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Hípias de Élida

“Hoje falaremos de um autor que, tal como Pródico, está na dita segunda geração de sofistas.
De sua vida não temos muitas informações exatas, ainda que exista pelo menos duas obras de Platão que levam seu nome (Hípias Maior e Hípias Menor).
Sem saber exatamente quando o autor nasceu, se costuma dizer que seu nascimento se dá, tal como o de Pródico, por volta de 460 a.C.
Sua cidade natal, Élida, era um distrito do Peloponeso no qual ocorria o festival Olímpico de modo que o sofista chegou a ter servido em algumas missões oficiais para sua cidade e acabou fazendo fama por conta de seus discursos e da afirmação que seria capaz de responder sobre qualquer pergunta.
Também se diz que foi ele quem copilou a primeira lista de vencedores olímpicos.
Apesar de não termos muita documentação sobre sua vida, o próprio fato de Platão ter feito dois diálogos intitulados com seu nome pode indicar que  se tratava de uma figura bastante famosa.
Além disso, temos alguns relatos de seus vasto conhecimento em uma série de disciplinas como metalurgia, joalheira, sapataria, tecelagem, poesia, prosa, pintura, escultura, geometria, aritmética, astronomia, genealogia historia etc.
Mais tarde veremos a importância de tão vasto conhecimento para seu método sofístico.
Também se diz que Hípias se gabava de ter um memória tão boa que seria capaz de repetir uma série de 50 nomes depois de os ter ouvido apenas uma vez.
Além dos temas que trataremos em seguida, uma de suas grandes contribuições para filosofia foi o fato de ser o primeiro a coletar passagens sobre antigos poetas e filósofos e as agrupar sob algumas rubricas.
Com isso, se pode dizer que ele começou a chamada tradição doxográfica (compilação de doutrinas filosóficas) sem a qual muito da sabedoria antiga provavelmente teria se perdido.
Algo de sua obra sobreviveu, de modo que temos algumas sentenças sobre poetas e filósofos anteriores, porem só conhecemos o nome de uma, Os Nomes dos Povos.
Apesar de todos esses feitos, Platão o retrata como um sofista vão, pretensioso, mestre na arte da auto propaganda e dotado de talentos filosóficos bastante limitados.
Ainda com todas essas críticas, Platão nunca chegou a dizer que Hípias seria um homem imoral ou sem escrúpulos, de modo que, apesar de toda sua potência mental, o sofista nunca deve ter chegado a ser uma grande ameaça para a filosofia de Sócrates e Platão.
Não sabemos ao certo a data de sua morte.
Vejamos então o pensamento do autor!!!

Tal como os demais sofistas, entendia a educação para a excelência política como a finalidade de tudo aquilo que ensinava para seus alunos.
Hípias, contudo, diferia bastante no modo como enxergava que deveria ser o caminho para a virtude política, a ponte de incluso que somente o seu método seria eficaz e válido para esse fim.
O autor pensava que a melhor caminho para que alguém conseguisse se tornar um grande mestre da política era o que podemos chamar de Polimatia, quer dizer, o saber enciclopédico.
Isso significa que aquela multidão de conhecimento que listamos no início do texto não era algo a toa, mas visava justamente sua atividade de ensino.
Como porem para saber tantas coisas era imprescindível a memorização (sobre a qual também já comentamos), Hípias ensinava a seus alunos mnemotécnica, ou simplesmente a arte de memorizar.
Dentro das muitas disciplinas que o autor desejava que seus alunos aprendessem, as mais importantes eram as matemáticas e as ciências naturais.
O motivo disso é que o sofista entendia que a vida humana deveria adequar-se não às leis humanas, mas às leis da natureza.
Com isso então, entramos na grande discussão nómos (νομος) e physis (φυσις), quer dizer, entre lei e natureza.
Nessa discussão é onde vamos nos deter um pouco mais.
Porem, antes de entrarmos no que disse Hípias, vejamos um pouco do contexto desse debate.

