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Quando aprendi uma lição visitando um sebo

Entro num Sebo. Daqueles bem raiz, com Livros e Revistas velhos. Cheio de poeira. Uma mulher de 20 e poucos anos caminha em direção à porta e me dá as boas vindas. No fundo, noutro ambiente, onde parecer ser o caixa/administração (há computador, mesa, cadeira etc.), um homem.

Segue-se um diálogo sobre o que estou procurando, onde está cada seção etc.

— A parte de esportes é quase toda de revistas. Fica no andar de cima.

Apesar de ter muita coisa muito velha, tem uns itens interessantes. Já na vitrine, vi um livro sobre boxe. Pergunto o preço e separo para um amigo.

“Há também essa revista”, diz ela, mostrando uma El Gráfico pendurada por um fio na vitrine. Na capa, um boxeador. Vejo o preço e penso: “de repente, levo também para ele”, pensando no amigo neoentusiasta da nobre arte.

Nota mental enquanto olho as estantes: “Um sebo desses, pequeno e só com velharias, aberto num sábado à tarde. Como é que se ganha o suficiente para ainda pagar uma vendedora? Daria facilmente para uma pessoa sozinha tomar conta do lugar. Vai ver, é filha ou parente do dono.”

Fuço a seção de ficção argentina. Acho um livro pequeno que me interessa. Separo. Enquanto olho a parte de história argentina, luzes se apagam e acendem. O homem no cômodo ao lado está mexendo na parte elétrica e faz testes. A mulher informa que luzes se acendem e apagam à medida que ele mexe (suponho que no quadro geral).

Pergunto se posso subir para olhar a parte de esportes. Ela responde que sim e explica onde está a seção. Escada em caracol apertadíssima. Para piorar, no canto de cada estreito degrau há uma pilha de livros ou revistas. “Cuidado com a cabeça”, diz o homem quando começo a subir. No caminho, vejo uma revista sobre boxe (e não uma revista geral de esportes com um boxeador na capa, caso da El Gráfico).

Olho a seção, olho outras. Poeira à beça. “Vai atacar minha rinite”, temo. É difícil circular. Mal tenho onde por o pé. Livros e revistas por toda parte e um cavalete com um quadro de Marilyn Monroe atravancando a passagem. A cada encostada involuntária numa pilha de livros, estante ou corrimão, a calça e a camisa se enchem de poeira.

Na descida, paro e começo a olhar as revistas sobre boxe. Reparo a mesa e vejo que há fios, alicates e fita isolante, além de outras ferramentas instrumentos de trabalho de eletricista.

— Essas estão reservadas. Não estão à venda — me informa a mulher.

— Ah, tá. Desculpa.

— Imagina!

Junto os dois livros que havia separado, peço a revista. Pergunto o preço total, pago, recebo o troco. Agradeço, boto as compras na mochila.

E saio do sebo pensando que sou um idiota, porque ao entrar achei que o homem era o dono e a mulher, funcionária. Era o contrário: ela, a dona; o cara, prestador de serviço.

O machismo nosso de cada dia.

Quase todos nós fomos criados (para ser) racistas, machistas, xenófobos e homofóbicos. A questão é se assumimos isso (ou não) e o que fazemos a respeito.



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