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“O Senhor olhou com favor para Abel e sua oferta.”

Genesis 4:4 (Texto Hebraico)

וַהֲבֵ֥ל הֵבִ֖יא גַם־ה֛וּא מִבְּכֹרֹ֥ות צֹאנֹ֑ו וּמֵ֥חֶלְבֵּיהֶ֖ן וַֽיִּשַּׁעֵֽעַ׃

Transliteração:
V’havel hevi gam-hu mib’khorot tzono u-mechelbeihen vayisha’ea.

Gênesis 4:4 diz: “E Abel também trouxe uma oferta - porções de gordura de alguns dos primogênitos de seu rebanho. O Senhor olhou com favor para Abel e sua oferta.”

À primeira vista, esse versículo pode parecer um simples relato das ofertas feitas por dois irmãos. No entanto, quando examinado de perto, revela camadas de simbolismo e implicações espirituais.

A natureza das ofertas

A oferta de Abel, composta de “porções gordas de alguns dos primogênitos de seu rebanho”, ressalta sua intenção de dar o melhor do que tinha. A escolha de oferecer o primogênito e o melhor de seu rebanho sugere um ato de devoção e gratidão. Em contraste, a oferta de Caim, embora não explicitamente detalhada neste versículo, é geralmente entendida como sendo do produto da terra. A distinção em suas ofertas serve como uma metáfora para a qualidade das intenções de seus corações.

A aceitação da oferta de Abel

O versículo continua afirmando que “O Senhor olhou com favor para Abel e sua oferta”. Esse favor divino indica que a oferta de Abel não era apenas sobre o ato físico de apresentar presentes; era sobre a disposição de seu coração. A oferta de Abel foi acompanhada de sincera reverência e espírito de adoração, tornando-a aceitável aos olhos de Deus. Este tema ressoa em todas as tradições religiosas e espirituais – não é a aparência externa, mas a atitude interior que define o valor de uma oferenda.

Comentário Semântico

A oferta de Abel corresponde à sua vocação de pastor. Pode não ser coincidência que o segundo filho de Adão ofereça primícias (primogênitos dos animais), enquanto Caim, o filho mais velho, não oferece nem primícias nem primícias. Observe a associação do primogênito com primogênitos em Êxodo 22:28–29 [29–30]; 34:19–20. A lei insiste que todas as primícias devem ser oferecidas em sacrifício ou redimidas. Os primogênitos por direito pertencem a Deus. Portanto, o primogênito humano deve ser redimido. Israel como nação é descrito como o primogênito de Deus (Êxodo 13:2, 12–15; 4:22; M. Tsevat, TDOT 2:121–27). Em todos os sacrifícios de animais, a gordura era queimada, porque também pertencia ao SENHOR, sendo considerada a parte mais seleta do animal (Lv 3:16; Dt 32:38; Sl 147:14; G. Münderlein, TDOT 4:391 –97). As conotações muito positivas de “primícias” e “gordas” no AT apóiam a visão de Keil, Delitzsch, Cassuto, Speiser, Kidner e comentaristas rabínicos de que Abel ofereceu o melhor de seu rebanho ao SENHOR.

O verbo way·yi·ša‘  “prestou atenção”; cf. Akk šeû “olhar de perto,” Speiser; “procurar, reconhecer” (poético), AHW 1224–25; usado também em Êxodo 5:9; Salmos 119:117. Como Caim e Abel reconheceram a aprovação divina não está claro. Já em Teodocião (que traduz ἐπυaρισεν “ele queimou”), entendeu-se que o fogo divino queimou a oferta de Abel, mas não a de Caim (cf. Lv 9:24; Jz 6:21; 1 Rs 18:38). Essa explicação é tão boa quanto qualquer outra, mas o Gênesis está mais interessado no fato da aprovação divina do que em como ela foi mostrada.

Lições e Reflexões

1. O poder da intenção: A história da oferta de Abel nos lembra que a sinceridade e a pureza da intenção são muito importantes em nossas ações. É uma lição que vai além dos contextos religiosos e pode ser aplicada a todos os aspectos da vida. Quando nossas ações são motivadas por amor genuíno, gratidão e abnegação, elas carregam um significado e significado mais profundos.

2. Qualidade acima da quantidade: A oferta de Abel dos primogênitos e do melhor de seu rebanho demonstra o princípio de dar o nosso melhor às nossas atividades – um princípio que continua a ser relevante em nossas vidas modernas. Em um mundo muitas vezes movido pelo acúmulo material, esta lição nos encoraja a priorizar a qualidade em detrimento da quantidade, seja em nossos relacionamentos, trabalho ou práticas espirituais.

3. Reconhecimento Divino: O fato de Deus olhar com favor para a oferta de Abel reflete a ideia de que nossos esforços, quando alinhados com intenções puras, não passam despercebidos. Isso pode servir como fonte de inspiração e conforto, lembrando-nos que nossos esforços, mesmo que pareçam pequenos ou despercebidos pelos outros, têm valor aos olhos de um poder superior ou mesmo dentro de nós mesmos.

4. Fraternidade e ciúme: A história das ofertas de Abel e Caim também aborda os temas de rivalidade e ciúme entre irmãos. O ressentimento de Caim em relação à oferta favorita de Abel serve como um alerta sobre o potencial destrutivo da inveja e como ela pode levar a ações lamentáveis.

Em conclusão, Gênesis 4:4 captura um momento crucial na narrativa bíblica primitiva, enfatizando o significado das intenções, a qualidade das ofertas e o reconhecimento divino de ações sinceras. Além de seu contexto religioso, este versículo oferece percepções atemporais sobre o comportamento humano, a moralidade e a busca por uma vida significativa. Isso nos encoraja a refletir sobre os motivos por trás de nossas ações, reconhecer o valor da autenticidade e buscar um equilíbrio harmonioso entre nossas intenções internas e expressões externas.

Bibliografia
Wenham, Gordon J. Genesis 1–15. Word Biblical Commentary, Dallas, 1987. Sarna, Nahum M. The JPS Torah Commentary: Genesis. The Jewish Publication Society, Philadelphia, 1989. Waltke, Bruce K. Genesis: A Commentary. Zondervan, Grand Rapids, 2001. Hamilton, Victor P. The Book of Genesis, Chapters 1–17. Eerdmans, Grand Rapids, 1990. Cassuto, Umberto. A Commentary on the Book of Genesis. Magnes Press, Jerusalem, 1961. Kidner, Derek. Genesis. Tyndale House Publishers, Downers Grove, 1967. Westermann, Claus. Genesis: A Practical Commentary. T&T Clark, Edinburgh, 1987.


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