Get Even More Visitors To Your Blog, Upgrade To A Business Listing >>

Rota 66, 25 anos depois

Tags: quem tiros mesmo
Escrevi o texto abaixo ontem (sexta-feira, 31 de março de 2017) para enviar a alguns amigos. Achei melhor publicá-lo por aqui.
*  *  *

Caros(as),

Infelizmente, mais do Mesmo.

http://extra.globo.com/casos-de-policia/pms-flagrados-executando-dois-homens-sao-envolvidos-em-37-autos-de-resistencia-21141468.html

Todos mortos em favelas da Zona Norte, todos levados para o hospital (inviabilizando a perícia e fazendo pagar de humanitário Quem “socorreu”), todos os mortos estavam com armas que foram apresentadas pelos executores na delegacia, usadas para “trocar tiros com a polícia”. Só não se informa se todos eram jovens e tinham a cor da pele parda ou negra – mas isso é fácil imaginar, não é mesmo? É realmente impressionante como funcionários públicos mal-remunerados, com ou sem salário atrasado, seguem à risca o roteiro-padrão conhecido por todos. Seguiriam até se aposentar, provavelmente. Afinal, matar não é problema, o problema é alguém filmar e cair na internet. Esses talvez sejam afastados e julgados (julgamento justo ou não é difícil saber se haverá, considerando as variáveis “justiça militar” e “condenação/linchamento midiático”, cada uma jogando numa direção), tratados como bode expiatório. Talvez, não.

Todos os outros que fazem isso desde não sei que década, e os que entraram há pouco na corporação e estão começando a aprender o roteiro, continuarão fazendo tranquilamente. Quem se importa?

A matéria trata apenas dos casos que foram registrados em DP e, portanto, entraram nas estatísticas estatais – que servem para pouco mais do que fins estatísticos, ou seja, são praticamente um fim em si mesmas. Raramente servem para investigação e solução pontual (caso a caso), quanto mais para subsidiar a tomada de decisões macro de políticas públicas de segurança. Estas são realizadas com base noutros critérios. Ontem à tarde, por exemplo, um PM reformado foi assassinado numa troca de tiros nas Lojas Americanas da 28 de Setembro, a uma quadra e meia aqui de casa. É impressionante como policiais atraem a proximidade de balas, tiros e criminosos quando estão de folga ou depois que se aposentam. Aparentemente, isto não tem nada a ver com o tipo de trabalho, com as políticas do governo do estado ou com as condições salariais e laborais destes funcionários públicos. Fica parecendo algo cósmico, magnético ou inexplicável: tem sempre um PM de folga nos locais de roubos, e ele sempre decide trocar tiros com os ladrões em vez de continuar seu caminho. O dever sempre chama.

Hoje a 28 de Setembro está cheia de policiais, do início ao fim. A UERJ e a área do Maracanã continuam abandonadas; o desemprego grassa graças à política econômica suicida que temos desde o fim de 2014; é fim de mês e mesmo quem tem trabalho tá duro; a demanda por drogas nas bocas da vizinhança deve estar igual ou maior do que nunca. Provavelmente os PMs de farda aqui na esquina de casa estão com os salários atrasados e vão trabalhar (mesmo que a lei proíba) também nas 72 horas de folga: na segurança, no bico, no táxi, ou _________ (complete como quiser). Quem se importa?

Abraços,

Rafael

P.S.: Quem assina a matéria do Extra é um homônimo, mas não o conheço.

P.S.2: Para quem não conhece, o livro do jornalista Caco Barcellos é uma obra-prima. Infelizmente, o modus operandi que narra continua em vigor nas quebradas do Rio, de Sampa e doutros lugares do nosso país.




This post first appeared on A Lenda, please read the originial post: here

Share the post

Rota 66, 25 anos depois

×

Subscribe to A Lenda

Get updates delivered right to your inbox!

Thank you for your subscription

×