil e em Berlim. E o tema seria uma coisa chatérrima...
JC – Foi um convite de um professor da universidade para fazer um documentário sobre separação de lixo. Fui conhecer os lugares de lixo da cidade, e ele me mostrou um lugar onde as pessoas utilizam produto orgânico para alimentar os porcos e depois abrem para os humanos. Com a repercussão, o [diretor Walter] Avancini me chamou para a Globo; depois que ele saiu o Guel Arraes me convidou e era o que faltava para largar a publicidade.
Você largou a Pecúnia. O Janio de Freitas falou no seu filme sobre o negócio da publicidade os repórteres, os jornalistas...
J.F. – ... acham estão ali para fazer jornalismo, não é...
...você está é fazendo dinheiro, aumentando a tiragem, e depois tem que atrair publicidade. Aí alguém lembrou: mas como o jornal sobrevive sem publicidade?
J.F. – Não sobrevive. Vai ter publicidade, com ou sem papel.
E o jornalista, como sobrevive? ONGs? O Geneton clama pela Nossa Senhora do Perpétuo Espanto (risos), já que os jornalistas perderam a capacidade de se espantar...
J.F. – O cara tem que achar o espaço para o jornalismo dele. Todos os jornalistas que entrevistei, a maioria com uma carreira longa, todos vivem de jornalismo. Um tem blog, outro escreve em jornal, outro faz TV, alguns rádio. Se viram, podem gravar em casa um programa de rádio com o próprio celular. Se começa a ter viewers, agentes entrando lá todo dia, o Google começa a subir e você fica interessante para colocar anúncio.
Não é muito fácil você ser bom jornalista, seu próprio patrão, bom em captar anúncios, especialista em gerir as finanças do seu negócio, ainda mais no jornalismo virtual.
J.F. – Segundo o Geneton, nesse momento existem vários economistas pensando em como sustentar o jornalismo na era digital. O Luis Nassif tem uma página na internet com mais de 100 mil entradas por dia. Quem confia no IVC que dá a circulação dos jornais e revistas? Na internet isso é auditado digital e instantaneamente. O anunciante sabe: esse blog aqui fala sobre sanduíches e tem 50 mil entradas por dia, eu fabrico mostarda, vou botar o meu anúncio lá.
Mas é mais fácil para os anunciantes quando o blog ou site é dirigido, para as farmácias, vestuário, economia...
J.F. – O Nassif tem anúncio da Caixa Econômica, de banco, carro... Você pode não saber quem entra num site como UOL ou Terra, grandes portais, tem desde menino querendo ver futebol, mulher pelada, tem de tudo. Agora, num site dirigido como o do Nassif, são pessoas adultas, interessadas em política, um grupo formador de opinião. Por isso, no lançamento do meu documentário fizemos a mídia dirigida. Quem são as pessoas que se interessam por jornalismo? Escolas de jornalismo, faculdades de jornalismo, professores de jornalismo. Foi publicidade direta para um público mais quente.
O jornalismo não vai morrer?
J.F. – Não. Imagina.
O que vai morrer são os jornais?
J.F. – Como a gente vai viver sem jornalismo? Eu coleciono até manchetes esdrúxulas como “O luxo da Fifa na Bahia vê abismo em 3km com jegue e casa”. Entendeu alguma coisa? (risos). “Morador de rua é condenado à prisão domiciliar” (mais risos). E o jornalismo endocrinológico? Emagreça, vamos engordar, comer bem, não coma manteiga, coma manteiga... Tem uma frase assim: “Celebridades são pessoas conhecidas por serem famosas” (risos). Só esta dava um filme inteiro e as celebridades tomaram conta das bancas.
Na banca onde antigamente a gente ficava em dúvida sobre que jornal comprar, agora no Rio só tem O Globo.
JC – Pois é, tinha o Movimento, o Pasquim, o Opinião... o que não era nada perto dos anos 1940 e 50, quando o Rio tinha 17 jornais diários. Porto Alegre tinha o Diário de Notícias, o Correio do Povo, o Jornal da Tarde, a Folha da Manhã. Hoje tem a Zero Hora. Você chega em Paris e tem jornal de esquerda, de direita, de centro, de extrema esquerda, do Partido Comunista, jornal de todas as tendências. Os jornais brasileiros são todos iguais e você fica em dúvida: o que está por trás? Nos Estados Unidos, o New York Times, por exemplo, declara “nós apoiamos o candidato tal” e publica tudo de todos os partidos no noticiário para o leitor escolher, mas sua posição fica definida nos editoriais.
Aqui você tem de ser um leitor muito bom para saber.
J.F. – Eu espero que o filme sirva para educar os leitores. Coloquei uma frase, um dos lemas do Pasquim: “Se você não está em dúvida é porque foi mal informado”.
E, como o Janio de Freitas disse, “tomara que os jornais não dispensem os jornalistas”.
J.F. – E ele diz uma frase que encerra o filme: “O jornalismo depende do jornalista”.
***
Norma Couri é jornalista

