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A epopeia europeia do Panathinaikos em 1995-96

Enquanto o Ajax desfilava com Johan Cruyff no campo, o rosto mais proeminente dos gregos do Panathinaikos era o de seu treinador, um certo Ferenc Puskas. Era a decisão europeia de 1970-71. Da partida disputada em Wembley sairia um campeão inédito. No caso ateniense, a singularidade seria dupla, já que não apenas o clube, mas toda a Grécia desconhecia os prazeres da glória continental. Puskas, por outro lado, não era estranho a ela. Vencera três vezes. Mas, o momento chamava Cruyff a buscar a primeira do que seria um trio. 25 anos mais tarde, os destinos de gregos e holandeses voltariam a se cruzar, marcados por presenças argentinas.

Foto: SportTime/Arte: O Futebólogo


A forja de uma referência


Enquanto o Panathinaikos lutava para acessar o olimpo europeu, quase 12 mil quilômetros distante de Atenas, o Newell’s Old Boys seguia sua saga em busca do primeiro título do Campeonato Argentino. A pressão era imensa, especialmente porque logo em 1971 o rival, Rosario Central, alcançou o topo. O ponta esquerda Juan Ramón Rocha, El Indio, era ainda um menino quando recebeu suas primeiras oportunidades no time de cima do NOB, nesse contexto fervilhante. Seria contemporâneo de nomes imponentes, como Jorge Valdano e Marcelo Bielsa.

O ponto de virada no Coloso del Parque seria emocionante. No Metropolitano de 1974, o craque Mario Zanabria decretaria o fim da espera. Em um quadrangular com Boca Juniors, Huracán e seu nêmesis, o Central, o Newell’s chegou à rodada final dependendo apenas de si, mas era o dérbi. 

Sorteio definira a disputa em cancha inóspita, o Gigante de Arroyito, onde o rubro-negro não vencia há quase uma década. Bastava o empate, só que o Rosario buscava um jogo extra. Logo, abriu 2 a 0. Sem baixar os braços, o NOB correria atrás do prejuízo. Dez minutos antes do apito final, um petardo de Zanabria confirmaria o título.


Juan Ramón Rocha estava lá e se notabilizava. Passaria a maior parte da década no clube que o revelou, apesar de uns seis meses tentando se transferir ao Panathinaikos, em 1975, quando não eram admitidos estrangeiros no torneio helênico. Depois de uma estada breve no Junior de Barranquilla, voltaria à Argentina para ser vice-campeão da Libertadores, pelo Boca Juniors. Era 1979 e estava na hora de consolidar seu segundo amor. 

“Me chamam de embaixador argentino na Grécia, porque sou o mais conhecido e moro neste país abençoado há 42 anos”, diria ao portal infobae, em 2021. Durante 10 anos, Juan foi uma certeza para o Trevo. “Cheguei à Grécia em 21 de dezembro de 1979 e dois dias depois fiz minha estreia. Joguei quase 300 partidas pelo Panathinaikos”. 

Controvérsias à parte — protagonizaria uma história de falsificação de passaporte que lhe obrigaria a servir o exército grego aos 36 anos —, a história foi escrita. Na década de 1980, venceu dois Campeonatos Gregos e cinco Copas da Grécia. Além disso, participou de outra campanha icônica ao nível continental.

Foto: Desconhecido/Arte: O Futebólogo


Grandes esperanças


Não faltaram emoções na primeira vez em que Rocha sentiu o gosto de disputar a Copa dos Campeões da Europa. Ainda sob o formato de mata-matas, o time teve uma pedreira logo na estreia.

Por pouco, não houve um reencontro do Panathinaikos com Cruyff. Depois de entrar em atrito com a direção do Ajax, o craque foi para o rival Feyenoord e venceu o Holandês de 1983-84. Acabara de se aposentar quando o Stadionclub entrou no caminho ateniense. Ainda assim, um jovem Ruud Gullit era motivo mais do que suficiente para preocupações.


