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Casa Mário de Andrade

Descobrimento
Abancado à escrivaninha em São Paulo
Na minha casa da rua Lopes Chaves
De supetão senti um friúme por dentro.
Fiquei trêmulo, muito comovido
Com o livro palerma olhando pra mim.
Não vê que me lembrei que lá no Norte, meu Deus!
muito longe de mim
Na escuridão ativa da noite que caiu
Um homem pálido magro de cabelo escorrendo nos olhos,
Depois de fazer uma pele com a borracha do dia,
Faz pouco se deitou, está dormindo.
Esse homem é brasileiro que nem eu.
        A "casa da Rua Lopes Chaves" eternizada nos versos do poema Descobrimento e em tantos outros textos em que foi citada por seu ilustre morador - o escritor Mário de Andrade - desde 2015 está aberta ao público como uma casa-museu. Nela estão expostos, entre outros itens, móveis (desenhados por ele e executados em madeira de lei), objetos pessoais, fotografias, manuscritos e registros que recontam a trajetória de vida e obra de um dos principais escritores do Modernismo brasileiro, autor de "Macunaíma - o herói sem nenhum caráter", sua obra mais popular que das páginas do livro publicado em 1928 transformou-se em história em quadrinhos, filme, peça teatral, musical... e continua a ganhar adaptações quase um século depois (em 2019 esteve em cartaz nos teatros de São Paulo, Belo Horizonte e Rio de Janeiro).
        Mario de Andrade, residiu na "Morada do coração perdido", forma como ele se referia à própria casa e título da exposição permanente do museu, de 1921 a 1945, quando faleceu precocemente aos 51 anos de idade, em decorrência de um ataque cardíaco. A casa foi comprada por sua mãe já viúva e a construção abriga três sobrados geminados com uma única estrutura, onde a família se alojou. Hoje, a casa-museu (branca, na 2ª imagem do post) que fica na esquina da Rua Lopes Chaves com Rua Margarida tem como vizinhos nos sobrados geminados dois cortiços (amarelo e vermelho na imagem), tipo de habitação comum no bairro da Barra Funda.
     Sobre sua casa tão amada, Mário de Andrade, escreveu a Henriqueta Lisboa convidando-a a visitá-lo: "A minha casa me defende, que sou, por mim, muito desprovido de defesas. E sobretudo a minha casa me moraliza, no mais vasto sentido desta palavra. Um dia você ainda ha-de vir a esta casa, Henriqueta, e verá como é gostoso o cantinho em que moro, meus livros, minhas coleções de desenhos, de objetos populares, de imagens antigas e meus quadros e meus badulaques que não acabam mais." A esperada visita aconteceu em fevereiro/1945, dias antes do autor falecer.
      A casa tão querida e cuidada foi frequentemente citada nos textos do autor. Numa crônica de 1931 ele escreveu: “Saí desta morada que se chama O Coração Perdido e de repente não existi mais”. Considerando-se que o autor pouco se ausentava de sua residência, a citação pode referir-se ao distanciamento da casa para sua viagem imersiva pelo Nordeste brasileiro, feita entre novembro de 1928 e fevereiro de 1929, cujos relatos de viagem resultaram no livro "O turista aprendiz" lançado em 1976, 30 anos após sua morte. Ou seria então, uma referência ao período de aproximadamente dois anos (entre 1939 e 1941) em que viveu no Rio de Janeiro. Na volta desse exílio autoimposto, Mário de Andrade descreveu a inefável "felicidade lopeschávica" de voltar a viver em São Paulo.
       A partir dessa relação tão próxima com o lar onde viveu metade de sua vida, não haveria local mais indicado para um museu que a casa da Rua Lopes Chaves com suas paredes tomadas por estantes com os livros que Mário catalogava de forma a permitir uma organização permanente de sua biblioteca mesmo com novos acréscimos ao seu acervo pessoal que também continha quadros, partituras, discos, imagens sacras, entre outras obras de arte. O poeta retorna a sua casa também nos áudios de declamações de seus poemas que ecoam nas salas do museu. 
          E para quem pensa que "shippar" é uma inovação da 'Geração Z', saiba que Mário de Andrade não apenas 'shippou' os nomes do casal amigo Oswald de Andrade e Tarsila do Amaral, como fez a eles uma homenagem no poema "Tarsiwaldo":

TARSIWALDO

Pegue-se 3 litros do visgo da amizade
ajunte-se 3 quilos do assucar cristalizado da admiração
Perfume-se com 5 tragos da pinga do entusiasmo
Mexa-se até ficar melado e bem pegajento
e se engula tudo duma vês

Com adesão do Mario de Andrade
Ao almoço
Pra Tarsila
e Osvaldo,
Amem.

        Para conhecer mais sobre o artista multifacetado que voltou a sua amada casa e abre as portas aos visitantes, aceite o convite e vá conhecer a "Morada do Coração Perdido".

Serviço
Casa Mário de Andrade
Site: www.casamariodeandrade.org.br
Endereço: Rua Lopes Chaves, 546 - Barra Funda, São Paulo. Telefones: (11) 3666-5803 | 3826-4085
Funcionamento: de terça-feira a sábado, das 10h às 18h
Entrada gratuita

       Para encerrar só mais 'perola' de Mário de Andrade que, compreensivelmente, nunca foi muito querido pela aristocracia paulistana:
Moça linda bem tratada,
Três séculos de família,
Burra como uma porta:
Um amor.



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