Entrevista com Jorge Furtado, por Daniel Nolasco e Felipe Fernandes 
O documentário utiliza vários recursos narrativos para traçar um painel histórico e crítico do jornalismo e da notícia. Gostaria que você comentasse como se deu o processo de realização do filme.

O projeto nasceu de um sentimento de que o jornalismo brasileiro entrou o século 21 em crise, uma crise decorrente da revolução digital, que transformou tudo, e também da transformação política vivida pelo país, com uma nova força política chegando ao poder e com a grande imprensa assumindo, pela primeira vez em sua história, um papel fortemente oposicionista. O diploma de jornalismo deixou de ser obrigatório, os jornais se encheram de colaboradores não-jornalistas, houve queda na audiência dos grandes veículos, queda de circulação, o fim de alguns jornais e revistas, e uma profusão de mídias e redes sociais. Tudo isso fez muita gente acreditar que o jornalismo estava com os dias contados. A mim, pareceu que o momento exigia a valorização da profissão, com seus critérios técnicos e seus compromissos éticos. Na busca por entender o que estava acontecendo, fui estudar a história do jornalismo e encontrei a peça de Ben Jonson, The staple of news, escrita em 1625, que retratava um momento semelhante ao atual. A invenção de uma nova tecnologia, naquela época a imprensa de tipos móveis, fez explodir o volume de informação circulante e também transformou profundamente as estruturas de poder, com o fortalecimento da classe política, do parlamento e de uma burguesia com poder crescente, contrapondo-se ao poder da nobreza. Fiz a tradução da peça com Liziane Kugland e fiquei espantado com a atualidade das críticas e observações de Jonson sobre a imprensa recém nascida. Usei a peça como guia para uma pauta de entrevistas com grandes jornalistas brasileiros.

Há no filme uma clara discussão do poder e influência da notícia sobre a política ou como o jornalismo interfere no destino político do país. Qual a sua opinião sobre a forma que a grande imprensa brasileira aborda o governo atual?

Uma das principais funções da imprensa é ser crítica aos governos, todos os governos. A questão é que a imprensa tem grandes interesses econômicos e políticos, e é muito mais crítica aos governos que se opõem ou limitam estes interesses, como é o caso dos governos Lula e Dilma. É impossível negar que a imprensa foi muito mais generosa com os governos militares e neoliberais e muito mais crítica aos governos populares. Muitas vezes, as denúncias contra os governos populares foram publicadas com grande alarde e pouquíssimo rigor nas apurações e verificação das fontes, enquanto as denúncias contra os governos neoliberais eram tímidas, cautelosas e logo abafadas e esquecidas.

Em O Mercado de Notícias, vemos muito mais da sua relação com os atores da peça do que com os jornalistas escolhidos para o filme. Como foi o processo de escolha dos jornalistas?

Sim, o importante no caso dos jornalistas era lhes dar voz, falar sobre o seu ofício, já que são, ironicamente, uma categoria sem-mídia, pois há pouquíssimo espaço para a discussão deste tema. Escolhi jornalistas de vários veículos, jornalistas cujo trabalho eu acompanho faz tempo, nos quais reconheço capacidade e honestidade intelectual, e que sabia terem opiniões diferentes sobre vários dos temas tratados. Meu objetivo principal era provocar dúvidas e estimular o debate. No caso dos atores, como sempre faço, o trabalho é coletivo. Teatro é jogo, parceria.

Como você avalia a atualidade do texto da peça original de Ben Jonson?


