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TELMA MONTEIRO: "SOU COMPETITIVA E ESTOU SEMPRE INSATISFEITA"


 

A melhor portuguesa na história do judo, Telma Monteiro concedeu uma entrevista exclusiva ao jornal O Benfica, depois de se sagrar vice-campeã da Europa, no dia 19 de novembro, e conquistar a sua 14.ª medalha em Europeus em outras tantas participações.

No Benfica desde julho de 2007, Telma Monteiro, que compete na categoria de -57 kg, é a melhor judoca portuguesa de sempre. Aos 34 anos, a atleta do Benfica soma e segue em grandes palcos, e mostra que não só está, como veio para ficar.

Em entrevista ao jornal do Clube, a atual 11.ª classificada do ranking mundial comentou a última conquista na Europatraçou objetivos para o futuro, abordou o período de quarentena e enalteceu todo o apoio dado pelo Benfica em todas as fases da sua vida – e carreira.

A Telma publicou, no Instagram, uma foto com a seguinte legenda: "O melhor sentimento de todos é saber que nada foi por acaso." Trabalhou muito para este Campeonato da Europa?

A conquista da medalha de prata não foi uma coincidência, foi fruto de muito trabalho. Eu acredito sempre que posso trazer medalhas em grandes competições, e Tenho ficado em 5.º lugar, como, por exemplo, nos Grand Slams. Neste ano de 2020, fiquei em 5.º lugar em dois Grand Slams muito fortes, o que é um resultado muito bom, mas para quem não acompanha de forma tão específica, não ver uma medalha pode dar a sensação de que algo não está bem. Eu consigo sempre ver o que está a correr bem, tentar perceber aquilo que tenho de melhorar e estar entre as melhores do mundo. Foi nesse sentido que disse que "nada foi por acaso". Fui ao Campeonato da Europa com o objetivo de lutar pela medalha de ouro. Quem está de fora eventualmente não tinha essa perceção, mas eu tinha. Foi bom chegar ao dia e concretizar aquilo em que acreditava.

"QUANDO VIM PARA O BENFICA, TIVE UMA ESTABILIDADE MUITO GRANDE"

No combate na final, com a húngara Hedvig Karakas, perdeu após três penalizações. Ficou o sentimento de que poderia ter feito mais?

Fiz uma grande competição e ganhei a adversárias muito fortes de uma forma muito superior. Na final, senti que dominei o combate todo, que fui superior à minha oponente, mas ao fim de 8 minutos de luta, acabei por cometer dois erros e acabei por ser penalizada por isso. Até comecei na frente, com a vantagem de dois castigos, mas fiz o melhor que me pareceu na altura para vencer. Agora, claro que tenho consciência de que dominei o combate todo e o resultado podia ter sido outro, mas faz parte. Foi um grande dia e de certa forma acho que surpreendeu toda a gente. Não foi só por ter vencido, mas também pela forma como venci. Foi um desafio chegar ao meu 14.º Europeu e ganhar mais uma medalha. Já participei em sete finais, já fui cinco vezes campeã da Europa, e foi a 2.ª vez que fui vice-campeã da Europa. É sempre um desafio muito grande, são 16 anos nestes palcos, onde falhei apenas dois Europeus por lesão. É muito difícil chegar ao topo, mas é ainda mais difícil manter. É um desafio muito grande a nível psicológico, mas também a nível físico. Todos os dias, a exigência física que é necessária para conseguirmos estar a este nível é muito grande. O corpo tem desgaste, a mente também e acaba por ser sempre um desafio chegar a mais uma competição e fazer um resultado destes. Isso acrescenta mais mérito a este resultado, assim como às medalhas.

No último dia do Campeonato da Europa de Praga 2020, recebeu a bandeira do Europeu que em 2021 decorre em Portugal. Qual foi o sentimento?

