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Milei não é Bolsonaro nem Trump


Do PODER360 - Marcelo Tognozzi*
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O que está levando a maioria dos eleitores argentinos a desejar votar em Javier Milei para presidente? Qual desastre pode ser maior do que aquele que levou a Argentina ao triste recorde de 40% da população vivendo na pobreza extrema? A situação dos argentinos é talvez a mais complicada da História desde que Rosas tomou o poder em 1829 e estabeleceu um governo de violência e terror. Milei não é um Bolsonaro, como quer impor a narrativa dos seus adversários na esquerda e na direita. Muito menos um Trump. Imaginar ser ele uma versão argentina dos 2 ex-presidentes é, no mínimo, miopia política.

Sua ascensão é consequência da decadência populista iniciada com Perón, nos anos 1940, desaguando no kirchnerismo do século 21. Num país que continua escolhendo seu presidente pelo voto direto e, diferentemente da Venezuela, não viu brotar clima algum para golpe de Estado, o surgimento desse economista de 52 anos com sua fórmula de governo distinta de todas aquelas já conhecidas está encantando. A mídia tradicional o exibe como um homem emocionalmente instável. Mas quem pode lograr estabilidade emocional numa Argentina onde a incerteza é tamanha, a ponto de ninguém se arriscar a prever o que pode ocorrer nas próximas horas ou no dia seguinte? O estresse é grande, o desalento, maior ainda.

A esperança tem sido o principal ativo de Milei e de sua vice, Victoria Villaruel. Os argentinos estão à beira de se tornar uma sociedade miserável dada a velocidade com que a pobreza vem ocupando cada vez mais espaços, tirando dos trabalhadores e dos empresários a perspectiva de futuro. Essa não é uma questão ideológica, mas de sobrevivência. O único candidato a oferecer um futuro, gostem ou não, é Milei. Nos últimos dias, ele tem sido cortejado por parte da elite econômica cevada no pragmatismo. Na quinta-feira (21), milionários argentinos se reuniram no Hotel Alvear, uma espécie de Copacabana Palace de Buenos Aires, para ouvir o líder nas pesquisas de intenção de voto. A elite econômica costuma ter um viés antropófago e, tudo indica, iniciou a deglutição do candidato do partido Liberdade Avança.

O silêncio dos empresários durante a fala de Milei foi sintomático. Será que a elite precificou o discurso da dolarização da economia, do fim do banco central e do corte radical de impostos? Provável. O importante será o tempo para conseguir os primeiros resultados e a capacidade para administrar as relações com a mídia e o Congresso. Se não houver habilidade política, só sobrará um populismo de 3ª via, tão ou mais nocivo que o peronismo ou o kirchnerismo.

Uma coisa ficou muito clara para os empresários que foram ao Alvear: ele sabe o que diz e o faz com enorme convicção. Com aqueles cabelos revoltos, os olhos azuis esbugalhados, provavelmente seja menos louco que Boris Johnson, o ex-primeiro-ministro britânico que promoveu baladas de arromba na residência oficial de Downing Street em plena pandemia. Basta dar um rolezinho pelas redes sociais dos hermanos para conferir o sentimento do eleitorado pela novidade. No X (ex-Twitter), ele tem 950 mil seguidores e 2,8 milhões no Instagram.

Até onde se sabe, os norte-americanos já oram por Milei, imaginando conter o avanço da esquerda no Cone Sul e esvaziando Lula no Mercosul, como o único governante de esquerda. Se vencer a eleição, como indicam os prognósticos até aqui, Javier Milei se tornará a grande novidade, roubando holofotes de outros personagens latino-americanos como o presidente colombiano Gustavo Petro, o chileno Boric e o próprio Lula. As sucessivas crises vividas pela Argentina se transformaram numa enorme tragédia social e política. O país é hoje uma democracia de pobres, boa parte deles vindos da classe média e desesperados para resgatar um passado perdido entre planos econômicos fracassados e uma inflação de mais de 100% ao ano. Votarão com muita emoção em 22 de outubro. O risco a ser medido – e ainda não me parece precificado – é o da frustração popular, se Javier Milei não entregar o que prometeu.

*Jornalista


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