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Crítica: Moonlight (2016)



GUILHERME W. MACHADO


Corpos sufocados pelo ambiente e personalidades compostas por ele. Moonlight, filme papa prêmios do ciclo da crítica, mas mero espectador na corrida do Oscar (embora deva sair com dois prêmios, não chega a brigar pelos principais: filme/diretor), é um filme que consegue estabelecer uma abordagem sutil, ainda que incorra seus excessos cênicos – fotográficos, principalmente – na tentativa de adotar um tom operístico, que mais interfere com o bom fluxo de imagens do que agrega a ele.

A história consegue abordar o pacote habitual de questões sociais sem cair naquela caretice recorrente – tão recorrente que os exemplos surgem de forma espontânea. Chiron, o protagonista, é um jovem afro-americano, morador dos subúrbios, gay e cuja mãe é dependente de drogas. O interessante é ver como Jenkins desenvolve muitas dessas problemáticas na ambientação, nos pequenos hábitos que permeiam o filme sem precisar interferir bruscamente na trama principal para que se façam notar. E não digo só em termos de direção, o roteiro, mesmo com uma estrutura bem teatral (inclusive na forma como a estrutura de três atos se apresenta), é muito hábil em tratar questões delicadas de forma pouco apelativa.

Muito tem se falado sobre o filme pelo viés da identidade, dele como uma história sobre a busca do protagonista pela própria identidade. Tudo bem, é claro que essa é uma intenção de Jenkins – sendo esse o principal legado do personagem Juan, de Mahershala Ali, no enredo –, mas Moonlight me atingiu muito mais como uma obra que explora a relação (em geral de desconforto) Dos Personagens com o ambiente que os cerca. No viés sociológico, a obra dialoga muito sobre a influência do externo sobre o indivíduo, e como o macro afeta o micro; relação essa refletida visualmente pelo uso (abusivo, até) de foco raso, sem nenhuma profundidade do campo além dos personagens, costumeiramente posicionados muito próximos à câmera.



Aliás, embora perfeitamente conscientes, são essas escolhas estéticas de Jenkins e seu diretor de fotografia Laxton que desgastam um pouco a naturalidade do material. Pois Moonlightflui num ritmo ótimo, muito bem editado com trabalho de câmera bastante fluido (sempre câmera de mão, instável). O problema reside nas pontuais interrupções causadas por esses excessos cênicos, como o slow motion sem som da mãe gritando com o filho, ou os arroubos de luz semi-expressionistas, em tons drásticos, como vermelho ou azul violeta... Mas, sinceramente? São pequenos apêndices por parte de um diretor ainda iniciante, mas que em geral tem uma direção muito sólida e segura no que almeja.

OBS: Jenkins não é nenhuma Claire Denis, mas seu talento em capturar gestos e corpos é digno de atenção. O próximo filme promete.

  NOTA (8.0 / 10):




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