Foi uma grande honra e um orgulho ter tido a tarefa de receber essa passagem de testemunho. A expectativa para a competição é grande e, até lá, espero estar bem e fazer uma boa preparação sem lesões. Nós somos sempre uma equipa com muita possibilidade de ganhar medalhas e se conseguirmos gerir bem a parte psicológica, acredito que pode ser um Europeu histórico. Temos de ver isso como um apoio e uma coisa positiva, e não como uma pressão. Pessoalmente, tenho o objetivo de conquistar mais uma medalha. Acho que isso só depende de fazer uma boa preparação e de gerir bem, psicologicamente, o contexto em que a competição se vai realizar.

E relativamente aos Jogos Olímpicos, vencer uma medalha está no horizonte?

Vou fazer 35 anos no próximo mês de dezembro e óbvio que é um desafio. Faltam, aproximadamente, 8 meses para a competição. Temos de pensar no trabalho e na intensidade para manter os níveis físicos e para pensarmos numa medalha. Não deixa de ser um grande desafio nesse aspeto, mas por outro lado, tento ver as coisas de outra maneira e pensar que são 8 meses em que tenho a oportunidade de melhorar. Tenho vindo a melhorar bastante desde 2019 e vou tentar melhorar ainda mais para me consolidar ainda mais física e tecnicamente. Quero chegar aos Jogos Olímpicos e alcançar o meu objetivo, sem lesões ou outras complicações. Nos Jogos Olímpicos, já estive no papel de medalhada, mas também no papel de não conseguir. Gostava de repetir a sensação de ser bem-sucedida.

"QUERO CHEGAR AOS JOGOS OLÍMPICOS E ALCANÇAR O MEU OBJETIVO"

Em fevereiro, participou no Grand Slam de Paris, onde terminou num honroso 5.º lugar. No mês seguinte, estávamos a viver a pandemia da COVID-19. Como reagiu a toda essa situação?

Por um lado, no contexto em que estávamos, não havia nada a fazer. Houve uma grande responsabilidade da parte do Clube, e um grande cuidado em enviar toda a gente para casa. Por outro lado, fiquei triste, porque estava num grande momento de forma. Não havia nada que pudéssemos fazer, então tentei, com a nossa equipa, focar-me naquilo que poderia fazer durante a quarentena para que, quando as competições regressassem, todos nós estivéssemos ao mais alto nível. Psicologicamente, acho que nós, atletas, fomos muito fortes, mesmo sem saber quando iríamos voltar a competir. Mantivemos um foco muito grande e uma disciplina enorme de treinos. Agora, estes resultados são uma recompensa por tudo aquilo que passámos. Estamos a colher os frutos desse trabalho, mas foi muito exigente no ponto de vista psicológico. Agora, percebemos que todo o esforço valeu a pena.

Sentiu o apoio do Benfica no período de quarentena?

O nosso treinador colocou-nos a todos numa casa, levámos material do ginásio para conseguirmos fazer a preparação física. Apesar de existirem limitações, fomos sempre mantendo contacto com o Clube. O Benfica nunca nos deixou sozinhos.

A nível de componente física, sente que existiram melhorias?

Senti que perdi coisas a nível técnico e tático. Fisicamente, sinto que fiquei mais forte. Treinava muito a parte física, ganhei mais massa muscular, e isso acabou por me beneficiar neste momento. Considero que tirei grande benefício em fazer os treinos na quarentena.

Em termos de massa associativa, continua a sentir muito apoio por parte dos benfiquistas e do público geral português?

Nas redes sociais, é incrível. Tenho a sorte de ter o apoio de todo o universo benfiquista através das redes sociais e depois de todas as outras pessoas que, não sendo benfiquistas, gostam de mim e me apoiam. Isso é muito bom e gratificante. Sou duplamente felizarda. Tenho o universo benfiquista, e depois tenho as outras pessoas que, não sendo adeptas do Benfica, são portuguesas e reconhecem que eu sou portuguesa e que represento Portugal. Inevitavelmente, sabem que o Benfica é o meu clube, que me apoia há muito tempo e me permitiu ser a atleta que sou hoje. Possibilitou que eu me dedicasse ao judo, que trouxesse estas alegrias para Portugal, e muito se deve ao apoio que o Benfica me deu. Nisso, as pessoas são imparciais.

