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Entrevendo - Cildo Meireles

       Cildo Meireles é um dos mais importantes artistas brasileiros contemporâneos, embora suas obras não sejam tão populares por serem consideradas conceituais demais. No exterior já foram expostas no MoMA, de Nova York, na Reina Sofia, de Madrid e em 2012, ganharam no The New Museum (também em Nova York), uma retrospectiva que ocupou os três pisos das dependências do museu. É o segundo artista brasileiro a ter uma exposição retrospectiva de sua obra na Tate Modern, em Londres (2008), a primeira foi Mira Schendel. Suas criações inspiram curadores que fazem com que suas obras circulem ao redor do mundo. No Instituto Inhotim, em Brumadinho, sua obra "Desvio para o vermelho", que se constitui de uma sala em que todos os móveis e objetos são cor de sangue, está definitivamente instalada. 
            A exposição Entrevendo, aberta no SESC Pompeia, é uma oportunidade de conhecer melhor a obra de Cildo Meireles e de aproximar os conterrâneos brasileiros à arte conceitual desse grande artista após quase duas décadas sem uma grande exposição do artista. São 150 obras criadas entre os anos 1960 e os dias de hoje. Entrevendo (na primeira imagem), é a obra que nomeia a mostra; foi concebida em 1970 e realizada em 1994 e agora convida o visitante do SESC Pompeia a caminhar contra um ventilador de ar quente em uma instalação cilíndrica de madeira, levando na boca dois pedaços de gelo: um salgado e um doce que vão derretendo durante a caminhada. Assim são as obras concebidas por Cildo, vão muito além do campo da visão e estimulam outros sentidos, por vezes o paladar, em outras o tato, o olfato ou a audição, possibilitando assim diversas experiências sensoriais.
     Embora a arte conceitual seja considerada "difícil de entender", as obras de Cildo Meireles são para serem sentidas e essa interatividade facilita o prazer em apreciá-las. Por exemplo, na obra Amerikkka (1991/2013), inédita no país, o nascimento da América é representado a partir de aproximadamente 17 mil ovos de madeira no chão e 33 mil balas de armas de fogo formando o teto da instalação. Experimente caminhar sobre a base e descubra que 'pisar em ovos' pode ser muito dolorido. Outras obras em grandes escalas expostas nos 3000m2 (Área de Convivência, Galpão e Deck) da exposição convidam o visitante a entrar e participar, intervindo no espaço. Em Eureka/Blindhotland (2013) o visitante tem 201 esferas do mesmo tamanho com pesos totalmente diferentes para experimentar, mover, rolar... Em Volátil, o visitante entra descalço em uma sala e depois sai por uma outra porta, sem contato com quem está na fila aguardando sua vez, ou seja, o mistério se mantém para cada visitante. Não vou aqui dar spoiller e estragar a experiência. Vá e depois tire suas conclusões.
       As obras de Cildo questionam de maneira reflexiva e inteligente os valores concebidos socialmente. Por exemplo, qual o valor de uma cédula de dinheiro senão aquele que nela está inscrito? O papel é o mesmo. Para nos levar a essas reflexões, o artista produziu algumas notas de reais e de dólares com o algarismo 'zero'. Há ainda uma releitura do Projeto Cédula (1976) em que cédulas circulantes de um cruzeiro foram carimbadas com a pergunta "Quem matou Herzog?" em referência às causas não explicadas da morte do jornalista Wladimir Herzog. Em sua versão mais atual cédulas de R$2 foram carimbadas com as frases "Cadê Amarildo?", em referência ao pedreiro Amarildo Dias de Souza que desapareceu em 2013 após ser levado por policiais à sede da Unidade de Polícia Pacificadora da favela da Rocinha, no RJ. E “Quem matou Marielle?”, referindo-se ao assassinato da vereadora Marielle Franco, também no Rio de Janeiro, em 2018. Essas notas estão circulando, se alguma chegar às suas mãos você decide se vale os R$2 nela inscritos ou tem o valor de uma obra de arte concebida por Cildo Meireles.
       O dinheiro é parte integrante de outras obras de Cildo Meireles como Missão/Missões (Como construir catedrais), que ocupa uma grande área formando uma piscina de moedas de 1 centavo espalhadas pelo chão. No teto, sobre o círculo de moedas, estão centenas de ossos de bois. Ligando chão e teto, há uma coluna de hóstias empilhadas. Juntos os elementos representam a colonização: o poder de um lado, escravidão e sofrimento do outro e, no meio, a religião e catequização. 
     Em Olvido, uma tenda em estilo indígena é coberta por cédulas de diversos países sul-americanos, a casinha indígena é cercada de ossos e esses por uma barreira formada por velas empilhadas. Uma crítica à história colonial do continente americano.
         E como chegar a todas essas interpretações? Os monitores estão ali para ajudar os visitantes a entenderem a essência do artista, além disso, há catálogos espalhados pelos ambientes explicando cada obra e sua história. As instalações amplas e vistosas são uma marca reconhecida do trabalho de Cildo Maireles, porém, a criatividade do artista desdobra-se em diferentes suportes como o desenho, a pintura, a escultura, a criação de sons e os mais inusitados materiais. Mais que entendidas, as obras de Cildo Meireles são para ser sentidas.
       O prédio do SESC Pompéia já é em si uma atração a ser visitada. Ali funcionou uma antiga fábrica de tambores e a reforma que transformou a construção no que hoje é o SESC Pompeia é um projeto da arquiteta ítalo-brasileira Lina Bo Bardi. A obra começou em 1977 e durou nove anos. Para contar toda a história arquitetônica do prédio e também detalhes da vida da arquiteta Lina Bo Bardi, às sextas, sábados e domingos a programação tem uma visita guiada por educadores patrimoniais. As vagas são limitadas a 30 pessoas por horário (às 11h ou às 15h) e as senhas precisam ser retiradas 30 min antes no hall do teatro.
Serviço
Local: SESC Pompeia
EndereçoRua Clélia, 93, Pompeia - São Paulo - SP
Datas: de 26-09-2019 a 02-02-2020
Visitação: de terça a sábado, das 10h às 21h30 / domingos e feriados, das 10h às 19h30.
Entrada gratuita


     Para saber mais sobre Cildo Meireles assista ao longa metragem sobre sua obra, produzido sob a direção de Gustavo Moura e lançado em 2009. Veja aqui.

Leia também: atrações em outras unidades do SESC
- Exposição GOLD, de Sebastião Salgado no SESC da Av. Paulista
- Palácio Quitandinha - SESC de Petrópolis



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