Jonson era um grande comediante, dramaturgo e também um sábio moralista. Queria transformar o mundo a partir do palco. Ele tem como princípio – explicitado na epígrafe do poeta Horácio que usa para sua peça – a ideia de que o poema (o texto, a peça) deve, ao mesmo tempo, divertir e ensinar: “O poema ensina ou delicia. Ou ambos, e este é o que vicia”. Sua peça tem uma moral clara, é didática, fala, entre outros temas, do bom senso no uso da riqueza (pecúnia): “Nem escrava de prazeres tolos, nem feitora de desejos justos”. Jonson critica a futilidade dos que querem aparecer nos jornais a qualquer custo, dos interesses políticos e econômicos por trás das notícias, da notícia como entretenimento de quem busca novidade sem critério, da fofoca e da maledicência como um prazer cruel, dos “panfletos escritos por quem não sai de casa, sem uma sílaba de verdade”. Tudo isso me parece, infelizmente, bastante atual.


Estreia: 'O mercado de notícias' discute pecados do jornalismo atual

Documentário é inspirado em peça escrita por Ben Jonson no século 17.
Trechos de encenação são intercalados a depoimentos de 13 jornalistas.

Neusa Barbosa Do Cineweb, via Reuters*
Cena de 'O mercado de notícias' (Foto: Divulgação)
Sempre muito original, o cineasta Jorge Furtado (“Saneamento básico: O filme”) foi buscar numa peça teatral da Inglaterra elisabetana do século 17 um paralelo para estabelecer uma perspectiva histórica para a aguçada discussão sobre critérios, falhas e importância da imprensa no Brasil em seu novo documentário, “O mercado de notícias”.
O filme estreia em dez cidades: São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Porto Alegre, Florianópolis, Curitiba, Salvador, João Pessoa, Santos e Juiz de Fora.
Concorrente na seção principal do Festival É Tudo Verdade e multipremiado no Cine PE, em Recife, o filme de Furtado empresta o título da própria peça – “O mercado de notícias”, de Ben Jonson (1572-1637) -, que surge no mesmo momento histórico em que começam a circular os primeiros jornais.
Já ali se estabelecem os desafios da própria atividade, a partir da constatação de que não há fatos brutos na natureza. Todo e qualquer acontecimento, então, é passível de seleção, análise, interpretação. Portanto, também de erros jornalísticos.
Dentro dessa discussão, o documentário debate a própria essência do jornalismo, ou seja, a obrigação de escolher o que publica ou não, o que cobre ou não, a necessidade de encontrar a novidade, de revelar histórias, equilibrando essa urgência com outra, não menos crucial: a da própria sobrevivência econômica e comercial.
Um aspecto que leva alguns a apostarem no sensacionalismo e, em última análise, no antijornalismo, para garantir altas tiragens e grandes receitas publicitárias.
Entre outros riscos implícitos à atividade, os jornalistas sempre dependem das fontes e elas, como se sabe, não raro têm seus interesses – que precisam ser “filtrados”, como observa no filme Geneton Moraes Neto.
Há uma indiscutível atualidade na discussão proposta por “O mercado de notícias” no Brasil atual, em que a imprensa tantas vezes pauta o debate político. Sempre foi assim? Depoimentos lembram que, até o golpe de 1964, havia uma identificação entre jornais e partidos – cada um tinha o seu.
Depois, praticamente todos se unem na resistência ao regime autoritário, que finalmente atingiu os interesses gerais, pela censura. Depois da redemocratização, em 1985, tornam-se não raro, muito conservadores.
Diretor da revista “Carta Capital”, o veterano Mino Carta não se esquiva de definir: “A mídia brasileira é um partido político”. E o que é pior, não se aceita como agente político, escondendo-se por trás de uma suposta isenção, ao mesmo tempo em que elege escândalos e personagens a quem crucificar impiedosamente e outros de quem oculta ou relativiza os pecados.
Menciona-se ainda outras mazelas, como erros crassos e trágicos - sendo o caso da Escola Base o maior da memória recente, talvez. Outros são lembrados: o “quadro de Picasso”, denunciado numa repartição do INSS, que não passava de um pôster, desses que se compram em qualquer museu; e a famosa “bolinha de papel” da última campanha presidencial do candidato José Serra.
Se tivesse sido feito mais recentemente, certamente o documentário poderia incluir a cobertura catastrofista que precedeu a Copa do Mundo.
Saindo de um modelo de documentário dependente exclusivamente de entrevistas, Furtado intercala as conversas com treze experientes jornalistas brasileiros com trechos de uma encenação da própria peça, a partir de uma tradução feita por ele mesmo e pela professora Liziane Kugland.
O recurso permite uma certa leveza, porque permite a inserção de comentários cínicos pertinentes aos tópicos em debate.
Para quem, no fim de contas, tiver a impressão de que Furtado é contra o jornalismo, ele mesmo contra-argumenta, defendendo, no material de divulgação, que seu filme é “uma defesa do bom jornalismo, sem o qual não há democracia”.
* As opiniões expressas são responsabilidade do Cineweb


