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Luís Filipe Vieira: entrevista


 

ENTREVISTA COMPLETA

Luís Filipe Vieira respondeu a tudo! No dia do 117.º aniversário do Sport Lisboa e Benfica, o Presidente fez o balanço da temporada em curso numa entrevista exclusiva à BTV.

Antes de se iniciarem (quase) 90 minutos de perguntas e respostas, o Presidente do Sport Lisboa e Benfica, cuja liderança é já a mais duradoura de sempre no Clube, fez questão de deixar uma palavra sobre a data que se assinalou neste domingo, 28 de fevereiro.

"Hoje é um dia muito especial, são 117 anos de uma história nobre e singular, em Portugal e em todo o mundo, que nos envaidece a todos. É uma história extraordinária de amor a um clube. Aproveito este dia para cumprimentar todos os Benfiquistas. Se não fosse a pandemia, hoje teríamos festejado no nosso Pavilhão a entrega dos Anéis de Platina e dos Emblemas de Ouro e de Prata para agradecer a dedicação e o amor pelo Clube de todos os Sócios. Brevemente veremos como poderemos estar todos juntos de novo para festejar este dia de benfiquismo, com tão grande simbolismo", afiançou Luís Filipe Vieira.

Vamos à atualidade e à crise de resultados. O Benfica não marcou lugar na Champions, perdeu a Supertaça, ficou na meia-final da Taça da Liga, foi eliminado nos 16 avos de final da Liga Europa e, com menos um jogo, está neste momento a 16 pontos do Sporting, líder do Campeonato. Os objetivos para esta temporada estão a ser redefinidos, ou o Presidente do Benfica já só está a pensar na próxima época?

Ninguém baixou os braços. Enquanto matematicamente for possível, o Benfica vai lutar por ser campeão nacional. Caso isso não suceda, o segundo lugar será um grande objetivo. Temos também uma Taça de Portugal para conquistar, e peço a todos os Benfiquistas que não baixem os braços e acreditem sempre. Já ganhámos um Campeonato com oito pontos de atraso, já perdemos outro com oito pontos de avanço... Enquanto for matematicamente possível, os Benfiquistas têm de acreditar, só assim é que vale a pena existir o Benfica, mas para isso também é importante que todos estejamos juntos e que os Sócios e os adeptos apoiem a equipa.

Apela à unidade e a que não se desista, isso envolve Presidente, treinadores, jogadores, estrutura, adeptos...

Envolve todos os Benfiquistas. Todos temos de estar unidos e a pensar sempre que é possível lá chegar.

Quem é o responsável pela atual crise de resultados que o Benfica vive?

O principal responsável sou eu. Os Sócios do Benfica elegeram-me para ser Presidente do Clube, por isso na hora da derrota não vale a pena andarmos à procura de fantasmas, só há um responsável: sou eu. Não pode existir mais ninguém, o Presidente é que é responsável. Assumo inteira responsabilidade pelo que está a acontecer ao Benfica. 

Encontra explicações para os resultados que estão muito aquém das suas expectativas?

