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As Alcarias das Amizades, por Luís Carloto Marques

Uma crónica e um texto pungente, ecológica e humanista, um testemunho do meu amigo Luís Carloto Marques que partilho com estima e retrata muita realidade, em particular as Alcarias. A ler, portanto.

Apelido de origem árabe, o mesmo quer dizer, povoado pequeno, no cume de duas Alcarias, a do Frio e do Cume, na freguesia de Santa Catarina da Serra, do concelho de Tavira, em dias límpidos vislumbra-se a torre de menagem do Castelo de Beja.
Em 1984, já lá vai tanto tempo, mas que minha memória guarda em lugar bem vivo, percorri estas serranias algarvias de bicicleta, do qual se vislumbra também o oceano mediterrânico, mar manso e quente, sepulcro recente de uma das mais recentes tragédias da humanidade, de crianças, mulheres e homens que fogem da guerra, a expressão mais horrenda da falta de harmonia entre os seres humanos.
Recordo-me que na subida de uma ladeira, na época todas as estradas estavam sem pavimentos, a corrente da bici partiu-se e de mecânico tive que fazer no local.
Procurava, um sábio, que conhecia como o Senhor Joaquim das Casas Novas.
Parece que foram ontem os dias que por lá estive, recolhi amêndoas verdascadas das amendoeiras e jamais me esquecerei, que com mais de oitenta anos, o sábio subia às árvores como se fosse uma criança.
Em maio de 2017 regressei, para cumprir uma promessa sempre adiada.
Não conheço melhor oferenda, esta, a de oferecer a alguém, regressar ao seu lugar de infância, Onde foi menino, onde brincou, onde sonhou e fez os seus amigos de infância, que perduram e resistem à erosão dos tempos.
Já não foi uma prenda completa, porque era dupla, para dois irmãos, meus vizinhos. Um estará sempre na minha memória e habita dentro do meu sagrado
Emocionante ver os amigos a reencontrarem-se, a relembrarem os tempos de infância, na escola, nas brincadeiras de criança, a observarem os horizontes, onde também tanto trabalharam na demanda de sustento, em terras magras.
Um amigo recordou e disse em voz bem audível, que jamais se esqueceria, da preocupação, do meu amigo, que numa determinada noite, depois de uma ida a uma festa a uma localidade, se preocupou com o seu vizinho, bateu em noite escura à sua porta para saber se estava bem com a sua saúde.
Vi imagens de um moinho prostrado no chão e observei o mesmo de velas bem abertas, a saborear o sabor do vento e a moer cereais. Um cidadão, que percorreu o mundo e se fez empresário, sonhou em edificar e dar vida às pedras deitadas no chão. Reviveu a sua memória, dando sentido a um local cimeiro, sendo o único moinho de vento que perdura em todas as serranias.
Em Alcaria do Cume, no derradeiro restaurante local, a surpresa maior, foi de quem confeccionou os alimentos.
Não me deu autorização a divulgar as imagens que recolhi, mas sim o texto que gravei. E assim o farei em tempo oportuno.
A Senhora Celeste não é só poetisa popular, com palavras cheias de ritmo, que reavivam os idos tempos de trabalho bem árduo. É uma analista, alguém que observa, muito bem, os novos relacionamentos entre as pessoas e identifica o mundo que a rodeia, como uma assertividade impressionante.
Observei os montes com declives acentuados, já sem árvores, relembro-me do incêndio de 2004, que começou em Almodôvar, numa desavença entre vizinhos/rendeiros, que calcorreou montes e serras e só estancou defronte do oceano.
Acredito, e muito, que as serras do Algarve, esta em particular, são um travão ao avanço deserto, numa época onde são mais do que evidentes as alterações do clima.
Nas serranias faltam pessoas, porque já não existem árvores, nem solo para o cultivar, nas cidades que se descaracterizam, sobram cidadãos, muitos a residir em locais com escassas condições de vida.


Embora as condições endafoclimáticas, sejam substancialmente diferentes, e consequentemente as soluções seriam complementares, ainda me revejo no sonho feito em realidade de Elzeard Bouffier, expresso no romance de Jean Giono e ilustrado num filme animado de Frederic Pack, conhecido O Homem que Plantava Árvores.

É possível renascer também nas serranias do Algarve.

Todas as fotos por Luís Carloto Marques


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