O Mercado de Notícias

Por Marcelo Coelho
21/08/14 16:55


Sou naturalmente suspeito para comentar “O Mercado de Notícias”, documentário de Jorge Furtado sobre os problemas da imprensa brasileira.
Fiquei bastante embaraçado com uma das principais “descobertas” do filme: uma matéria escandalosamente errada que saiu na “Folha” há anos, apontando a existência de um quadro de Picasso na parede de um corredor burocrático do INSS.
Não era um Picasso autêntico, evidentemente, e a ideia da notícia –mostrar o descaso do poder público com o próprio patrimônio—caía por terra.
Não me lembro de ter visto a reportagem, que saiu com foto e tudo. O suposto quadro de Picasso era a reprodução de uma obra razoavelmente famosa, de um museu em Nova York, e quero imaginar que eu teria reconhecido o engano. Só agora, passados anos da notícia, saiu na “Folha” um “erramos” sobre o caso.
É um dos momentos mais interessantes do filme, ainda que incômodos para quem é da Folha.
Mas “O Mercado de Notícias” (veja horários no Guia da Folha) não se dedica muito ao divertido recenseamento dos deslizes jornalísticos. O principal do filme –e aqui surge um segundo motivo para minha suspeição ao comentá-lo—está numa série de entrevistas com jornalistas, seja os da grande imprensa (Fernando Rodrigues, Renata Lo Prete, Cristiana Lôbo), seja os que a criticam (Mino Carta, Luis Nassif, Raimundo Pereira).
Para quem é jornalista, muitos dos temas abordados nessas entrevistas trazem pouca novidade. “Existe imparcialidade?” “Existe liberdade de expressão nos grandes jornais?” “Os interesses econômicos prevalecem sobre a verdade?” “O que é verdade?”
Há opiniões radicais, e outras menos, sobre isso. Talvez para o público mais amplo seja interessante ouvir tantos jornalistas expondo seus pontos de vista. De minha parte, acho que tudo termina abstrato demais, com frases que tendem à exposição de princípios ou de julgamentos já consolidados.
Talvez sabendo desse risco, Jorge Furtado entremeia os depoimentos com cenas da montagem de uma peça, intitulada justamente “O Mercado de Notícias”, escrita por Ben Jonson (1572-1637). É outra descoberta muito boa do diretor –além do caso Picasso. A comédia mostra um jovem perdulário que se envolve na empreitada de comprar e vender “notícias”, (“novidades”?) numa época anterior à da consolidação dos jornais tais como os entendemos hoje.
Vendo a peça e pensando nos jornais de hoje, pode-se sempre traçar aquele gênero de paralelos que leva uma pessoa a dizer: “puxa, já naquela época, hein!” Mas a aproximação não é das mais esclarecedoras, e novamente escapamos do concreto, do real, para um plano de julgamentos mais ou menos fáceis.
Como a perspectiva adotada é sempre a da generalidade, é um alívio quando se vê Luis Nassif, por exemplo, apontar um caso específico de miopia jornalística. Ele se refere à excessiva atenção dos jornais com respeito às oscilações do mercado financeiro, e de que modo se deu pouca importância a uma queda violentíssima na venda de máquinas agrícolas, em 2008 se não me engano.
Mais exemplos como esse enriqueceriam o filme de Furtado.
Sem dúvida, o grande exemplo, que “O Mercado de Notícias” recalcou, não é o das máquinas agrícolas. Metade dos entrevistados, mais ou menos, considera que os jornais perseguem o governo do PT, e teria longas considerações a fazer sobre o caso do mensalão.
Imagino que um filme sobre “os problemas da imprensa” sequer teria sido feito nos tempos de Fernando Henrique, quando choviam denúncias contra os tucanos.
A vontade implícita deste documentário é colocar em questão uma imprensa que foi duríssima contra Lula. Por que não falar disso de


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O Mercado de notícias - Filme/Projeto do gaúcho Jorge Furtado.

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