Kuyper (1837-1920) nasceu em uma família de classe média, em meio a uma Holanda em declínio econômico-social, político e religioso.

 As mudanças econômicas e desastres das Guerras Napoleônicas aceleraram o declínio da glória mercantil e marítima holandesa. As políticas de modernização colocaram a organização e o funcionamento da Igreja Reformada da Holanda sob a autoridade do Estado. Em 1855, Kuyper ingressou na universidade de Leiden, onde foi influenciado por certos teólogos com tendências modernistas. Seu primeiro mandato como pastor, em uma congregação de calvinistas conservadores entre 1863-1867, o converteu a um calvinismo mais rígido e confessional. Logo depois, Kuyper entrou em debates políticos e eclesiais, desafiando a relação entre a igreja nacional e o governo. Em 1872, assumiu a função de editor-chefe do jornal diário De Standard. Suas críticas ao caráter da igreja estatal foram tão fortes que em 1885 ele e seus companheiros foram suspensos. Ele entrou oficialmente na política com sua eleição para o Congresso em 1874 e lutou contra as Reformas Educacionais que colocaram mais autoridade sobre as escolas religiosas nas mãos do Estado. Em 1879, por meio do apoio popular à sua campanha contra as reformas educacionais, ele organizou o Partido Antirrevolucionário, que promulgou suas próprias reformas educacionais e expansão do sufrágio. Como organizador social, ele foi a figura central na fundação da Universidade Livre de Amsterdã em 1880, onde atuou como docente e administrador, uma universidade cristã, mas livre do controle da igreja ou do Estado. Aliado a grupos católicos, ascendeu ao posto de primeiro-ministro entre 1901-1905. Como líder religioso, organizador social, teólogo e político, deixou sua marca na cultura holandesa e seu pensamento repercute hoje em muitas partes do mundo.

Convidado pela Universidade e Seminário de Princeton em 1898 expos através das chamadas Palestras Stone (Stone Lectures) seus pensamentos teológicos peculiares do que ele entendia deveria ser a teologia calvinista e se constitui em ponto de partida para uma compreensão do que tem sido denominada neocalvinismo ou kuyperianismo, um neologismo muitas vezes usado de forma pejorativa pelos que discordam deste viés calvinista. Posteriormente essas palestras foram reunidas e publicadas, inclusive recentemente no Brasil.  Para ele o calvinismo original fecundado na mente de João Calvino não deveria ser restrito apenas como um sistema dogmático e eclesiástico, visto que Calvino nunca manifestou essa intenção em quaisquer de suas obras, seja em sua obra magna as Institutas ou na totalidade de seus muitos comentários dos livros bíblicos (que nunca foram ao menos lidas por 90% dos que se autodenominam calvinistas-reformados no Brasil).

Para Kuyper o calvinismo fiel ao pensamento de João Calvino é um sistema de vida, ou seja, deve impregnar todas as esferas da vida humana cotidiana, seja a teologia, política, ciência, filosofia, arte, música ou lazer. Por esta razão ele se tornou um dos principais expoentes do movimento de renovação religiosa e social que ocorreu na Holanda no século XIX, conhecido como Neocalvinismo holandês, o qual foi disseminado em muitos seminários nos Estados Unidos no século XX, de onde veio para o Brasil.

Abraham Kuyper continua sendo um pária no meio calvinista histórico brasileiro. Suas obras, principalmente as que não estejam relacionadas diretamente à teologia foram ignoradas, um termo mais ameno para rejeitadas ou em algumas esferas eclesiásticas receberia um selo (invisível) de Index Librorum Prohibitorum.