O século V a.C. foi um período de grande vivacidade para a intelectualidade grega.
Temos brilhantes e distintas figuras não só na filosofia, mas também em poesia, história, retórica, teatro etc.
Cada um dos autores desea época estavam em constante debate uns com os outros e faziam isso em espaços públicos, de modo que podemos dizer que a grande massa estava a par dessas discussões.
Um dos temas centrais desses debates era o contraste entre lei (nomos) e natureza (physis) e os modos de interpretar esses contrastes.
Essa discussão era a chave para entender uma série de problemas que tinham suas raízes não só na filosofia pré socrática, mas também na prática administrativa das cidades.
Podemos listar algumas dessas questões que McKirahan assinala em sua obra:
-se deus existe por natureza ou convenção;
-se a sociedade huamna existe por natureza ou convenção;
-se a moralidade é natural ou produto dos costumes;
-se as opiniões políticas devem ser determinadas pela natureza humana ou se as leis devem simplesmente restringir essa natureza;
-se devemos seguir prioritariamente à natureza ou às leis.
Essas e outras questões podem ser encontradas em diversos escritos do século V e IV a.C. tais como as obras de Platão e Aristóteles, os escritos dos sofistas, obras de dramaturgia etc.
Todos esses autores, quando debatiam, tinham noções de lei e de natureza bem específica que, se perdemos de vista, acabamos saíndo prejudicados em nosso estudo.
Assim, vejamos rapidamente o que eles queriam dizer com esses termos para então, finalmente, entrarmos no pensamento de Hípias com boas condições de o entender.
a) Nomos:
Ainda que o costume seja traduzir isso por “lei”, a verdade é que não existe um só palavra na língua portuguesa capaz de passar todas as ideias que esse termo possui.
Ele vem do verbo grego no nomizó (νομίζω) que quer dizer “pensar”, “acreditar” ou “praticar”, de modo que originalmente significava o conjunto de coisas nas quais um povo acreditava e praticava.
Até aqui, porem, poderíamos ainda dizer que então o nomos significava algo como os costumes de um povo, porem existe um pequeno detalhe que devemos estar atentos.
Pelo fato de que durante muito tempo não havia na Grécia Antiga um corpo de leis escritas, acabava que eram os costumes que realizavam esse papel.
Não se trata somente daquilo que um povo acredita e pratica, mas do que se acredita ser o certo e do que se pratica como modo de vida correto.Em outras palavras, o nomos, além de ser como costumes, também tinham a força prescritiva de leis, de modo os indivíduos daquele grupo se encontram na obrigação de cumprir esses “costumes legais”.
Outra característica importante da noção de nomos seria a sua variabilidade, afinal, já entre os antigos poetas gregos se percebe que se trata de algo distinto para cada povo e, até mesmo, para um mesmo povo em momentos distintos.
Isso já se indica em Heródoto que fala dos estranhos costumes dos povos estrangeiros e em Xenófanes quando comenta as distintas noções de deuses que tinham os distintos povos.
Não há dúvida então de que já se tinham claro que o nomos era um produto artificial dos povos que poderia ser criado, abolido ou mudado.

b) Physis:
É um termo que normalmente traduzimos por “natureza”, porem sabemos que possui uma série de usos filosóficos, de modo que faz falta precisar um pouco o sentido do termo dentro do debate entre Nomos e Physis.
Nesse contexto, toda as vezes  que falarmos de Physis, devemos entender o termo como aquilo que seria a natureza básica de uma coisa ou indivíduo, isto é, algo que nele é permanente ou essencial e se contrapõe às características que chamamos de adquiridas.
Um segundo modo razoável de organizar a mente é pensar a physis como o que algo realmente é, ou seja, contrapondo com as aparências.
Seja do primeiro ou do segundo modo, o mais que importa é que conseguimos alcançar uma uma boa distinção entre as noções de Nomos e Physis.
Essa distinção deve então ser entendida por nós como um lugar comum aos pensadores gregos da época, e pode ser assim resumida…
Physis: necessária, universal e permanente.
Nomos: contingente, artificial, variável.

Estando então relativamente bem contextualizados na discussão, vejamos como Hípias teorizou sobre isso.
Com o sofista, não falamos apenas de uma distinção entre lei e natureza, mas de uma contraposição, quer dizer, dois planos que competem um contra o outro.
No diálogo Protágoras de Platão, este apresenta a Hípias dizendo que a natureza é aquilo que faz com que os homem sejam semelhantes, ou seja,  aquilo que une os homens.

Por outro lado, o mesmo afirma que a lei é um fator de divisão que força aos homens a irem contra a própria natureza.
Isso faz com que Hípias afirme que a natureza é o único critério do verdadeiro agir humano enquanto que a lei vai sendo cada vez mais desvalorizada.
Surge então a noção de um lei natural e eterna que parte da natureza humana e um lei positiva e
contingente que é imposta por um homem a outro.
Esse caráter contingente das leis positivas se baseai no fato de que elas são convencionadas e, por isso, podem mudar a qualquer momento por meio de uma nova convenção.
Apesar dos problemas que isso vai ter, podemos todavia tirar alguns pontos positivos dessa situação.
Ao afirmar que é a natureza que une os homens, Hípias vai criticar tanto as diferenças que existem entre cidadãos de polis diferentes, quantos as que existem entre cidadãos de uma mesma polis.
Seria então o nascimento de um ideal cosmopolita e igualitário que, para os gregos de então, será uma verdadeira revolução.
Posteriormente essa ideia vai ser como que radicalizada por Antifonte (do qual falremos um pouco no próximo texto) e desenvolvida nos chamados sofistas políticos (que talvez vejamos um dia).”

Texto de José Guilherme Carvalho de Souza, Bacharel em Filosofia pela PUC-RJ

Caso você tenha alguma dúvida, crítica, pedido ou sugestão, entre em contato pelo email [email protected]
Na medida do possível vamos tentar responder a cada um.
Até semana que vem e estudem com moderação!!!

Bibliografia:
-MCKIRAHAN, Richard. A filosofia antes de Sócrates: uma introdução com textos e comentários. São Paulo: Paulus, 2013
-REALE, Giovanni. Pré-Socráticos e Orfismo: historia da filosofia grega e romana. São Paulo: Edições Loyola, v. I, 1993




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