Está no Benfica desde julho de 2007. Desde essa altura, considera que se tornou uma atleta com mais oportunidades e condições de evoluir?

O Benfica foi o salto na minha carreira. Cheguei ao Benfica já com algumas medalhas. Já treinava de forma profissional, mas precisava de ter a certeza de que me podia dedicar a 100% ao judo. Quando vim para o Benfica, tive uma estabilidade muito grande e fui acolhida por uma estrutura que me permitia dizer "eu sou atleta profissional e, a partir de agora, o único foco que eu tenho de ter é tirar os melhores resultados e ser a melhor atleta que conseguir". Isso deveu-se muito ao apoio do Benfica, ao projeto que, na altura, era pioneiro e inovador – o projeto do Benfica Olímpico – e tenho muito orgulho de ter sido uma das primeiras atletas desse projeto. Quando a professora Ana Oliveira e o doutor Fernando Tavares me trouxeram para o Benfica, no mandato do Presidente Luís Filipe Vieira, permitiram que, a partir daquele momento, eu continuasse a ser a atleta de alta competição e tentar ser uma das melhores do mundo. O Benfica deu-me uma estabilidade muito grande para ser a atleta que sou hoje.

Como descreve a sua relação com a professora Ana Oliveira?

Sempre me dei muito bem, foi uma das primeiras pessoas com quem tinha contacto mais direto quando cheguei ao Benfica. Era a pessoa que eu chateava para tudo. Eu tenho 34 anos, e a Ana Oliveira conhece-me desde os meus 21. Temos um contacto muito próximo.

"TENHO A SORTE DE TER O APOIO DE TODO O UNIVERSO BENFIQUISTA"

E que relação tem com o presidente Luís Filipe Vieira?

Tenho uma boa relação. É uma pessoa com quem eu me sinto à vontade para falar e, se tiver alguma coisa para comunicar, não tenho o mínimo problema, assim como com o vice-presidente Fernando Tavares, com o Sérgio Proença, com o Luís Filipe da comunicação, muita gente com quem eu tenho muita proximidade. Existe um ambiente muito familiar.

Para concluir, que objetivos é que tem em mente para cumprir num futuro próximo?

Enquanto competir, quero ser das melhores do mundo. Quero ganhar medalhas. Não tem nada que ver com estar em falta, mas, sim, quero ser das melhores. Não é ganhar para completar o que já tenho, mas para acrescentar. Sou competitiva e estou sempre insatisfeita. Se eu perder, quero saber porque perdi e o que posso fazer para, na próxima vez, ganhar. Sou muito exigente comigo mesma, e é impossível continuar na alta competição sem ser desse modo.

"Vivemos de forma muito intensa a conquista uns dos outros"

Um tema também abordado ao longo da entrevista foi a medalha de bronze conquistada por Rochele Nunes. Telma Monteiro confessou-se orgulhosa e feliz pela conquista.

"Fiquei muito contente, foi uma emoção muito grande porque, além de colegas de equipa, somos amigas e, por isso, vivemos de forma muito intensa a conquista uns dos outros e, nos momentos em que não estamos tão bem, apoiamo-nos bastante. Acompanhamos o dia a dia de treinos e, quando as coisas correm bem, ficamos todos muito felizes uns pelos outros, e sinceramente foi um momento muito feliz e de grande emoção. Tal como a Bárbara Timo, quando foi vice-campeã do mundo, foi uma emoção muito grande", destacou a melhor judoca portuguesa, concluindo: "Não é só o facto de sermos colegas de equipa e de vermos o trabalho e o esforço diário uns dos outros, mas também o de sermos amigos e pessoas com quem podemos contar sempre. Existe sempre uma grande expectativa de sermos todos bem-sucedidos, e quando isso acontece é uma alegria que é partilhada pelo grupo todo. Fiquei muito feliz com essa conquista, apesar de ela ter outras medalhas importantes, mas são em Grand Slams, e esta medalha de bronze no Campeonato da Europa, no fundo, não foi uma confirmação, mas, sim, uma consolidação daquilo que é o valor e o potencial dela."



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