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Absalão e as Intrigas Palacianas no Reinado de Davi [Livro de Reis]

A leitura das narrativas históricas bíblicas pode ser tudo, menos monótona, nelas você encontra: amizade, lealdade, poder, traição, classe, ciúme, todas essas coisas sobre as quais tantos best sellers tratam. Todavia, uma das coisas mais extraordinárias das histórias bíblicas é que seus personagens não são fictícios, mas pessoas de carne e osso, pessoas que acertam e erram, de bom caráter e de caráter extremamente ruim. Absalão é uma das figuras mais intrigantes da narrativa veterotestamentária.

Não havia, porém, em todo o Israel homem tão belo e tão aprazível como Absalão;

desde a planta do pé até à cabeça não havia nele defeito algum 2Samuel 14.25.

Eles pegaram o corpo de Absalão e o atiraram numa cova;

sobre ela colocaram um monte de pedras 2Samuel 18.17.

Os dois textos destacados acima expressam toda contradição que envolve a vida deste homem. A narrativa envolvendo a vida dele (2 Samuel 15-18) revelam os bastidores palaciano do rei Davi. Um filho que recebeu todos os favores do pai, mas que por razões injustificáveis provoca uma das maiores rebeliões internas do reino de Israel. O contexto literário mais amplo (captos. 11-20) contém os ingredientes mais sórdidos registrados em toda as Escrituras.

Davi desde muito jovem esteve envolvido em questões complicadas, por muito tempo teve que viver como foragido, pois o rei Saul queria sua morte. Mas com certeza esse é o período mais conturbado de toda sua vida.

Absalão era o terceiro filho de Davi e certamente o mais popular entre a o povo.  Sua mãe também tinha descendência real – filha do rei Talmai de Gesur,[1] da região dos arameus, localizada ao norte de Israel, no lado oriental do chamado mar da Galileia[2]. Esse casamento de Davi, como tantos outros casamentos reais (Salomão que o diga), era uma fórmula de tratados internacionais entre respectivos governos.

Absalão é um típico exemplo daqueles que começam de forma excelente, mas acaba se perdendo e termina a vida de forma trágica. Como explicar isso?

Absalão é um personagem multifacetado: calculista e estrategista político, mas como todos possuía seu calcanhar de Aquiles. É tomado por forte indignação com o estupro violento de sua irmã Tamar, e a falta de atitude de seu pai: Davi que se recusa a disciplinar o agressor, Amnom (irmão mais velho de Absalão) e vai utilizar esta situação para produzir um dos maiores abalos sísmicos no reinado de Davi.

          Ainda que não justifique, os comportamentos anteriores de Seu Pai Davi explica muito as atitudes de Absalão. Há uma sequência calamitosa narrada no livro segundo Samuel (11-13).

Começa com o rei Davi se envolvendo com uma mulher casada e a engravidando e para piorar, tentando encobrir seus pecados acrescenta mais pecado ao tramar a morte de Urias, marido de Bate-Seba, colocando-o à frente da batalha para ser morto.

Mas Deus não passa a mão nem na cabeça daquele que é segundo Seu coração. O velho profeta Natã entra em cena e confronta o rei com seu pecado escandaloso. É mais ainda, anuncia que o “mal” brotara no próprio seio familiar de Davi.

Seguindo a narrativa de Samuel (2Sm 13), entra em cena Amnon, filho de Davi com a jezreelita chamada Ainoã (2Sm 3.2; 1Cr 3.1), em meio aos seus múltiplos casamentos (abertamente contrário aos princípios da Torah).

Amnon desenvolve uma paixão por sua meia-irmã (cujo irmão é Absalão), e o desfecho é terrível, pois ele acaba por violentar a jovem. As consequências deste ato condenável irão muito além da vingança pessoal por parte de Absalão, como fica evidente em suas palavras, comportamento e a ambiguidade na medida em que a história prossegue.

