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Natividade no Evangelho Segundo Mateus – José um Modelo de Retidão (1.19)



Então José, seu marido, como era justo, e a não queria infamar, intentou

deixá-la secretamente.

Ἰωσὴφ δὲ ὁ ἀνὴρ αὐτῆς, δίκαιος ὢν καὶ μὴ θέλων αὐτὴν δειγματίσαι,

ἐβουλήθη λάθρᾳ ἀπολῦσαι αὐτήν.

O que é uma pessoa reta e/ou justa? Nestes tempos de um relativismo generalizado falar sobre tal assunto parece algo atemporal. José foi um homem que se revelou reto/justo em uma situação extremamente delicada de sua vida. Acabara de receber a notícia de que sua noiva[1] (Maria), a qual ainda não havia consumado o casamento, se encontrava grávida. Tal notícia abalaria qualquer homem. O que fazer? Os minutos da noite se tornam horas. De maneira alguma conseguia pegar no sono. Amava verdadeiramente Maria, sua noiva, e de forma alguma a colocaria em uma posição em que viesse a ser difamada. Mas por outro lado, como fica a sua própria posição? Como enfrentaria os olhares reprovadores de seus familiares e amigos (a está altura já convidados para a festa de casamento).

É preciso destacar aqui que entre o verso 1 e o verso 2 não há margem para se pensar que Maria ou seus familiares tenham de alguma forma tentado ocultar o fato incontestável. O narrador apenas afirma que José toma consciência ou toma conhecimento do que está acontecendo. Ou seja, Maria toma ciência de que esta grávida e o comunica a José, direta ou por intermédio de seus familiares.

Nos dias atuais o número absurdo de pré-adolescentes e jovens grávidas (fora do relacionamento de casamento) tornou o assunto banal - inclusive em alguns meios evangélicos – basta trocar a cor do vestido e pronto. Mas nos dias de José ainda era um tema delicado e explosivo. O texto deixa claro que a decisão de José nada tem leniente ou complacente com o pecado, mas de manter sua integridade sem destruir a vida da outra pessoa. Vamos ver se aprendemos algo com José sobre como ser uma pessoa integra, justa e reta, e ainda manifestar um amor genuíno pleno de graça.

Primeiramente é necessário entendermos o que significa justiça ou ser justo no sentido bíblico. A primeira reação de José diante da notícia abaladora é iniciar um processo de divórcio privado que era uma alternativa jurídica aceita, onde a parte ofendida entregava às autoridades uma carta em particular na presença de apenas duas testemunhas, e que não exigia os esclarecimentos quanto ao motivo, visto que o noivado implicava em documentos jurídicos firmados pelo noivo e a família da noiva. Pois, legalmente José e Maria estão “casados” e isto implicava em uma série de compromissos legais que agora terão que serem anulados.

No texto indicado (1.19) Mateus nos oferece dois fatores relevantes que nos ajudam a compreender a elaboração jurídica para preservar ao máximo a integridade de Maria. Podemos identificá-los em dois particípios que aparecem entre quando José é identificado como sendo marido de Maria e o verso final, que traz o verbo principal e nos comunica sua resolução.

O primeiro termo pode ser traduzido como “sendo justo[2] [δίκαιος ὢν] e “não querendo difamá-la” [αὐτὴν δειγματίσαι], muitos tradutores consideram ambos os particípios como causais, ou seja, José age porque é justo e por esta razão toma a decisão de que não deve denunciar Maria como sendo uma mulher imoral. Assim, José agiu como agiu porque era justo e não queria expor publicamente Maria denunciando-a como uma mulher adultera/imoral.

Outros leem, entre os quais me incluo, que se trata de duas cláusulas, contrastantes: que José era um homem justo, mas ainda assim estava preocupado com a reputação de sua esposa. Veremos que esta leitura está em perfeita harmonia com as atitudes de Jesus.

Lembrando que de acordo com a lei romana e a tradição judaica vigentes, exigia-se uma denúncia pública da infidelidade para que a parte inocente fosse preservada. Portanto, se José estivesse preocupado apenas em manter sua dignidade intocada, a teria denunciado de imediato ao tribunal. Mas, como a ofensa era contra si mesmo, ele tinha o direito de ignorar se quisesse.

Mas somente podemos compreender ou conciliar a decisão de José e a natureza da sua retidão, se compreendermos corretamente o conceito de retidão do Antigo Testamento. Vimos que a decisão de José vai na contramão dos tribunais romanos e judaicos, porque não deseja expor ainda mais Maria. De modo que, fazendo um trocadilho, não querendo sermos injusto para com a decisão de José (omisso, conivente), precisamos entender o conceito de justo/reto no seu aspecto mais amplo nas Escrituras.  

Na medida em que vamos lendo toda a narrativa de Mateus vai se tornando mais claro que Jesus está a trabalhar o conceito de justo/reto e que vai conduzindo seus discípulos a uma compreensão correta dos termos referidos à luz do contexto mais amplo das Escrituras. Nesta narrativa mateana descobrimos que Jesus amalgama a misericórdia e a compaixão ao conceito de retidão, não apenas como adereços, mas como marcas cruciais, que caracterizam as ações do Deus justo nas páginas veterotestamentária.