Na hora da derrota tem de aparecer sempre quem lidera o Clube. Devo ser dos Presidentes mais titulados no Benfica, e quero lembrar que nos últimos dez anos ganhámos seis Campeonatos, e um deles foi o Tetra. Viram-me a festejar com todos os Benfiquistas, mas não me viram a dar entrevistas depois disso, por respeito a todos os Benfiquistas, porque foi uma vitória de todos. O Jorge [Jesus] já falou, e toda a gente viu como, até se emocionou um pouco. Eu próprio tenho estado no Seixal e sei o que se passa naquela casa. É verdade que o mês de janeiro nos fustigou. Lembro-me que, quando tentámos adiar o jogo com o Nacional, fomos fustigados com 27 casos de COVID, 10 deles eram jogadores. Sabemos o que se passou e os Benfiquistas não devem minimizar o que aconteceu. É grave se o fizerem, porque é sinal de que as pessoas não sabem ou não foram infetadas com a COVID. Infelizmente tive, sei que é penoso. Quando estamos negativo pensamos que já está resolvido, mas não está. Se não está resolvido para mim, também não está para um atleta. É importante as pessoas terem essa sensibilidade. Ouvia pessoas minhas amigas dizerem que a equipa só corria uma parte... As pessoas têm de entender que os jogadores que corriam normalmente entre nove e 12 quilómetros, não corram mais de sete quilómetros. Mas isto não é desculpa, é uma realidade. Eu sei o que se passa comigo. Eu sou um ser humano e o jogador também é um ser humano, mas a sua profissão é correr, todos os dias, e quando não pode, não pode. Isto não é uma desculpa, é uma realidade. Tirando os lares, nunca li nem vi, 27 casos num curto espaço de cinco ou seis dias. Esta é que é a grande realidade. E no nosso caso até aconteceu o nosso treinador estar fora do Benfica durante duas semanas, sem poder dar treinos. Nada foi normal no Benfica durante o mês de janeiro. Independentemente disso ter acontecido, não faltou profissionalismo, compromisso ou dedicação. Ninguém abandonou o barco. Neste momento, a tal sombra já está aliviada. Já temos jogadores que correm os tais 10 quilómetros e ainda mais, conforme o Jorge [Jesus] teve oportunidade de divulgar. Aliás, temos um jogador, o Weigl, que já correu 13 quilómetros. A situação vai normalizar. Eu vejo pelo meu caso: estou há perto de um mês negativo, mas não consigo subir um lanço de escadas sem parar. O médico disse-me que vai demorar dois, três meses. Vamos ver, dizem-me que tenho de ter calma.

Estes 16 pontos de atraso para o primeiro lugar no Campeonato e os títulos perdidos nesta época resumem-se ao surto da COVID?

É o principal, mas não vamos negar, como o próprio Jorge [Jesus] disse, há outras situações de culpa, mas o principal o mês de janeiro, onde fomos fustigados a sério.

Do ponto de vista das arbitragens, o Benfica tem razões de queixa que também justifiquem, em parte, o atraso no Campeonato?

As arbitragens todos vemos com os próprios olhos. Posso dizer que nesta semana entregámos uma carta ao presidente da Federação Portuguesa de Futebol para que, logo que termine o Campeonato, haja uns Estados Gerais do futebol português, onde estejam o secretário de Estado [da Juventude e do Desporto], o presidente da FPF, o presidente da Liga, o Sindicato dos Jogadores, a Associação dos Árbitros [APAF] e a Associação dos Treinadores [ANTF]. Temos de dar a volta a isto, porque as coisas não estão bem. Quando o VAR veio para Portugal, pensámos que ia acabar a contestação à arbitragem e que este problema estaria resolvido. 

Mas não acabou...

Não acabou. Pelo contrário, complicou. Há lances, e falando do jogo com o Moreirense, em que é impossível não ver os penáltis. Não viu porquê? Há qualquer coisa que está mal. Acredito que a própria Federação Portuguesa de Futebol estará sensível para se fazer alguma coisa. Toda a gente ficou ofendida quando eu disse que deviam vir árbitros estrangeiros para o futebol português, mas parece que agora veio um inglês contradizer tudo o que as pessoas diziam. Para contribuir para a verdade desportiva, façam tudo o que for possível. Este momento que vivemos é que não pode ser. Os Estados Gerais não serão só para a arbitragem, há mais, mas é no local próprio que devemos falar. Como disse ao presidente da Federação, leia com atenção a nossa carta, não há outra maneira que não seja sentarmo-nos a uma mesa e conversarmos todos, porque não vale a pena andarmos a disparar para um lado e para o outro, para isso já bastam os comentadores. Os presidentes dos clubes não o devem fazer publicamente, porque isto é uma indústria a sério, das mais credíveis e que geram mais receitas em Portugal ao nível dos impostos. Temos de virar isto ao contrário. Como está hoje é que não pode continuar.

O Estádio Luz vazio, sem adeptos, que peso teve no percurso desportivo do Benfica nesta época? 