A classificação viria com gol dele, Rocha. No Olímpico de Atenas, os donos da casa venceram por 2 a 1. A seguir, o que parecia uma colher de chá se revelou um desafio enorme. Os norte-irlandeses do Linfield venderam caro a eliminação, com um agregado de 5 a 4. No jogo decisivo, no Reino Unido, o argentino seria expulso. Os holofotes se voltariam para o jovem Dimitrios Saravakos.

Sem Juan, Saravakos seria o nome da fase seguinte, também. O adversário foi o forte Göteborg. O quadro sueco vencera a Copa da Uefa em 1981-82 e voltaria a fazê-lo em 1986-87. Taticamente, era um dos times melhor preparados da Europa, desde a passagem do treinador Sven-Göran Eriksson. Como esperado, o confronto foi duro como carne de pescoço. O fiel da balança seria uma penalidade convertida por Saravakos.


Outra vez nas semifinais, o Panathinaikos sonhava. Contra o Liverpool, tinha Juan de volta. Só não estava à altura do desafio encontrado. Os Reds estavam muitos níveis além do que os gregos podiam desempenhar. Em Anfield, o tombo veio rápido. Um double de Ian Rush, completado por tentos de John Wark e Jim Beglin, tornou a viagem inglesa à Grécia uma formalidade, 4 a 0. Não havia mais  esperanças para o Trevo, que perdeu outra vez: 1 a 0.

Na segunda e última aventura de Rocha em território continental, o Panathinaikos foi limado logo na primeira fase. Sucumbiu diante do Estrela Vermelha, que revelava ao mundo o talento de Dragan Stojković.

Surge o DT Juan Ramón Rocha


A Grécia se tornou a casa de Juan Ramón Rocha. Quando se aposentou, em 1989, logo começou uma nova trajetória como treinador do modesto Paniliakos, de Pírgos. Era uma agremiação modestíssima; militava na quarta divisão grega e conseguiu acesso imediato ao terceiro escalão. Nas duas temporadas seguintes, o técnico passaria pelos igualmente nanicos Ilisiakos e Kalamata, na terceirona.

Não era lógico o que aconteceria em meados da temporada 1993-94. Depois de um ano e meio afastado dos bancos, o argentino foi convidado a substituir o treinador iugoslavo Ivica Osim, no Panathinaikos. Era um chamado do coração; esportivamente, nada abonava o retorno de Juan Ramón.

Osim caiu logo após um empate sem gols frente ao Apollon. O resultado aumentava a distância do Trevo em relação ao líder do certame, o AEK. Havia um sentimento de estagnação. Os aurinegros eram bicampeões gregos e se encaminhavam para o tri. A mudança no comando verde rendeu frutos. Nos seis primeiros jogos sob Rocha, o Panathinaikos venceu cinco vezes, com duas goleadas, e empatou um encontro apenas.

O vice-campeonato foi inevitável, mas pavimentou o caminho para a retomada das vitórias para o quadro verde e branco. Na primeira temporada completa sob a orientação do argentino, escorado nos gols do polonês Krzysztof Warzycha — artilheiro máximo do certame, com 29 gols — , o Panathinaikos voltou a vencer o Campeonato Grego.


O Indio teria uma terceira chance no maior palco do futebol europeu. Entretanto, em 1995-96, o formato já era outro — mais desafiador para clubes com orçamentos menos generosos. Porém, era aquele o último ano antes de a Lei Bosman impor a livre circulação de atletas europeus pela União Europeia. Os melhores jogadores gregos ainda atuavam majoritariamente em seu país; muitos deles no Panathinaikos.

O sonho europeu


A disputa da fase de grupos da Liga dos Campeões da Europa começou por colocar o Panathinaikos em um grupo pesado, com Porto, Dynamo de Kiev e Nantes. Os gregos estrearam em Kiev, perdendo por 1 a 0. Contudo, alegações de que os ucranianos tentaram subornar o árbitro Antonio López Nieto não tardaram a chegar. O confronto foi anulado, o Dynamo suspenso das competições continentais e substituído pelos dinamarqueses do Aalborg, antes eliminados pelo quadro do Leste Europeu.

