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A Ucrânia é Auschwitz da nossa geração

Em manifestação contra a guerra, russa pede desculpas aos ucranianos

A artista plástica Olga Ivanova, de 26 anos, deixou a Rússia há 5 por causa de Putin e participou de protesto nessa quinta-feira, em Barcelona



Por Daniel Deusdado

O medo é uma ficção. Um "bluff". Putin sabe que os direitos humanos estão no coração de cada pessoa de bem deste planeta, por mais que tenhamos aprendido a ignorar os migrantes afogados, os povos em fuga de guerras, ou pura e simplesmente os envenenados do Kremlin. Mas há limites: ver morrer em direto os ucranianos, hora a hora, na sua própria terra, invadida sem qualquer legitimidade, é um novo teste de indiferença que finalmente não vamos conseguir passar.

As Nações Unidas e a NATO têm de colocar em cima da mesa a "legítima defesa humanitária". Novos tempos exigem novos conceitos. Holocausto nuclear? Nós já estamos a perecer aos poucos neste holocausto da liberdade de um povo que podia ser qualquer país livre. Gente como nós, colocada num gigantesco campo de concentração - a sua própria terra.

Exige-se às Nações Unidas, ou à NATO, ou à União Europeia, ou a alguns dos países da União Europeia, o apoio aéreo a um povo indefeso: aviões com logística de sobrevivência, a par de outros para defesa de um espaço de exclusão militar nos céus da Ucrânia. E, se não funcionar, responder com a entrada em ação desses aviões para concretizarem essa "legítima defesa".

Zelensky roga esse mínimo: lutar em terra, na desproporção de 10 ou 20 ou 100 soldados russos por cada ucraniano, até morrerem todos os que defendem Kiev e o resto do país. Implora apenas uma batalha justa, sem ataques aéreos. A cobardia russa não autoriza. Nós obedecemos. E aguardamos a qualquer momento o óbvio massacre, inimaginável, das bombas e colunas de blindados de 50 km a desfazerem Kiev e as outras cidades. Lamentaremos então o horror, impossível de olhar. Será tarde demais.

O equilíbrio do mundo não tem forma de se manter. A mais pequena tentativa do Ocidente de defender Zelensky, ou a capital da Ucrânia, culminará numa resposta "legítima" de um homem que se considera detentor do "ethos" da guerra, da vontade dos vizinhos e arquiteto de fronteiras imaginárias. Não temos como evitar o confronto com Putin.

Na II Guerra Mundial, em Varsóvia, 1938, o Ocidente tolerou o gueto: era "apenas" um gueto. Eram "apenas" judeus. A seguir vieram os campos de concentração. Como não atuámos antes, não sabíamos até onde o mal pode ir. E continuamos a não aprender. Hoje dizemos: são "ucranianos". Porque não são da NATO - por medo nosso, não os deixamos ser. Portanto, podem morrer.

Ainda só passaram 10 dias. A desgraça é gigantesca e ainda nem sequer começou. Este é um momento decisivo na História: ou vencem os valores do Ocidente, com as pessoas e a democracia em primeiro lugar, ou perpetuamos ditadores globais no poder.

Não parecia crível que tivéssemos de enfrentar uma escolha tão medieval. Mas não podemos ter dúvidas. O nosso testemunho para as gerações vindouras é o de cairmos de pé ou triunfarmos sem medo. Não ceder a Putin, Xi Jinping, ao indiano Modi, ao ISIS, aos talibãs, não reeleger Trump, é uma resposta de cada um dos povos.

Mas a Ucrânia, neste momento de genocídio, é uma responsabilidade da humanidade.
Esta é a nossa oportunidade. Putin tornou isto cristalino. Porque connosco vivos não voltará a haver o império soviético. Mesmo que haja a hipótese ("bluff"?) de morrermos de frio e fome ou sobre bombas nucleares.
Um homem é apenas pó, terra, cinza, nada. Temer Golias é ignorar que uma pequena pedra o derrubará.

Ler mais:
Memorando de Budapeste

Assistir a este debate:
The War in Ukraine and the Future of the World | Yuval Noah Harari , Timothy Snyder, Anne Applebaum


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