O 12.º jogador é muito importante para o Benfica, tanto aqui como fora. O nosso Estádio tem normalmente 55/60 mil pessoas, e esse benfiquismo arrastava a equipa para as vitórias, não tenho dúvidas. Faz-lhes muita falta o público nos estádios. Até fora dos estádios, a forma como acompanham e recebem a equipa. Sabemos como são as chegadas da equipa, tudo isso influencia o comportamento dos jogadores, cria uma química muito especial e, depois, dentro do campo os jogadores estão sempre a pensar nos adeptos.

Neste momento o Benfica está fraturado, tendo em conta que há uma contestação aos jogadores, ao Presidente e à Direção, e isso pode prejudicar a recuperação desportiva?

Há uma coisa que não entendo, nem sei por que motivo há esta fratura. O Clube sempre foi democrático, mesmo no tempo da ditadura. Houve eleições há quatro meses. Em cada três sócios, dois votaram em mim. Não sei por que motivo há esta contestação. Não faz sentido nenhum. As pessoas têm de entender que, no Benfica, se não houver estabilidade e unidade, dificilmente nós ganhamos. Foi por este comportamento que está agora a existir que o Benfica demorou 31 anos para ganhar um Bi, 39 anos para ganhar um Tri, e nunca tinha feito um Tetra. Mas os críticos nunca falam do Tetra, só falam do Penta. Só foi possível ganhar porque houve uma estabilidade muito grande, começou-se a preparar o Benfica, nomeadamente a partir de 2009, para um clube vencedor a sério. Independentemente dos percalços que tivemos, o certo é que nesse período estivemos em duas finais europeias, uma perdida nos minutos finais e na outro fomos espoliados no resultado. Por incrível que pareça, em Portugal escamotearam os três penáltis que nos 'roubaram' [na final com o Sevilha], foi preciso os espanhóis denunciarem isso para depois se começar a falar aqui. Nesse espaço de tempo, o Benfica fez um Bi, um Tri e um Tetra, e lutou pelo Penta até quatro jornadas do fim, sofrendo um golo aos 90 minutos [no clássico com o FC Porto no Estádio da Luz], um pontapé que o Herrera nunca mais repetirá. Se isso não tivesse acontecido, faríamos o Penta. Este percurso só foi possível com estabilidade e a união das pessoas. Na derrota é que vemos os verdadeiros Benfiquistas, na derrota é que temos de lá estar. Nas vitórias todos nos batem nas costas. Na derrota há coisas que marcam... Quando viemos do jogo que perdemos com o Chelsea [em 2012/13] receberam-nos como se fôssemos campeões, e tínhamos acabado de perder o título nos últimos segundos no Dragão. E depois perdemos a Taça de Portugal. O Jorge [Jesus], quando subiu à Tribuna e chegou ao pé de mim, estava todo marcado com cuspidelas. Só lhe disse: vais para o balneário, sempre com a cabeça levantada, que eu já lá vou ter contigo. E foi assim. Quando terminou a cerimónia olhei para trás e já não vi ninguém comigo, estava apenas o João Gabriel. Tive de descer aquelas escadas sozinho para ir ter com a equipa e com o treinador. Isso não se faz. Um treinador que leva a equipa do Benfica às finais a que fomos... Não podiam ter reagido da maneira que reagiram. Agora está-se a fazer a mesma coisa... Na altura, aquilo era para o Jorge Jesus desaparecer, sair... Não havia uma pessoa que quisesse o Jorge Jesus. A mim, fazia-me confusão. Eu dizia para comigo: este homem levou-nos a todas as finais, porque é que tem de se ir embora? Felizmente pensei pela minha cabeça e disse para comigo: vais cá ficar. O certo é que Jorge Jesus continuou e ganhámos tudo dali para a frente [em Portugal]. Na Liga Europa... levaram-nos a vitória [na final com o Sevilha], todos sabemos o que sucedeu nesse jogo.

Jorge Jesus cumprirá o seu contrato?

