O acampamento pode ser oferecido como um dos locais para abrigar os lutadores de Wagner – Copyright POOL/AFP Mark Schiefelbein

Bárbara WOJAZER

O cheiro de madeira recém-cortada pairava sobre um recém-construído acampamento bielorrusso que poderia acabar abrigando os combatentes russos de Wagner após sua curta rebelião contra os líderes do exército russo no mês passado.

Com o líder bielorrusso Alexander Lukashenko atuando como mediador, o Kremlin fechou um acordo com o chefe de Wagner, Yevgeny Prigozhin, para encerrar o motim e vê-lo se mudar para a vizinha Bielorrússia junto com alguns de seus homens.

Mas na quinta-feira, Lukashenko colocou esse acordo em dúvida quando revelou que nem Prigozhin nem seus mercenários estavam no país.

“Se você estiver procurando por eles, não os encontrará aqui”, Disse Leonid Kasinsky, assessor do Ministério da Defesa bielorrusso.

Kasinsky estava mostrando o acampamento no centro da Bielorrússia para um grupo de jornalistas estrangeiros, que receberam um raro convite para ir ao país rigidamente controlado para uma mesa redonda com Lukashenko.

Ao seu redor, as 300 tendas que poderiam receber cerca de 5.000 pessoas estavam vazias — exceto uma, onde alguns guardas descansavam.

Kasinsky disse que as tendas foram montadas em preparação para os exercícios planejados para o outono.

A especulação de que o campo poderia ser usado para combatentes de Wagner surgiu depois que imagens de satélite que circularam na mídia mostraram obras de construção lá na época do motim.

Lukashenko negou que Belarus esteja construindo uma nova instalação, mas disse que ofereceu antigas instalações militares – incluindo a de Tsel – a Wagner.

“Dado que a base está pronta… (Wagner) pode ser oferecida”, disse Kasinsky.

– ‘Se tiver que ser feito’ –

A possível chegada de milhares de combatentes mercenários russos dividiu os moradores da cidade de Asipovichy, perto de Tsel.

Homens do exército mercenário privado de Wagner foram acusados ​​de abusos em muitos países, incluindo Ucrânia, República Centro-Africana e Síria.

“Tenho medo… quero paz, quero que meus filhos cresçam. É tudo o que posso dizer”, disse uma mulher que se recusou a revelar detalhes pessoais por medo de represálias.

Desde os protestos de 2020 contra sua reeleição, Lukashenko aumentou a repressão às vozes críticas.

Outros moradores, no entanto, disseram que não estavam preocupados.

“Não tenho nenhuma preocupação. Se precisa ser feito, precisa ser feito”, disse Yelena Vinglinskaya, trabalhadora de jardim de infância de 45 anos.

A própria Bielorrússia teve uma história controversa com Wagner.

Antes da disputada reeleição de Lukashenko em 2020, a Bielo-Rússia prendeu cerca de 30 combatentes de Wagner acusados ​​de conspirar para desestabilizar o país.

– Até Moscou –

Desde então, Wagner saiu das sombras, principalmente durante a ofensiva na Ucrânia.

Prigozhin finalmente admitiu que fundou o exército privado e se tornou um crítico incansável do alto escalão militar da Rússia.

Seus mercenários lideraram a batalha pela cidade de Bakhmut, no leste da Ucrânia, que expôs rivalidades entre Prigozhin e o exército regular.

Essas tensões culminaram com a rebelião armada de Prigozhin em 23 e 24 de junho, o maior desafio à autoridade do presidente russo, Vladimir Putin.

Vinglinskaya disse que a presença de Wagner na Bielorrússia “pode ser outra forma de proteger a população”.

Kasinsky concordou. “Não vejo razão para entrarmos em conflito com o grupo Wagner”, disse ele.

“Não vamos competir com ninguém. Vamos obter sua experiência de combate única”, disse ele aos jornalistas.

Mas muito ainda não está claro sobre o acordo que deveria acabar com o motim e que permitiu a Lukashenko se posicionar como um intermediário de poder.

“A decisão final sobre onde eles ficarão estacionados caberá a Wagner e seus comandantes”, disse Kasinsky.