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Deuteronômio Capítulo 1 – Relembrando as Ações de Deus

 


É uma das grandes ironias das Escrituras que a geração que viu as obras de Deus mais vividamente se tornou o epítome daqueles que se recusam a acreditar nele.

Contexto do  Capítulo

Os israelitas por não terem fé para tomar posse da terra que Deus os faz peregrinar no deserto por 40 longos anos, até que toda aquela geração de desobedientes morressem, restando apenas Josué e Calebe. Deus não fica refém da nossa incredulidade para concretizar seus propósitos eternos.

A narrativa começa com os israelitas na fronteira de Canaã e termina com a nova geração pronta para adentrar à Terra Prometida. Quando uma geração falha, Deus levanta outra geração que é fiel e a História da Igreja comprova esta tese a cada século.

O Livro abre com uma ordem de Deus para se fazer um censo militar contando com todos os homens de vinte anos ou mais. O total chegou a 603.550. Os levitas foram cuidadosamente isentos desta numeração (já estavam inseridos no censo anterior dos levitas) devido à especialidade de seus serviços no Tabernáculo, o que será tratado no transcorrer do livro,

Aqui, então, temos o primeiro movimento em preparação para a vinda do povo para a terra que Deus lhes deu. Como sabemos, a nação foi criada para realizar um propósito divino maior. Nós somos inseridos na Igreja de Cristo para realizarmos um propósito e não tão somente usufruirmos das bênçãos.

Esse propósito foi, em primeiro lugar, punitivo, o juízo de Deus sobre os povos canaanitas. Eles devem estar preparados para a guerra, que foi a razão para se fazer o censo dos homens habilitados para a batalha.

O titulo em português que vem da Septuaginta significa repetição, ou cópia, da lei(a partir de duas palavras gregas, deuteros, que significa 'segundo', e nomos, que significa 'lei').  e vem da transliteração de 17.18, que na verdade diz: “uma cópia desta lei”. Esse título pode induzir a um equivoco do seu conteúdo, pois, Deuteronômio não é uma mera repetição da Lei, mas uma revisão, expansão e reiteração da Lei que fora dada no sopé do Monte Sinai. Em Hebraico é Dvarim (דברים),  extraída da primeira frase do primeiro verso “Eleh ha-devarim, “Estas são as palavras que Moisés falou a todo Israel além do Jordão” (Dt 1.1). 

A necessidade primária para que Moisés empreendesse tão árdua tarefa, lembrando que ele está com mais de 120 anos, é que a primeira geração israelita, por causa da incredulidade, pereceu no Deserto e agora uma nova geração está assumindo o manto. Para que sejam bem sucedidos e não falhem onde seus pais falharam, o velho e cansado Moisés vai trazer à memória deles os pontos fundamentais da Lei e da história deles.

Todos nós esquecemos às vezes e em decorrência disso somos impedidos de seguir em frente. Para chegar onde precisamos ir, precisamos lembrar onde estivemos. Está é razão pela qual os israelitas precisavam deste livro de

Deuteronômio para se lembrarem de suas origens e prepararem-se para o futuro. Esta nova geração israelita estavam prestes a entrar na Terra prometida. Mas antes que eles pudessem seguir em frente, eles precisavam recordar e gravar em suas mentes e corações a preciosa herança que Deus lhes havia dado. Rememorando sobre a Fidelidade de Deus, eles fundamentariam sua fé para transporem os enormes obstáculos que teriam pela frente. Esta é a razão pela qual Josué lança o desafio ao povo quando assume a liderança: Escolhei hoje a quem vocês vão servir, porém, eu e minha casa serviremos a Yavhew.

Síntese do Livro

A palavra Deuteronômio significa "Segunda lei", mas não é uma mera repetição e sim uma síntese dos registros anteriores [Êxodo, Levítico e Número]. Estas são as palavras de despedida do grande líder Moisés e que melhor maneira do que trazer à memória da nova geração israelita os pontos centrais de sua História. A maioria das pessoas que se rebelaram contra Deus tinha morrido, pois Ele tinha declarado que nenhum dos que se rebelaram entrariam na terra prometida (Nm 14.20-25). Agora uma nova geração estava prestes a entrar na terra prometida e Moisés quer que eles se lembrem de todas as coisas que Deus havia estabelecido nos termos da Aliança. O interessante é que, enquanto Moisés fala sobre todos os acontecimentos do passado, ele diz "vocês fizeram isso", mas havia sido os pais deles que fizeram todas essas coisas. Esta identificação direta com a geração passada tem como propósito alerta-los para não cometerem os mesmos erros que seus pais cometeram, e a razão pela qual pereceram no deserto.  O Deuteronômio termina com a morte de Moisés e o cenário está pronto para os israelitas entrarem na terra prometida conforme narrada no próximo livro, Josué.

O livro pode ser dividido em duas partes. Na primeira divisão (1-30) há três discursos de Moisés dirigidos ao povo, com introdução (1.1-4) e um breve apêndice histórico no final do primeiro discurso (4.41-43). A segunda parte (31 a 34) registra os eventos que se seguiram até o momento que antecede a sucessão de Moisés por Josué e a entrada na terra de Canaã.

Os últimos 4 capítulos marcam o fim da vida de Moisés. Ele encerra do modo que começou, no monte falando com Deus.

Um fator preponderante para nos motivar a estudarmos o livro de Deuteronômio é para que possamos compreender melhor o conceito de Aliança, pois ela é o pano de fundo e o fundamento dos Evangelhos e do Segundo Testamento como um todo.