Logicamente que vai continuar, tem de cumprir o contrato. Mas porque é que Jorge Jesus tem de sair? Ele não é um treinador competente? Nas eleições, todos diziam que o Jorge Jesus era o treinador que tinha de vir para o Benfica, era o treinador que colocava o Benfica a jogar o melhor futebol. Julgo que até as outras listas apoiavam Jorge Jesus. O Jorge tem provas dadas no Clube, ele não precisa que o defenda. Esta é a realidade. Jorge Jesus é o treinador que mais títulos conquistou neste Clube. Por aquilo que se passou agora, as pessoas não entendem e pensam serem desculpas, mas não há desculpas nenhumas. Há uma realidade que as pessoas não entendem. É um caso atípico que se passou connosco dentro daquela casa [Benfica Campus]. Eu estou lá diariamente e sei o que se sofreu. Garanto aqui que, se porventura não houver a imunidade de grupo no próximo ano, o Benfica nunca mais se equipa em balneário nenhum. O Benfica sai do hotel, equipado, vai para o estádio, entra em campo, a palestra acontece no campo, acaba o jogo, sai para o autocarro, vai para o hotel, tomam banho e jantamos lá. É impensável, para mim, ficarem 27 pessoas infetadas em escassos dias... Algo revoltante, para mim, é a situação que aconteceu com o presidente do Nacional. Telefono-lhe e pergunto-lhe se podemos adiar o jogo... A resposta foi que não podia, mas se eu lhe emprestasse o Diogo Gonçalves já adiava o jogo. Vejam o estado em que está o futebol português. Não há solidariedade nenhuma e, curiosamente, o Benfica já foi muito solidário para aquele clube. Já fomos mesmo muito solidários.

Jorge Jesus vai ficar e o Benfica não se vai tornar um cemitério de treinadores?

Cemitério de treinadores? Isso é a falácia das pessoas. Eu tenho uma mágoa comigo, relativa ao Fernando Santos, que vou levá-la para o resto da vida. Uma mágoa grande, e ele sabe. Sou amigo dele e falamos muitíssimo bem. Depois tivemos outros treinadores, mas a partir de 2009 só tive três treinadores. Jorge Jesus durante seis anos, a ganhar e a perder, depois vem o Rui Vitória que em 36 meses ganhou seis títulos. É o treinador do Tetra, e o que fizeram, escreveram e disseram dele? Eu li várias vezes: "Vieira, vai para a rua, Rui Vitória na rua." Falei abertamente com o Rui e disse-lhe que isto já não era bom para ele, e ele reconheceu isso. Veio o Bruno Lage. O Bruno entrou, fomos campeões, disputámos uma Supertaça, curiosamente, contra o Sporting e ganhámos 5-0, parecia tudo encantador. Quando acabou o Campeonato Nacional, o Bruno Lage era o "novo modelo de treinador português", era o "novo Mourinho", era um "novo discurso em Portugal sobre futebol" e tudo era bonito para o Bruno Lage. Fizemos uma boa primeira volta, estávamos isolados no comando, entretanto, na segunda volta, as coisas correram-nos mal, perdemos no Dragão, perdemos, imerecidamente, na Luz com o SC Braga e depois o Campeonato parou devido à COVID-19. Aqui o Bruno Lage já não era o Bruno Lage. Já não era treinador para o Benfica, já não tinha ideias de jogo para o Benfica, diversas coisas se disseram. O que é certo é que Bruno Lage teve a coragem de pegar no Ferro, no Florentino e no João Félix. Foram titulares, e curiosamente o que se começou a dizer depois, por aqueles que hoje fazem comentários e que dizem que não havia Formação no Benfica, é como é que o Clube ia ganhar com miúdos. Diziam que só estávamos a colocar os jogadores na montra para se fazer dinheiro. Os Benfiquistas têm de se habituar a uma coisa. Têm de saber o que querem. Se é a Formação, vai ser a Formação. Se é uma parte mesclada com Formação e experiência, também vai ser.

Estabilidade é fundamental. Falou dos exemplos de Rui Vitória e Bruno Lage, que acabaram por sofrer uma enorme pressão interna e externa. Não vai acontecer o mesmo com Jorge Jesus?

