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Os benefícios do castor

O estudo Renaturalizar com o Castor na Península Ibérica – Potencial Económico para Restauro Fluvial, da autoria de Daniel Veríssimo e Catarina Roseta-Palma, acabou de ser publicado na revista científica Nature Based Solutions. O documento partiu da análise do programa de recuperação de rios e ribeiros desenvolvido pela Agência Portuguesa de Ambiente. Este programa, com um custo aproximado de 12 milhões de euros, incluiu muitas intervenções que poderiam ser feitas de forma equivalente pelo castor livres de custo, como suavizar as margens das ribeiras, criar pequenas barragens com ramos, promover a dispersão de sementes ou até controlar espécies invasoras.

O regresso do castor
Duas das estatísticas mais notáveis que surgiram do recente Relatório de Regresso da Vida Selvagem de 2022, encomendado pela Rewilding Europe, ilustram o quão longe o castor chegou num espaço de tempo relativamente curto – principalmente devido à proteção legal, uma redução dramática na pressão de caça e reintroduções e translocações. A abundância destes engenheiros aquáticos aumentou uns incríveis 16.000% entre 1960 e 2016, com a atual população europeia (excluindo a Rússia) totalizando mais de 1,2 milhões!

Além disso, a sua distribuição em todo o continente europeu aumentou cerca de 835% entre 1955 e 2020. Concluindo, os Castores estão em alta, o que é uma ótima notícia para a biodiversidade e para uma grande variedade de outras espécies que beneficiam do impacto desta espécie na paisagem.

Gerador de biodiversidade
As lagoas e os canais de água que os castores criam à volta dos seus alojamentos através da construção de diques, atraem uma infinidade de insetos, peixes e anfíbios. Isso, por sua vez, atrai pássaros, morcegos e outros pequenos mamíferos. À medida que derrubam árvores sobre a água, os castores ajudam a criar um habitat vital de madeira morta, bem como a abrir áreas de floresta, o que estimula uma maior diversidade de crescimento de plantas em clareiras ensolaradas e prados alagados.

As árvores ribeirinhas, como os salgueiros, evoluíram com os castores e geralmente não morrem quando um castor abre caminho através do tronco. Em vez disso, isso estimula o crescimento de novos caules, o que gera uma maior complexidade estrutural que beneficia muitas espécies. Sabe-se que os répteis usam-nos como abrigo, enquanto as lontras e martas usam tocas abandonadas. Grandes represas podem até atuar como corredores ecológicos na paisagem, funcionando como pontos de passagem que poupam energia para espécies de topo à base da cadeia alimentar.

Defensor de cheias
As represas dos castores, a teia de cursos de água que se estendem ao seu redor e todos os galhos e ramos usados para criá-las podem reter grandes quantidades de água. Isso ajuda a diminuir a velocidade geral do fluxo a jusante e a recarregar os lençóis freáticos subterrâneos, podendo reduzir os impactos das inundações em terras agrícolas e em áreas urbanas. Os diques agem como esponjas, libertando água lentamente através da sua estrutura permeável, o que significa que imensas pequenas lagoas e riachos podem formar-se em áreas mais altas.

Essa redistribuição da água interrompe e diminui o leito máximo do rio à medida que se move em direção às áreas de planície. Permitir que os rios libertem gradualmente os seus benefícios hídricos beneficia também a terra à sua volta, pois evita que o precioso solo superficial seja arrastado durante períodos de chuvas fortes.

Bombeiro
Os ambientes aquáticos do castor também podem fornecer santuários à prova de fogo que salvam vidas para uma grande variedade de plantas, animais – e até pessoas. Com os incêndios florestais a aumentar tanto em frequência como em intensidade, como resultado das mudanças climáticas, o valor dos castores não pode nem deve ser subestimado. Como um sábio disse uma vez: “água não queima!”

Quando as habilidades magistrais de engenharia do castor têm rédea solta numa escala grande o suficiente, o habitat que eles criam pode até tornar-se uma barreira natural que impede que o fogo se espalhe ainda mais. No mínimo, a exuberante vegetação verde encontrada dentro e na envolvência dos habitats dos castores irá amortecer o progresso de um incêndio – ao contrário da vida vegetal combustível, muitas vezes seca, normalmente encontrada em áreas sem castores, que podem alimentar incêndios florestais. E a vegetação costuma ser um salva-vidas para herbívoros no calor do verão e nos períodos de seca também.