A vingança inicia-se com o dissimulado convite de Absalão ao seu irmão Amnon para um festival de tosquia de ovelhas, onde ele mata o irmão. Sabendo das consequências ele foge para casa de seu avô materno em Geshur, antigo desafeto de seu pai.

Davi decreta o exilio do filho, que fica proibido de retornar à Jerusalém. Mas uma trama sórdida elaborada por Joabe, um dos generais de Davi, consegue reverter o exilio de Absalão de maneira que ele pode retornar a capital do reino. Evidente que a reconciliação é fria e cautelosa por parte de Absalão, ainda que carregada de forte emoção por parte de Davi.

          As ações de Absalão são dissimuladas e carregadas de rancor e desejo de poder2Sm15-16. Nestes dois capítulos tomamos conhecimento das conspirações que impregnam o ar da cidade de Jerusalém. Nas sombras Absalão vai disseminando dúvidas sobre as condições de saúde do já envelhecido rei Davi e simultaneamente se colocando como a melhor opção de sucessão ao trono. Incendiado os corações das pessoas fica fácil para os apoiadores de plantão de Absalão o proclamarem rei.

          A eclosão desta revolta força Davi e seus aliados fieis a fazerem uma fuga estratégica na calada da noite. Ainda em fuga Davi é informado que um de seus velhos conselheiros, Aitofel, estava orientando o jovem Absalão. Mas Davi age rapidamente e introduz Hushai, o Arquita para neutralizar a influência de Aitofel no conselho dos sábios do jovem rei.

          Caminhamos rapidamente para o desfecho da rebelião de Absalão e seu trágico fim 2Sm 17-18. A estratégia de Davi em introduzir Hushai como uma espécie de conta-conspirador vai demonstrar ter sido correta e oportuna. Mas há um detalhe preponderante na reviravolta que ocorrera na trama. "Então Absalão e todos os homens de Israel disseram: 'O conselho de Hushai, o Arquita, é melhor do que o conselho de Aitofel'. Porque o SENHOR havia ordenado derrotar o bom conselho de Aitofel, para que o SENHOR trouxesse o mal sobre Absalão" (2Sm 17.14).

          Aqui temos o que é denominada de causalidade dupla, onde Deus age explicitamente em questões políticas. Aqui inicia-se a contra revolta que vai restituir o trono ao legitimo rei Davi. Os dois pivôs de toda esta rebelião morrem de forma similar: Aitofel se enforca antes do início da batalha que demarcara a reviravolta e Absalão, em fuga, será encontrado por soldados enroscado pelos cabelos nos ramos de uma grande árvore, sem poder livrar-se dela. Ali foi morto e jogado em uma cova comum, encoberto totalmente por pedras.

          Davi, o rei poeta de Israel, ao tomar conhecimento da morte de seu filho Absalão tem uma memorável e assombrosa reação, tomado por lágrimas amargas: "O rei entendeu as palavras do mensageiro e desandou a chorar. Saindo das portas da cidade, foi para o seu quarto chorando e clamando: "Meu filho Absalão, meu filho, meu filho Absalão! Se fosse possível eu daria a minha vida pela sua! Ah, Absalão, meu filho! Meu querido filho!" 2 Samuel 18.33.

          Aqui encontramos um espelho do comportamento humano de forma geral. Davi e suas relações familiares servem de alerta para todas as famílias. Somos responsabilizados pelas nossas escolhas e deliberações, bem como seus consequentes resultados. Mas para que não entremos em desespero, Deus em sua providência age em momentos chaves para que as nossas vidas não sejam despedaçadas, nos fornecendo um raio de esperança em vez de desespero final.

Utilização livre desde que citando a fonte
Guedes, Ivan Pereira
Mestre em Ciências da Religião.
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Historiologia Protestante
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[1] Ele havia sido um dos inimigos de Davi, mas acabou por se render ao rei israelita.

[2] Na verdade, trata-se de um imenso lago e uma das maiores fontes de peixes e renda da região. 




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