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‘Império de Roman’: os mistérios do homem que transformou o Chelsea


A faixa estendida atrás de um dos gols do Stamford Bridge em todas as partidas define bem o Chelsea: “O Império de Roman”. Atual campeão europeu, o Clube inglês completa nesta temporada o décimo ano de uma parceria que o tirou do escalão mediano do futebol inglês e elevou ao posto de potência mundial graças ao dinheiro de um russo que tem dois adjetivos diretamente atrelados ao seu nome: ousado e misterioso. Se em quase uma década o “imperador” Roman Abramovich já desembolsou mais de 2 bilhões de libras (quase R$ 7 bilhões) para obter sucesso nos gramados e expor seu clube como vitorioso mundo afora, ao mesmo tempo se esconde em uma personalidade extremamente reservada e rodeada de questionamentos e polêmicas.

O império de Roman Abramovich, diz a faixa da torcida do Chelsea (Foto: Cahê Mota / Globoesporte.com)
 
Empresário bem-sucedido no ramo de petróleo e gás na Rússia, Abramovich, de 46 anos, foi apontado pela revista Forbes, em 2012, como 50º homem mais rico do mundo, com fortuna avaliada em cerca de R$ 30 bilhões. O patrimônio foi alavancado, de acordo com muitos, graças a benefícios do governo Boris Yeltsin, na década de 90, quando chegou a ser preso por transações ilegais. A fortuna o levou ao futebol em meados de 2003, época em que resolveu fazer do Chelsea uma mistura de investimento e lazer. Mais do que retorno financeiro, a missão era clara: se tornar poderoso no badalado e glamoroso meio esportivo, livre do passado nebuloso.
 
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Uma década depois, uma evidente história de sucesso foi escrita, mas que pode, logo após atingir a glória máxima, ter um de seus capítulos mais frustrantes definido nesta quarta-feira: pouco mais de seis meses depois de bater o Bayern de Munique e se sagrar campeão europeu, os Blues podem se tornar os primeiros detentores do troféu a serem eliminados na fase de grupos da Liga dos Campeões da Europa seguinte. Bastaria a equipe de Rafa Benítez não vencer o Nordsjaelland, no Stamford Bridge, ou o Juventus não perder para o Shakhtar, em Donetsk, pelo Grupo E.

O capítulo desta noite, porém, será apenas mais um em um livro repleto de casos de poder, dinheiro, questionamentos, vitórias e decisões abruptas, onde o protagonista sempre foi Roman Abramovich. Empresário sem limites, ao ponto de ter começado sua vida nos negócios vendendo gasolina roubada nas forças armadas soviéticas, ainda nos anos 80, o russo desembolsou mais de 100 milhões de libras para adquirir o Chelsea no começo da temporada 2003/2004. Foi quando teve início uma trajetória pautada em decisões individualistas e no poder aquisitivo, seja qual fosse o preço necessário a ser pago pelo sucesso.

Abramovich cumprimenta adolescentes torcedores do Chelsea após comprar o clube, em 2003 (Getty)
 
Logo na primeira temporada, o bilionário gastou outros 140 milhões de libras na compra de jogadores e levou o Chelsea ao vice-campeonato da Premier League, além de uma inédita semifinal da Liga dos Campeões. Os resultados, entretanto, não eram suficientes, e o que se viu nos anos seguintes foi um investimento cada vez maior atrelado às conquistas dentro de campo. Em nove temporadas, os Blues levantaram 12 troféus (três ingleses, quatro Copas da Inglaterra, duas Copas da Liga, duas Supercopas Inglesas e a Liga dos Campeões da Europa), enquanto Abramovich desembolsou mais de dois bilhões de libras entre reforços, salários, investimentos estruturais e rescisões de contratos. E o sucesso em campo não está diretamente atrelado ao econômico, uma vez que somente ao término da última temporada o clube terminou no azul pela primeira vez sob a “nova” direção.