A mudança fez pouca diferença para os gregos. No jogo que substituiu a estreia, houve nova derrota. Os daneses sortudos eram liderados por ninguém menos do que Sepp Piontek, o treinador que fizera o país escandinavo sonhar nos anos 1980, imortalizando a Dinamáquina. Ali, entretanto, o Trevo já marcara território, vencendo o Nantes de Claude Makélélé, Reynald Pedros e treinado por Jean-Claude Suaudeau, 3 a 1 — e o Porto, no Estádio das Antas, 1 a 0.


Juan Ramón Rocha tinha um elenco equilibrado. Ao mesmo tempo em que internacionais gregos como Giannis Goumas, Angelos Basinas e Georgios Georgiadis se afirmavam — o goleiro Antonios Nikopolidis ainda era reserva —, figuras experientes como Warzycha e o arqueiro e compatriota Józef Wandzik agregavam peso ao time. Outra figura de destaque era a do argentino Juan José Borrelli, formado no River Plate e selecionável à época.

A derrota para o Aalborg foi um mero acidente de percurso. Os jogos de volta confirmaram a solidez grega. Depois de um empate sem gols com o Porto, o Panathinaikos venceu os dinamarqueses e, na França, segurou o ímpeto dos Canários, em outro 0 a 0. A classificação veio com a liderança.

Foto: SportTime/Arte: O Futebólogo

Nos mata-matas, a tônica da fase anterior prevaleceu. 

O Legia Varsóvia, que deixara Rosenborg e Blackburn pelo caminho, seria o primeiro obstáculo. Na Polônia, os gregos voltaram a conter o rival, com o placar permanecendo inalterado. Em seus domínios, o oportunismo de Warzycha, duas vezes, e a enorme técnica de Borrelli escancararam a porta dos fundos para o Legia, eliminado com um 3 a 0 impositivo.


Reencontro amargo


Era hora de rever o Ajax, o campeão europeu vigente, cheio de influências de Cruyff. A constelação de craques alinhada pelo treinador Louis van Gaal dispensa apresentações. O onze inicial ia de Edwin van der Sar a Patrick Kluivert, passando por nomes como os de Edgar Davids, dos irmãos De Boer e de Jari Litmanen. Vitória certa para os amsterdameses era a lógica. Só que na capital holandesa, Warzycha concluiu um contragolpe modelo puxado por Giorgos Donis, para confirmar um triunfo marginal, 1 a 0.

“Vim em um período muito bom para o Panathinaikos. A equipe chegou entre os quatro na Liga dos Campeões. Os jogos contra o Ajax foram extremamente importantes para o Panathinaikos, mas também para o futebol grego”, diria Warzycha, ao portal News247. As palavras do goleador polaco já indicam o que houve na volta.


Os ajacied podiam falhar uma, mas não duas vezes. “Lembro-me dos ingressos esgotados no Estádio Olímpico de Atenas, o clima era incrível [...] tivemos a sorte de marcar logo aos quatro minutos e colocar toda a pressão no Panathinaikos, desde então era quase certo que iríamos controlar o ritmo do jogo”, diria Litmanen, ao SDNA

Com dois gols do finlandês e outro de Nordin Wooter, 3 a 0, os holandeses foram à decisão. Era o fim da linha para o Panathinaikos, embora ainda tenha assegurado mais um título grego. 

Em 1996-97, o pão voltaria a cair com o lado amanteigado virado para o chão. Começaria uma hegemonia do Olympiacos, maior rival do Trevo. Era ainda outubro de 1996, quando Juan Ramón Rocha caiu, dando lugar ao iugoslavo Velimir Zajec, seu ex-companheiro nos anos 1980. O argentino não resistiu às eliminações precoces nas fases preliminares da Liga dos Campeões e da Copa da Uefa (em vingança do Legia).

Desde então, o time sonha com um retorno cada vez mais improvável aos grandes palcos — conforme a distância orçamentária para as grandes potências do continente aumenta. Os dias da temporada 1995-96 ficaram para trás. Nem as breves voltas do ídolo Juan Ramón Rocha recuperaram as sensações daqueles dias de uma vida inteira.


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