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Viver longe de casa



Viver longe de casa é nunca estar cem por cento contente. É buscar plenitude, mas nunca estar completo. É procurar uma imensidão de coisas e às vezes se pegar sentindo falta de apenas uma, justo aquela que ficou para trás. É querer estar em dez lugares ao mesmo tempo e sofrer ao se dar conta que isso pode fazer você não estar de verdade em nenhum deles. 

É bater um papo no bar sem deixar de espiar, pelo canto do olho, o whatsapp. É ter uma lista de pessoas para stalkear no Facebook para não perder o crescimento dos afilhados, os preparativos do casamento da amiga, a viagem bacana da família. É ter instalado no celular todos os aplicativos de mensagens instantâneas e chamadas de vídeo e voz da Play Store. 

Viver longe das pessoas que você ama é se dividir entre vários. É ser a aluna aplicada sem deixar de ser a boa filha que sente saudades de casa. É sair para a balada com os novos amigos e gravar vídeos e áudios para enviar para os antigos. É se contentar com o Skype enquanto deseja mais do que tudo um toque, um abraço, um beijo. 

É bem mais que conhecer novos lugares, aprender a se virar sozinha, tornar-se independente. Viver longe de casa é aprender a estar consigo mesma, a ser a sua única real companhia mesmo que esteja cercada de pessoas incríveis --porque, no fim, só você se conhece de verdade.

É tentar não sentir culpa quando, no meio de uma noite ruim, perceber que está sozinha porque você escolheu isso. Ninguém te obrigou a pegar aquele avião. Ninguém te obrigou a ir embora. Mas você foi. Lide com isso. 

É não se culpar também ao se dar conta de que vai perder um monte de acontecimentos importantes. E não estou falando de eleições, de Olimpíadas e nem da Libertadores (embora doa perder a Libertadores também). Tô falando do nascimento do sobrinho, da primeira palavra do afilhado, da amiga no altar, e até mesmo da rotineira e semanal mesa de bar --e também do Carnaval, confesso.

É viver uma relação de amor e ódio com o tempo. É desejar que ele passe voando em alguns dias e pedir que ele passe devagar em outros. É, algumas vezes, ver a data da passagem de volta muito longe e, em outras, perceber que parece que foi ontem que você desembarcou. 

Viver longe de casa é, em meio a dias ruins que te fazem escrever textos como esse, lutar contra si mesmo e se lembrar do outro lado: do que te levou até ali. E fazer com que isso te motive, te impulsione a dar o seu melhor para fazer tudo, incluindo a saudade que vem no pacote, valer a pena.

É respirar fundo, engolir o choro e pensar que morar em outro país também é um presente. Que as pessoas que estão por perto agora, que te querem bem e cuidam de você, também se tornarão saudade quando você voltar para casa. Que as novas e belas paisagens vão se tornar só fotografias. E que você precisa aproveitar enquanto é tempo.

Agora é tempo. Mas é que hoje... Hoje eu estou aproveitando a saudade.


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