É revoltante o que fazem. Aos jogadores, ao treinador, ao Presidente... é revoltante a pressão que fazem. O Clube não pode ser vivido assim. Sei que vivemos de vitórias e de títulos, é verdade, mas têm de entender que há alturas em que não podemos ganhar. Temos de estar unidos na derrota e na vitória. Se não estivermos não vale a pena. Fazer um trabalho destes, estabilizar um clube como este... em março do ano passado era dos clubes mais rentáveis na Europa e era dos clubes com maior robustez financeira. Tudo isto graças à Formação do Benfica. Depois havia a falácia de que o Vieira queria vender. Não há nenhum clube em Portugal que não tenha de vender. Não vale a pena andarmos aqui a contar falácias às pessoas. Só é possível um clube ter um trajeto vitorioso com resultados desportivos se estiver equilibrado financeiramente. No dia em que o Benfica deixar de se equilibrar financeiramente em prol de resultados desportivos, vai tudo por aí abaixo, começa a haver hipotecas, começa a haver tudo. Comigo não vai ser assim. Sou fiel ao meu pensamento. Foi assim que trouxe o Benfica até aqui e é assim que tenho de manter. 

O que falhou no planeamento da época desportiva? O planeamento foi devidamente feito?

Hoje faríamos igual. Quando contratámos Jorge Jesus, neste caso, eu, o Rui Costa e, naquela altura, o Tiago Pinto, tínhamos uma equipa-sombra do Benfica graças a um departamento de scouting altamente profissionalizado. Quando o Jorge veio, falámos com ele. Tenho o documento que o Jorge me entregou com os jogadores que pretendia. Não houve um jogador [contratado] que o Jorge não dissesse que "sim". Aliás, vou falar-lhe de dois casos... Um que ele queria, que era o Cabrera. Nós entendemos que não o devíamos contratar. Estavam a pedir-nos 15 milhões de euros. O Espanhol devia-nos 15 milhões de euros e queria fazer encontro de contas. Outro dos jogadores era um defesa-central. Quando contratámos o Luca Waldschmidt ao Friburgo, a pedido de Jorge Jesus, havia também interesse no Robert Koch, que depois acabou por ir para Inglaterra [Leeds United]. O Rui Costa e o Tiago Pinto foram à Alemanha para contratar os dois jogadores, mas o Koch era impossível de contratar porque já tinham assumido a responsabilidade com outro clube. Depois surgiu o Everton. O Jorge disse-me que este era um atleta que tínhamos mesmo de contratar. Comprámos. Todos conhecem o Everton, é um jogador internacional. Depois surgiu o nome do Darwin, outro pedido de Jorge Jesus. O Rui Costa foi para Almería para contratar esse jogador, que curiosamente estava no scouting do Benfica. Na linha defensiva, Otamendi veio porque o Rúben Dias saiu. Vertonghen também foi contratado com o consentimento de Jorge Jesus. Não era bem o jogador que queria, mas nós não podíamos comprar o Cabrera, que era a primeira opção. Entendemos que teria de ser um jogador experiente e avançámos para o Vertonghen. O Gilberto foi um pedido do Jorge, contratámos o Gilberto. O Pedrinho é um jogador que não foi contratado quando o Jorge estava cá e que, na altura, quando estava no Brasil, se ele tivesse de escolher um jogador, se calhar escolhia outro. Curiosamente, passado algum tempo, chegou ao pé de mim e disse-me que se enganou. Disse-me que era um craque, mas que o tinha de preparar bem e que tinha um pé esquerdo diabólico.

À exceção de Gilberto e Pedrinho, falamos de internacionais com provas dadas. Todos eles corresponderam ao que eram os pedidos de Jorge Jesus?

Foi o plano possível de se realizar, com as exigências de Jorge Jesus. Ele teve voz ativa nas contratações. Foi tudo decidido entre mim, o Jorge Jesus, o Rui Costa e o Tiago Pinto. 

Dizem que não há total sintonia entre o Presidente do Benfica e Jorge Jesus, relativamente às contratações. Isto é verdade?