 O conceito de Aliança carrega em si o fato de que pertencer ao povo de Deus implica em direta e continua luta contra o mundo e nesta batalha, como todas, há suor, lágrimas e sangue. Com muita facilidade colocamos Deus em uma camisa de força em que Ele somente pode agir com amor e graça, esquecendo-se de que Ele é soberano, santo e justo. O risco disso pode ser sintetizado nas palavras de H. Richard Niebuhr sobre o cristianismo [americano] nos anos sessenta em diante: “Um Deus sem ira trouxe homens sem pecado para um reino sem julgamento através do ministério de um Cristo sem cruz”. [The Kingdom of God in America. New York: 1937, p. 193].

Deuteronômio contém as últimas palavras e ações do grande líder Moisés, o que em si já se reveste de um carinho especial para os israelitas/judeus de todos os tempos. É também uma síntese dos livros de Êxodo, Levítico e Números. Nele encontra-se o “Shema” [שמע ישראל; "Ouça Israel") que se constitui na profissão de fé central do monoteísmo judaico (6.4-9).

Introdução Histórica (1.1-4.43)

O livro abre com Moisés relembrando tudo o que Yavhew havia feito pelo seu povo. Lembra-os dos atos poderosos e graciosos Dele e os chama a uma resposta adequada de lealdade aos termos da Aliança que fora estabelecida pelo próprio Deus (cf. Nm 10.11-42), como tão bem expõe Peter C. Craigie: “A renovação da aliança foi feita, não porque Deus tivesse mudado, mas porque cada geração tinha que se entregar regularmente em amor e obediência ao Senhor da aliança.... A tendência para olhar à aliança como um contrato legal automaticamente vinculando o homem a Deus tinha de ser rejeitada; pois a natureza da aliança é de uma expressão de relacionamento vivo, que exigia da parte deles uma entrega amável a Deus ao invés de uma aceitação legalista" [destaque meu] The book of deuteronomy. Grand Rapids, MI: Eerdmans,1981(1976), p.36-37.

Do Sinai a Cades-Barnéia (1.1-46)

Eles haviam levado apenas onze dias de viagem do Monte Sinai até Cades-Barnéia [Este é um grande oásis na fronteira de Edom, com quatro nascentes naturais. - cf. Nm 20.16], e quase o mesmo tempo de viagem de Cades-Barnéia até as planícies de Moabe onde agora estão acampados, todavia já se havia passado quarenta anos... Moisés inicia suas palavras trazendo à memória deles de que a presença deles ali e a posse da terra de Canaã somente tornar-se-a possível por causa da graça de Deus, não por causa de qualquer virtude neles (versos 1-8).

Foi unicamente por causa da misericórdia de Deus que eles se tornaram um povo forte e puderam usufruir das bênçãos de um governo justo, imparcial e humanitário (versos 9-18). E Deus continuaria dando novas provas de sua bondade infalível quando entrassem e vissem a terra rica que lhes estava sendo entregue. Deus havia cuidado deles [geração passada] durante toda a longa e cansada viagem do Monte Sinai (Horebe - Monte de Deus – onde Moises recebeu as tábuas da Lei), "carregando-os como um pai carrega seu filho pequeno que se tornou muito cansado para andar”. No entanto, eles murmuraram/rebelaram contra Deus e se recusaram obstinadamente a tomarem posse de Canaã, mesmo com todas as garantias da presença de Deus com eles (versos 19-33).

A teimosia obstinada daquela geração tinha sido a razão pela qual eles pereceram no deserto e não entraram em Canaã. Também foi a razão pela qual o próprio Moisés perdeu esse privilégio, pois em um momento de indignação com eles desobedeceu a uma ordem expressa de Deus e por essa razão Deus tirou o privilégio dele em liderar a conquista de Canaã, que foi transferida para Josué (versos 34-40; cf. Números 20.2-13).

Em sua ignorância e rebeldia eles tentaram conquistar Canaã sem Deus, mas fracassaram vergonhosamente e por está razão foram obrigados a retornarem para o deserto e ali viverem por quarenta anos, até que o último homem daquela geração morresse, com as exceções de Josué e Calebe, os únicos de toda aquela geração que creram e obedeceram a Deus (versos 41-46).

Aprendendo a Lição

            A Bíblia não é um livro de “historinhas”, mas a Palavra de Deus que deve ser entendida e vivenciada em nosso cotidiano.

a) Quando Deus fala por meio de Sua Palavra nós devemos ouvir atentamente e nos dispormos a obedece-la, mesmo quando isso contraria nossa vontade ou nossos planos;

b) Toda rebelião contra a vontade de Deus nos priva de suas bênçãos;

c) Tomaremos posse da nossa Canaã celestial unicamente por causa da graça e misericórdia de Deus e não por qualquer obra meritória nossa;

d) Precisamos abandonar a fé religiosa e exercermos a fé genuína que implica em negarmos a nós mesmos (não a minha, mas a tua vontade ó Pai), tomarmos a cruz (ensanguentada) e sairmos da nossa zona de conforto (religiosidade) e seguirmos a Cristo “eis me aqui, usa-me a mim”;

e) Devemos sempre vigiar para que à semelhança daquela geração israelita, que não valorizou as promessas de Deus (como Esaú que não valorizou sua primogenitura), posteriormente venhamos a chorar amargamente.

f) Devemos viver nesse mundo tenebroso e enfrentar todas as adversidades que surgem unicamente pela fé no Deus de nossa Salvação.

Utilização livre desde que citando a fonte
Guedes, Ivan Pereira.
Mestre em Ciências da Religião.
Universidade Presbiteriana Mackenzie
Outro Blog
Historiologia Protestante
http://historiologiaprotestante.blogspot.com.br

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Referências Bibliográficas
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