Se investiu 650 milhões de libras em contratações e outros 1,2 bilhão em salários, o russo gastou ainda 70 milhões somente em rescisões contratuais de treinadores.
 
Para alcançar a glória máxima, no último dia 19 de maio, em Munique, contra o Bayern, nos pênaltis, Roman não poupou dinheiro e também não teve pena de quem ele acreditava ser um empecilho. Se investiu 650 milhões de libras em contratações e outros 1,2 bilhão em salários, o russo gastou ainda 70 milhões somente em rescisões contratuais de treinadores, deixando claro que seu apego ao Chelsea em nada significa o mesmo sentimento por quem lá passa. Comandante atual, o espanhol Rafa Benítez é o nono em número igual de temporadas na gestão Abramovich. E o comandante tem uma posição muito bem definida: interino até o fim da temporada. Frio e objetivo como um homem de negócios muitas vezes deve ser, o patrão tem uma meta: contratar Josep Guardiola em maio do próximo ano.

Fanatismo conquista torcedores

A postura centralizadora e autoritária, por sua vez, não torna Roman Abramovich uma figura antipática. Não ao menos para os torcedores do Chelsea. Gratos ao russo pela reviravolta dos últimos nove anos, quando levantaram mais troféus do que nos 98 anteriores de história (12 a 11), os Blues têm uma relação de adoração com o dono do clube, chegando até mesmo ao ponto de se apegarem aos seus poucos gestos públicos e afetivos, transformando-os em qualidades irrefutáveis.

Conquista da Liga dos Campeões fez a 'Era Abramovich' superar os 98 anos anteriores em títulos (Foto: AFP)
 
Primeiro dos grandes milionários a se meter no futebol - em atitude que se tornou comum na década seguinte -, Roman é visto pelos torcedores como um apaixonado pelo clube, como eles, o que o faz justificar toda e qualquer atitude intempestiva e surpreendente. O caso mais recente foi a demissão de Roberto Di Matteo, ídolo também como jogador, apenas seis meses após a conquista da Liga dos Campeões.
 
Ele muda bastante os treinadores, mas não por vaidade ou simplesmente por querer. Ele faz isso por tentar fazer o time jogar mais bonito."
Rick Glanvill, historiador do Chelsea

– Acho que, independentemente de qualquer coisa, temos que dar todo o apoio ao nosso dono. Sim, ele muda bastante os treinadores, mas não por vaidade ou simplesmente por querer. Ele faz isso por tentar fazer o time jogar mais bonito. Sob o comando dele, vencemos mais do que qualquer outro clube inglês nos últimos 10 anos. Vencemos a Champions League após anos de dor e lágrimas. Ninguém vai tirar de mim aquele momento em Munique

– defendeu o torcedor Jeremy Sice, em uma mistura de gratidão e devoção.
A verdade é que a presença constante em seu camarote no Stamford Bridge e as reações comedidas, mas espontâneas, durante as partidas cativam e vão ao encontro dos anseios dos torcedores, já satisfeitos com os milhões gastos. O investimento “por amor” é apontado até mesmo por Rick Glanvill, historiador oficial do clube, como fator principal da empatia entre “imperador” e súditos.

– Ele não é do tipo de dono que coloca o dinheiro esperando recebê-lo de volta. Roman Abramovich aprendeu a amar esse clube, o que naturalmente não existia há nove anos. Ele viu o filho dele chorando com o título da Champions League. Tenho certeza de que hoje o Chelsea está no sangue dele. A sinceridade dele a todo tempo nos conquistou. Vê-lo no estádio reagindo a cada jogada mostra que se tornou um torcedor de verdade.