Isso vem daquele canal que se não fizer essa publicidade toda não tem audiências. Há uma total sintonia entre todos. Costumamos dizer que estamos todos agarrados. Volto a frisar que estou no Seixal diariamente. Estou lá desde manhã até à noite e, nos últimos tempos, até tenho dormido por lá. Há um total compromisso entre nós. Não há um benfiquista que, face ao plantel do Benfica, não criasse expectativas. Havia muita gente que dizia que o Benfica ia "passear" neste Campeonato. Muita gente, que agora critica, dizia isto. Normalmente temos a tendência para desvalorizar aquilo que temos. Dou-lhe exemplos. O Matic, quando veio para o Benfica, diziam que só tinha pernas grandes. Viu-se depois o que foi o Matic. Diziam que o Salvio, quando veio para o Benfica, não valia nada. "É um jogador que só mete a cabeça no chão e corre", diziam. E depois vimos o que foi o Salvio. O Enzo Pérez teve uma primeira passagem, foi emprestado, regressou e passou a jogar na posição de oito, graças ao Jorge Jesus, que o preparou, e todas as pessoas, hoje em dia, têm saudades do Enzo Pérez. Relativamente ao Di María, recordo-me de me perguntarem porque é que tínhamos contratado um "trinca-espinhas", que era habilidoso, mas nunca daria nada, nunca seria ninguém no futebol... Viu-se o que foi o Di María! Julgava que não ia ser ninguém no futebol e esteve à vista tudo aquilo que conseguiu e consegue. O David Luiz, quando foi lançado pelo Fernando Santos, teve azar em alguns golos, foi criticado e todos viram onde chegou o David Luiz. Se começarmos a apontar aos jogadores, temos de entender que, apesar daquilo que aconteceu dentro do nosso balneário, precisam de um período de adaptação. Se calhar foi um fator que não considerámos, um fator que devíamos ter ponderado. Este foi um dos erros, e nós temos a experiência daquilo que é a adaptação de um jogador brasileiro, por exemplo, ao nosso futebol. Não é pela falta de qualidade. Todos eles são internacionais.

Temos um departamento de scouting altamente profissional. O treinador está cá. Está lá o Rui Costa, que é, hoje, o responsável máximo. É administrador e diretor-geral. Depois estou eu. Todo o diálogo existe entre as pessoas. Já disse isto a ele, e volto a dizer aqui: o Rui Costa faz um trabalho extraordinário de dedicação, benfiquismo e, contrariamente ao que as pessoas às vezes dizem, ele não está remunerado. Trabalha no Benfica gratuitamente. Faz um trabalho fantástico. É Benfiquista, e às vezes até estranho quando dizem que não há mística, porque o Rui Costa e o Luisão estão sempre ao pé da equipa. Tudo o que está a ser feito, tudo o que já fizemos, se tivesse de ser repetido, tínhamos a certeza absoluta que faríamos tudo exatamente da mesma maneira. Se calhar, ouço só que devíamos ter sido mais teimosos no meio-campo. Não fomos, paciência, mas não vejo o que se poderá apontar mais. Agora, no fim, veio também o Lucas Veríssimo, que era um jogador que o Jorge Jesus queria. Só o conseguimos trazer agora, mas já começou a jogar e é outro atleta que é reconhecido e de categoria.

Acredita num final de época em crescendo? Que interpretação faz das palavras de Jorge Jesus relativamente à responsabilidade dos jogadores, da estrutura, do próprio Presidente?

Eu ouvi bem o que o Jorge Jesus disse, e ele disse que era responsável. O que o Jorge disse é que não pode ser responsável daquilo que sucedeu, se ele não tinha os jogadores para treinar. Pelo menos foi aquilo que eu percebi, não fugiu a nada… E o certo é que eu não preciso de estar a defender o Jorge, porque ele tem mais do que provas da sua qualidade como treinador… É um treinador ganhador, um excelente profissional, um homem que chega cedo e sai tarde. Posso dizer-lhe que a derrota com o Arsenal, a eliminação, está atravessada… Posso garantir que nessa noite ele não dormiu. Aquilo marcou-o tanto, da maneira como foi… Estávamos muito convencidos, todos nós e os jogadores, que íamos ultrapassar o Arsenal. Infelizmente não conseguimos. Não vamos falar de manifesta infelicidade, ou não, porque isso não se faz, mas tivemos um lance decisivo para nós, o do Darwin... Se ele faz o 3-1, acabava o jogo e pronto. Ficou completamente atravessado isso. Temos de acreditar no que temos em casa, porque são pessoas que no futebol já deram provas mais do que suficientes daquilo que são capazes de fazer.