Purificador de água
Os castores também nos podem ajudar na luta contra a poluição. As suas represas podem atuar como peneiras gigantes que retêm sedimentos contendo nitratos e fosfatos da agricultura, que podem desenvolver proliferação de algas nocivas. Estas algas podem impactar negativamente a vida selvagem, o gado e as pessoas, pois podem produzir toxinas perigosas.

Estas também consomem todo o oxigénio da água e bloqueiam a luz solar, que pode ser fatal para a vida aquática. A poluição por nitrogénio, em particular, pode ser bastante reduzida, já que as bactérias que prosperam em lagoas com castores podem digerir nitratos, com qualquer excesso confinado a sedimentos. Esta é uma boa notícia para as pessoas, já que o nitrogénio e o fósforo precisam de ser removidos da água para esta se tornar segura para beber.
 
Mitigador de secas
Toda a água que as zonas húmidas criadas pelos castores retêm pode ser muito útil durante os períodos de seca. A necessidade que o castor tem de lagoas e canais profundos significa que, quando tudo à sua volta está a ser afetado pela seca, a região habitada por castores não. Esse fluxo constante de água a jusante e nos solos circundantes pode ser vital durante os períodos quentes de verão: um serviço gratuito de armazenamento de água que pode ser uma tábua de salvação para uma infinidade de espécies. A temperatura da água nas lagoas com castores também permanece fria no verão, enquanto os rios mais rasos sobreaquecem – um potencial assassino para algumas espécies de peixes, como os salmonídeos. Essas lagoas também são uma fonte vital de água no inverno, pois a sua profundidade significa que são as últimas a congelar.

Apoiar o regresso do castor
Em todas as áreas rewilding da Rewilding Europe – através do restauro de zonas húmidas e da criação de iniciativas de turismo de vida selvagem – estamos a apoiar o incrível trabalho dos castores e as suas contribuições para o rewilding. A última área a sentir os amplos benefícios do castor foi a área ucraniana do Delta do Danúbio, com avistamentos a surgirem na Reserva da Biosfera do Danúbio em 2021. Os castores já estão bem estabelecidos na Lapónia sueca e no Delta do rio Oder, onde são uma importante fonte enquanto presa para jovens lobos. Um estudo polaco também descobriu que estes beneficiam populações de aves invernantes em florestas temperadas.

Os castores também estão presentes na área de rewilding das Affric Highlands, na Escócia, onde uma união de proprietários de terras públicas e privadas acaba de finalizar uma consulta pública – realizada pela Trees for Life – sobre uma proposta de reintrodução em Glen Affric. Nenhuma decisão foi ainda tomada, mas já foi identificado um habitat adequado num estudo realizado em junho de 2022. Também sabemos que os castores vivem perto das áreas rewilding dos Cárpatos do Sul e dos Apeninos Centrais, com o seu regresso natural a ser esperado nas próximas décadas.

O castor de regresso a Portugal?
Na Península Ibérica, registos históricos indicam que a espécie esteve presente pelo menos até ao final do século XVI. Em 2003, o castor regressou a Espanha através de uma reintrodução não autorizada na bacia do rio Ebro. Desde então a espécie, catalogada como espécie protegida neste pais desde 2011, tem recolonizado novas áreas do Ebro, chegando também às bacias do Douro e do Tejo. Recentemente foram avistados indícios de presença de castor no rio Tormes, a cerca de oito quilómetros da fronteira com Portugal, e portanto muito próximos do lado português do Parque Natural do Douro Internacional. Apesar de ainda não existirem dados sobre qual o tamanho da população nesta zona e ritmo de expansão, é possível que brevemente o castor se disperse pelo noroeste da bacia do Douro desde este novo núcleo no Tormes e regresse a Portugal após a sua extinção na idade média.

Na Rewilding Portugal, encaramos esta possibilidade com grande optimismo e com vontade de ajudar a preparar a paisagem e as pessoas para o regresso desta espécie-chave.

Com a proteção e o habitat adequados, esperamos que os castores continuem a recolonizar mais da Europa, renaturalizando-a com todos os benefícios que trazem!

Fonte: Rewilding Portugal


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