Responsável pela construção do museu do clube, em Stamford Bridge, custeada por Abramovich, Glanvill é mais um dos que se envolve com o lado apaixonado do patrão e conta com orgulho um caso onde o dono foi “apenas” torcedor:

– Certa vez, quando disputamos um jogo classificatório da Champions League, ele estava em seu iate em algum lugar do oceano e deu um jeito de conseguir um satélite para acompanhar o jogo. Se eu tivesse dinheiro e estivesse nesta situação, faria o mesmo. Isso é o que mostra sentimento. Mostra que ele se tornou um dos nossos.
Um dos três iates de Roman Abramovich, em Mônaco (Foto: Getty Images)
Di Matteo: 'Ele é um apaixonado pelo clube'

A compra de clubes tradicionais na Inglaterra costuma gerar reações distintas. Em Manchester, por exemplo, os fãs do City amam o Sheik Mansour, responsável por colocar o clube novamente na parte de cima da tabela, inclusive com o título da temporada passada, enquanto parte da torcida do United abriu mão da paixão no período em que os americanos da família Glazer estiverem no comando. Nos arredores do Stamford Bridge, nunca houve dúvidas: Abramovich sempre foi bem-vindo.

– Sempre que um bilionário que ninguém conhece compra um clube, há dúvidas. Mas desde o começo Roman Abramovich mostrou que faria as coisas do "jeito correto". Ele nunca mudou nada drasticamente. Além disso, quando um cara gasta mais de 100 milhões de libras na compra de jogadores, qual torcedor vai ser contra? (risos) Como não gostar? – se diverte Glanvill.

Roberto Di Matteo foi demitido recentemente do
comando do Chelsea: elogios ao 'Mister' (EFE)
 
Nem mesmos questionamentos sobre uma possível saída repentina do russo do clube preocupam o historiador. Em um verdadeiro caos financeiro na ocasião da venda, em 2003, o Chelsea atualmente é um clube capaz de andar com suas próprias pernas, na opinião de Rick.

– Não estávamos nada bem em 2003. O dinheiro era curtíssimo e provavelmente teríamos que nos desfazer de um bom elenco para sanar dívidas. Se olharmos para o que tínhamos e o que temos hoje... Sinceramente, se Mister Abramovich resolver ir embora, já vai ter deixado muito, mas muito mais do que tínhamos uma década atrás. Hoje somos um clube sensacional.

Até mesmo “vítimas” do russo, como Roberto Di Matteo, são incapazes de questionarem os benefícios para o clube. Pouco antes da demissão, o ex-treinador traçou um paralelo entre sua época de jogador, na década de 90, e a situação atual do Chelsea, e foi claro ao admitir que o antigo patrão abriu as portas do mundo.

– Após a chegada de Abramovich, o clube passou para um outro patamar. Passou a brigar pela Premier League e também em torneios internacionais com frequência. O investimento foi substancial para nos permitir competir em alto nível e contratar os melhores jogadores do mercado. A próxima temporada será a décima dessa longa parceria que melhora ano após ano. Ele é um apaixonado por este clube, e hoje vemos o Chelsea brigar por grandes troféus.

Terry e Lampard comemoram título inglês de 2005 com Roman Abramovich (Foto: Getty Images)
Mistério marca personalidade de Roman

Autoritário como chefe, fanático como torcedor, Abramovich ainda é um enigma fora dos portões do Stamford Bridge. Em quase uma década em Londres, jamais concedeu entrevistas para veículos britânicos e pouco se sabe sobre seus hábitos ou preferências. Nem mesmo o convívio na época da construção do museu foi capaz de fazer com que Rick Glanvill tirasse conclusões mais profundas.

Ninguém o conhece bem. A verdade, é que é um enigma: quem é ele? Eu não sei"
Simon Haydon, editor da AP

– Ele não é muito comunicativo, mas é amigável, apesar de ser bastante reservado.

Editor da AP, uma das principais agências de notícias do mundo, Simon Haydon acredita que, por toda visibilidade que atrai, o russo faz questão de se proteger ao máximo dos olhares externos. O jornalista, no entanto, garantiu que no meio empresarial Roman tem a agressividade como característica.