Não teme que esses sucessivos insucessos possam criar um peso demasiado na equipa, que leve a um certo deslaçar e a um descomprometimento com os objetivos que traçou?

Não, os objetivos já estão bem definidos. Eles sabem, neste momento, quais são os nossos objetivos. Matematicamente podemos ser campeões, temos a obrigação de ganhar os jogos todos e depois vamos fazer contas no fim. A Taça de Portugal é objetivo e, se não formos campeões, o segundo lugar é superimportante para podermos ir à Liga dos Campeões… Todos eles estão conscientes disso.

[PERGUNTA/COMENTÁRIO DE TONI, Glória do Benfica]

Caro Presidente, hoje é dia de celebrarmos o 117.º aniversário do Sport Lisboa Benfica. Hoje é dia de lembrarmos todos aqueles que ao longo desta história centenária do Benfica ajudaram a construir um Clube mítico e universal. Hoje é dia também de lhe dizer que tudo aquilo que ao longo do seu mandato fez é uma obra que jamais será apagada da história do Benfica. Estamos num momento em que é preciso uma grande união no universo dos Benfiquistas… É tempo de definir uma política técnica para o Clube, de um projeto para o futebol para que possamos acabar com o ziguezaguear no que à Formação diz respeito. A Formação deve continuar a ser a grande bandeira e a grande aposta do Benfica, é na Formação que está o presente e o futuro do Benfica... Dizer-lhe também no que diz respeito às aquisições, que elas sejam feitas de uma forma mais rigorosa, que vão ao encontro à ideia de jogo do treinador e não que sejam contratações avulsas, que acabem por não ser rentabilizadas quer do ponto de vista desportivo, quer do ponto de vista financeiroAcredite que aquilo que mais amo é o Benfica e quero que o Benfica acabe sempre por ganhar.

O Toni é um grande Benfiquista, mas quero dizer-lhe que não há uma política de ziguezague. Se há alguém que quer apostar seriamente na Formação, sou eu. Mas curiosamente, quando apostámos seriamente na Formação, diziam que não podíamos ser campeões com miúdos, que o Vieira é que metia os jogadores em exposição, que o Vieira queria era vender por causa das comissões… Tivemos um treinador para fortalecer e consolidar uma política destas, os Benfiquistas sabem o que se passou e o que fizeram ao treinador [Bruno Lage]. Tenho de ter a sensibilidade daquilo que os Sócios querem e então, neste ano, fizemos uma mescla de experiência com mais juventude. Foi o que foi acordado entre todos nós, ou seja, não houve contratações por avulso. Foi o nosso departamento de scouting que visionou estes jogadores, têm os relatórios deles, o Jorge Jesus viu os jogadores e aceitou, ou seja, fomos todos em conjunto, o Jorge Jesus, o Rui Costa, o Tiago Pinto, que ainda estava cá, e eu, logicamente. Todos estes jogadores que foram contratados são internacionais, exceto o Gilberto.

O único Presidente, penso eu, na história do Benfica que pensou seriamente na Formação fui eu. Quero investir no Centro de Formação, por isso vai haver uma reunião no dia 1 de março [segunda-feira] para uma permuta do terreno que pretendemos para fazermos mais seis campos de futebol e fazer outra unidade hoteleira, ou seja, tudo o que assenta em base no projeto da Formação do Benfica permitiu ter robustez financeira e ser dos clubes da Europa mais rentáveis. Tinha um sonho e continuo a manter esse sonho, que é ter um Clube, sempre que seja possível, financeiramente estável e desportivamente ganhador. Isso é possível fazer-se, mas os Sócios do Benfica têm de assumir: se é para seguir esse caminho, nós vamos seguir esse caminho; se é para seguir outro, então definam-no. Não pode é ser: temos um treinador, o treinador está lá e passado um ano fez o trabalho que fez… O Rui Vitória fez o trabalho que fez em três anos e meio e lançou determinado tipo de jogadores. Veio Bruno Lage, a mesma coisa. E depois vêm dizer que isto só com miúdos não vai lá... Curiosamente aqueles que falam da Formação são os mesmos que diziam que não íamos lá com miúdos e que diziam que eu é que fazia a equipa, e eu é que vendia jogadores por causa das comissões. Se isto fosse meu, garanto que era no caminho da Formação que eu ia. Eu até a esta altura levei praticamente o Benfica unido, porque só todos juntos conseguimos lá chegar.