Desta maneira fica mais claro a razão pela qual Jesus exorta seus discípulos de que a justiça/retidão deles deve exceder em muito a dos escribas e fariseus (5.20), não em quantidade, mas em qualidade - e que José manifesta aqui em grau, gênero e número.  

Para Jesus essa retidão/justiça deve ser manifestada na forma como se trata o menor ou mais simples dentre os irmãos (25.34-40). O que o Senhor está enfatizando é o tema de Oséias 6.6 onde o profeta declara que Deus dá sempre preferência à misericórdia ao sacrifício ritualístico mecanizado (Mt. 9.13; 12.7), e demonstra isso no transcorrer do seu ministério interagindo com cobradores de impostos e pecadores. A lição de Jesus alcança seu apogeu na cruz. O seu sacrifício é a mais extraordinária demonstração de justiça misericordiosa a nós pecadores, em vez de nos abandonar à própria destruição, recebe sobre si todas as nossas transgressões da Lei – o Justo, pelos injustos (1Pe 3.18).

Desta forma, quando chegamos à conclusão da narrativa de Mateus, entendemos que a decisão e atitude de José, ainda que contrariasse o pensamento vigente das autoridades romanas e judaicas estava em perfeita sintonia com o ensino e a vivência de Jesus Cristo. Quando José não olha para si mesmo (ego ferido), mas se coloca no lugar de Maria, que certamente seria moída por toda sorte de críticos de plantão, ele se assemelha ao padrão de justiça de Jesus!

Lembrando que José não poderia jamais ser acusado de injusto se mantivesse seus direitos maritais, que aparentemente (ele não sabe, mas nós sabemos) haviam sido violados, todavia, seria uma justiça sem misericórdia e uma justiça que seguiria o senso comum (fariseus e demais religiosos). Jesus espera sempre de seus discípulos o mesmo comportamento de José em relação aos outros.

E um detalhe que abrilhanta ainda mais a atitude de José. Quando ele toma a decisão de não reivindicar seus direitos e humilhar Maria, ele não tinha conhecimento algum do que o Espírito Santo estava realizando através dela – gerando através dela o Salvador. De maneira que, sua justiça bondosa fica ainda mais evidente. Jesus passara três anos conduzindo seus discípulos a este senso de justiça/bondosa prenha de graça. Cada relacionamento e ensino dele vivencia esta verdade eterna manifestada no relacionamento de Deus com seu povo e dele com seus discípulos.

Vale a pena replicar aqui as palavras sábias de Richard Tamburro, mostrando que a compaixão de José revela que ele é um homem com um coração como o de Deus, e que certamente esta foi uma das características do seu caráter pelo qual Deus o escolheu para ser um pai terreno para Jesus. De fato, a capacidade de José de temperar a justiça com compaixão é verdadeiramente uma característica de Deus. Portanto, Jesus cresceu respirando esta atmosfera de uma retidão piedosa.

Nos dias de hoje, quando o grito generalizado é pelos meus (nossos) direitos, aqui está um bom tema para pensarmos neste período de natividade, onde relembramos o nascimento de Jesus e por conseguinte seu Evangelho.

A partir do exemplo de José precisamos nos perguntar e avaliar: que tipo de retidão/bondade estamos manifestando e/ou temos manifestado para com as outras pessoas que se relacionam conosco?

Utilização livre desde que citando a fonte
Guedes, Ivan Pereira
Mestre em Ciências da Religião.
Outro Blog 
http://historiologiaprotestante.blogspot.com.br/

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Referências Bibliográficas

BROADUS, John A. El Evangelio Segun Mateo. Traducción por Sarah A. Hale. Casa Bautista de Publicações. [Comentario Expositivo sobre el Nuevo Testamento, Tomo 1].

DURVALL, J. Scott & VERBRUGGE, Verlyn D. (Editors). Devotions on the Greek New Testament. Zondervan, Grand Rapids, Michigan: 2012. [Roy E. Ciampa - Learning from Joseph’s Righ teous ness].

HENDRIKSEN, William. Comentário do Novo Testamento – Mateus, v.1. RIENECKER, Fritz. Evangelho de Mateus – comentário esperança. Tradução Werner Fuchs. Curitiba-PR: Editora Evangélica Esperança, 1998. Tradução de Valter Graciano Martins. São Paulo: Editora Cultura Cristã, 2001. 


[1] "desposada" - ou solenemente/legalmente comprometida em casamento – com José. Esta cerimónia ou acordo pré-nupcial entre os judeus não deve ser não deve ser confundida com o noivado moderno.  Os noivos prometiam a sua fidelidade um ao outro na presença de testemunhas. Num sentido restrito, tratava-se essencialmente de um casamento.

[2] Dikaios (um home justo), não bom ou misericordioso ou sem pecado. Uma pessoa correta e zelosa pelos tramites da lei. O mesmo adjetivo é usado de Zacarias e Isabel (Lc 1.6) e Simeão (Lc 2.25). "Um homem íntegro", que tinha a consciência judaica para a observância da lei. No AT Noé e Jó foram chamados de justos no mesmo sentido (Gn 6.9 e Jó 1.1).



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