– Ninguém o conhece bem. A verdade, é que é um enigma: quem é ele? Eu não sei. Parece ser um pouco tímido, mas também sabemos que em termos de negócio trata-se de um homem muito agressivo. Nesse meio, não dá para ser suave, e ele sabe ser duro. Mister Abramovich nunca falou com a imprensa inglesa. Nunca. Ele procura se reservar ao máximo. Não posso falar sobre sua relação com a mídia russa, mas não tenho conhecimento de declarações sobre sua história com o Chelsea.

Nem mesmo os jogadores do elenco dos Blues têm tanto contato com Abramovich. Ao contrário do que é comum no Brasil, a presença em vestiário e concentração não é corriqueira, mas se torna mais constante quando, mesmo que sem palavras, o chefe tenta deixar seu recado. Recentemente, por exemplo, ele tem ficado próximo de Rafa Benítez, seja no CT de Cobham, na Grande Londres, ou em momentos antes e depois das partidas. O objetivo é dar respaldo e tranquilidade ao espanhol.
'Ele não é muito comunicativo, mas é amigável',
diz historiador do Chelsea (Foto: Getty Images)
 
Um dos líderes do elenco azul, o brasileiro David Luiz é um dos poucos que já tiveram a oportunidade de passar minutos a sós com o chefão e garante ter tido a melhor das impressões. A recordação mais marcante, porém, aconteceu no meio de todo grupo, quando, na Allianz Arena, em Munique, Abramovich se despiu da frieza russa para festejar o título da Champions League.

– Sempre que pode ele está próximo do clube. É um cara muito reservado, que tem o jeito dele de trabalhar, mas é fanático pelo Chelsea. É fácil perceber isso nos jogos, com as vibrações durante as partidas. Eu já tive algumas oportunidades de estar próximo e conversar com ele. Um momento que me marcou muito foi a presença dele no vestiário após a final da Champions. Vibrava como uma criança. Acho que era um grande sonho. Foi uma cena marcante. Também já tive conversas em uma sala, só eu e ele. Me perguntou o que poderia melhorar, o que se passava no dia a dia. Está sempre aberto a ouvir todo mundo, apesar de muita gente achar que ele faz tudo da forma dele.

Patrão ou torcedor, autoritário ou democrático, misterioso ou ousado, uma coisa é certa: em menos de uma década, Roman Abramovich se tornou o homem mais importante de um clube de 107 anos e que pode, graças aos seus bilhões, se tornar, no próximo dia 16 de dezembro, o maior do mundo.
 
Saiba algumas curiosidades sobre Roman Abramovich:

- Além do Chelsea, o russo já investiu também no CSKA Moscou, como patrocinador através de um de suas empresas, entre 2004 e 2006. No período, o clube venceu a Copa da Uefa, primeira e única competição continental conquistada por um clube do país. Após investigação de conflito de interesses por parte da Uefa, devido a sua relação com o Chelsea, o empresário abriu mão da parceria.

- Abramovich é ex-governador da região de Chukotka, na Rússia. O histórico político o deu imunidade durante a investigação de acusações de desvio de dinheiro e ações ilegais na época do governo Boris Yeltsin.

- Roman Abramovich comprou recentemente o famoso castelo do Conde Drácula, na Romênia, por 50 milhões de euros.
Roman Abramovich distribui autógrafos durante a Eurocopa 2012 (Foto: Getty Images)

- Entre 1992 e 1996, o russo abriu mais de 15 empresas na Rússia para investimento nos mais variados ramos. No fim desse período, em união com o também milionário Boris Berezovsky, Abramovich viu sua fortuna aumentar na época do governo do presidente Boris Yeltsin.

- Além de petróleo e gás, Roman Abramovich já investiu em ramos menos badalados, como patos de borracha, bonecas e brinquedos de plástico, chegando a ser preso em 1992 por transações ilegais.

- Informações dão conta que em 2007 o russo criou seu próprio "exército", formado por 40 homens, se tornando um dos empresários mais bem protegidos do mundo.

- Abramovich é fascinado por iates (tem três), barcos (também três) e aeronaves (tem um Boeing 767-33A/ER, um Falcon e outros três helicópteros).


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