[PERGUNTA DE CARLOS MANUEL, Glória do Benfica]

Ainda há bem pouco tempo perguntaram-me se eu podia definir o Benfica numa palavra, e a minha resposta foi o Benfica é "Mística", porque, para mim, Mística é uma atitude coletiva afetivamente assente na devoção ao Clube. Depois da mudança do paradigma daquilo que era a aposta no Futebol Formação, que se veio a revelar com algum sucesso – tanto financeiro como desportivo –, o que é que o Sport Lisboa e Benfica irá fazer em relação à Formação?

Se fosse meu, o Benfica seguia o caminho do Seixal. Não tenho dúvidas nenhumas. Não abdicava disso. É o caminho certo. Mas, por aquilo que contei atrás, também sabes que é muito difícil presidir um clube como este. É muito difícil quando o Benfica perde... Não tomo decisões como adepto, tomo como Presidente do Benfica e de todos os Benfiquistas. E neste ano definimos um pouco de juventude com experiência. Foi o que pensámos e foi assim que foi aprovado. Não há uma decisão de um homem só. Eu sei ouvir e tomar as decisões enquadradas no espírito de todos nós. O Seixal é a menina dos meus olhos... Não escondo isto de ninguém. É ali que está o futuro do Benfica e é ali que devemos investir cada vez mais. Há jovens que, quando chegam à equipa principal do Benfica, já têm 15, 12, 11 anos de Clube. Conhecem a história toda do Benfica. É tudo mais fácil e, se calhar, correm mais do que os outros. Mas quando falas de Mística… Custa muito ouvir palavras de pessoas que já passaram por cá, e com alguma responsabilidade – sejam diretores desportivos, vice-presidentes, seja o que for –, dizer que o Benfica não tem Mística.

Em 2013 investi no Museu Benfica – Cosme Damião cerca de 11 milhões de euros. E só investi isso porque a história do Benfica não existia. Andou por baixo de bancadas arruinadas, taças que desapareceram, taças que foram leiloadas, outras que foram roubadas e nunca mais apareceram… Aproveito e peço, por favor, a quem tenha essas taças que as entregue dentro de uma caixa na Porta 18. Na minha presidência é que se está a recuperar todo o património histórico do Benfica. Quem tiver filhos, netos, pode ir visitar aquele Museu, que está lá toda a história do Benfica. Já recuperámos 30 mil taças e galhardetes do Benfica, que estavam destruídos. Lembro-me perfeitamente como foi encontrar o primeiro livro de quotas do Benfica. Estava destruído e hoje está lá [no Museu]. Os Benfiquistas deviam visitar aquele Museu, porque, ali, sim, está a Mística do Benfica. A Mística sente-se, está no coração. Mas não é só no Estádio, as pessoas que gostam do Benfica têm de viver o Clube a sério. Outro qualquer se calhar pegava nos 11 milhões e ia comprar um ou dois jogadores. A história do Benfica hoje existe, não se podem queixar de Mística. Desde o tempo do Sport Lisboa, os jornais estão todos digitalizados. A Fundação Benfica, só no ano passado, movimentou cerca de 25 500 crianças. Infelizmente, a única pessoa que dignificou o nome do Eusébio fui eu. A única pessoa que tem o cuidado e que se preocupa com os ex-jogadores do Benfica sou eu, e nunca faço publicidade. O que é isso? Faz hoje 10 anos prec



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