Os nadadores saltam para o Sena na Ile Saint-Denis em julho – Copyright AFP JOSE LUIS ROCA

Pierrick YVON

Embora as Olimpíadas de 2024 tenham eventos no rio Sena a partir da ornamentada ponte Alexandre III, uma orgulhosa declaração da renovação ambiental da hidrovia, muitos nadadores na capital já estão desafiando as proibições de décadas para mergulhar.

O medo da poluição e da segurança levou à proibição de nadar nos canais do Sena e de Paris em 1923, embora a aplicação das regras tenha sido relaxada nos últimos anos.

Um grupo de pioneiros se autodenomina “Les Ourcq Polaires” – um trocadilho que evoca ursos polares e o nome do canal que é um local favorito para nadar, saindo da capital a nordeste.

Em cinco anos, nenhum de seus nadadores foi multado, disse um membro, Laurent Sitbon, e eles foram arrastados para fora da água pela polícia apenas uma vez.

Trinta anos atrás, Jacques Chirac, prefeito de Paris na época, gabava-se de que o Sena estava se tornando um “rio limpo” e que logo iria nadar – embora nunca o tenha feito.

Mas os organizadores dos Jogos Olímpicos de 2024 planejam realizar o triatlo e as provas de natação em águas abertas no Sena, com as autoridades francesas investindo 1,4 bilhão de euros (US$ 1,5 bilhão) para limpar o rio.

As piscinas já foram isoladas no canal Ourcq para os eventos anuais de verão do Paris Plages nos últimos anos, e locais permanentes para o público em geral estão programados para abrir na região até 2025.

No primeiro domingo de julho, os Polaires organizaram um mergulho no Sena. Nadadores se alinharam na amurada de uma barcaça atracada na Ile-Saint-Denis, ao norte de Paris, onde está sendo construída a vila dos atletas paraolímpicos.

“Mal posso esperar para nadar no Sena! É algo mais do que uma piscina”, disse uma nadadora, Celine Debunne.

– ‘Nós abrimos o caminho’ –

Às 20h, com pouco trânsito no rio, cerca de 20 pessoas entraram na água para um passeio de uma hora, percorrendo dois quilômetros em águas mornas.

Com 25 graus Celsius (77 Fahrenheit), a temperatura “está no limite” muito alta para um clube que tem “polar” em seu nome, disse um nadador, Josue Remoue.

Eles estão logo abaixo do cenário da pintura do artista francês Georges Seurat, “Banhistas em Asniere”, de 1884, uma época em que brincar no Sena era comum.

“As pessoas dizem: ‘Você é louco, vai conseguir manchas’”, disse Tanguy Lhomme, que estava dando as boas-vindas aos nadadores em sua barcaça no último domingo.

“Como resultado, eles tratam o Sena como um esgoto.”

Lhomme admite que quando começou a viver no rio, em 2017, “estava fora de questão entrar nele”.

Os sócios do clube saem com bóias insufláveis ​​e em grupos, o que, juntamente com os seus nadadores-salvadores designados, explica porque são “tolerados”, disse Sitbon.

“O Sena recebe muita má publicidade, como todos os rios de cor escura. A cor nunca vai fazer você sonhar”, disse Louis Pelerin, outro nadador.

A polícia de Paris não respondeu aos pedidos de comentários sobre sua atitude em nadar no rio.

“Não é a poluição, mas o controle da moral que está na raiz disso”, disse Benoit Hachet, um professor de sociologia parisiense que também mergulhou no assunto.

Depois que as chuvas de verão lavam a sujeira de caminhos e estradas na água, as autoridades parisienses colocam placas proibindo a natação nas margens do canal.

“A poluição é sempre um grande pretexto e muitas vezes uma grande mentira”, disse Sibylle van der Walt, uma socióloga alemã baseada em Metz, no leste da França, onde faz campanha pelo acesso à natação selvagem.

“Enquanto nos países nórdicos as pessoas nadam por sua conta e risco, na França o prefeito é responsável”, disse Van der Walt.

Nas ondas de calor dos últimos verões, um número crescente de parisienses passou a se refrescar nos canais.

“Mais do que as Olimpíadas, é o aquecimento global”, disse Hachet. “Em dez anos, serão 40 graus. As pessoas vão entrar na água, seja proibido ou não!”

Sitbon também disse que as atitudes estão mudando.

“Éramos poucos em 2017. Sentimos que abrimos um pouco o caminho.”