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Por um País para todos: A ditadura do elogio


No mais elementar dicionário de língua portuguesa, a palavra ELOGIO significa "encontrar virtudes ou qualidades, avaliar positivamente, manifestar opinião favorável em relação a algo ou alguém, louvor, aplauso, magnificação, enaltecimento, encómio e panegírico". Não é normal pessoas responsáveis, pais e avós, licenciados, mestres e doutores, nem crianças que aprenderam a identificar o bem do mal, elogiarem o erro ou a falta de sentido. Em caso de chamada de atenção para o erro, para a falta de sentido, para a violação da lei, para o desnorte de decisões erráticas, para a ausência de discernimento, são sempre utilizados os antónimos do elogio: "advertência, censura, admoestação, repreensão, sermão, raspanete", com o objectivo de chamar a atenção para as consequências das acções e ajudar a "sincronizar os chacras" daquele que voluntária ou involuntariamente está errado.

A Ditadura do Elogio está instalada entre nós e é expressa por figuras públicas que incluem alguns políticos, governantes, escritores, jornalistas, membros de ordens profissionais, professores universitários e membros de associações da sociedade civil alinhada. O discurso das pessoas que assentam todos os mecanismos de defesa, da sua posição ou do seu grupo, na Ditadura do Elogio é deprimente pela falta de racionalidade e pela reiterada incapacidade de melhorarem os argumentos. Ao mesmo tempo, é perigoso porque quem é elogiado deixa de ouvir as críticas, a realidade e por causa desta dissonância cognitiva acaba por perder o controlo. Ao mesmo tempo, essa prática, ao tornar-se numa ditadura de grupo, deixa de ouvir a ciência, cria as suas próprias regras de manutenção do poder de cada um ou de cada grupo e oprime todos os restantes membros do grupo que não concordem com as palavras de ordem ou com a orientação dos promotores deste marketing com pés de barro, sendo hostilizados, proscritos e, por isso, muitos passam a discordar em silêncio ou apenas em restritos grupos familiares ou de amigos.

A Ditadura do Elogio já provou, entre nós, que é capaz de fazer enormes estragos, e isso foi uma realidade durante a governação do Presidente José Eduardo dos Santos. Hoje, muitos dos que fanaticamente batiam no peito em sua defesa e da sua governação foram os primeiros a virar-lhe as costas e a devolver-lhe a culpa de tudo. Os mesmos que estiveram ao seu lado, durante décadas. Felizmente, houve excepções, poucas, têm nome, rosto e estão vivas e em nome da dignidade que cada um deve manter, assumiram a culpa de forma solidária, visitaram-no quando ele perdeu o poder, enfraquecido e sem glória, abandalhado pelos que tanto protegeu. A História está a repetir-se. O mesmo filme, o mesmo discurso inflamado, a mesma expressão de fidelidade eterna. O mesmo discurso sobre a clarividência. A mesma armadilha. A mesma luta para se manterem dentro do inner circle, serem poder dentro do Poder. Da Academia também surgem alguns professores, poucos felizmente, que, depois de ouvido o despropósito do argumento, só podemos recear que estejam a deformar alunos. Após aqueles debates televisivos, temos de ficar em silêncio a construir esperança interna para acreditarmos que ainda vamos a tempo de contruir o País de todos e para todos. É tão triste ver homens e mulheres humilharem o que estudaram para defender o que quer que seja que não esteja certo. E por certo é considerado aqui, tudo aquilo que é eficaz, ético, patriótico, bom para todos.

É o exemplo que fortalece as Nações. É o exemplo que educa os filhos. É o exemplo que prevalece no futuro. Muitos países africanos, e Angola inclui-se, aboliram a crítica institucional. Ignoram todo o tipo de observatórios políticos, económicos e sociais. O contraditório passou a ser inimigo, lúmpen e bandido. Desvalorizam os Relatórios que as Universidades angolanas produzem e encomendam outros mais "bonitos", cheios de botox a empresas estrangeiras, a preços pornográficos. Esse comportamento não permite que a consciência da realidade seja regra. A culpa não é dos dados. A culpa é de quem não inova, não promove o desenvolvimento nem a felicidade dos povos a que está associado. Aldrabar nos dados, nos relatórios, nos pareceres, pagar fortunas por prémios que exaltam "méritos" inexistentes, para melhorar a imagem de um partido, governo ou líder é tão perigoso como o alcoólico que começa a beber de manhã, mas esconde o vinho dentro do pacote de sumo, para poder beber no trabalho e parecer uma pessoa séria.

O Povo já não sonha mesmo enquanto dorme. Está esgotado. O sacrifício apenas é exigido aos pobres, os mais pobres, os sem nada, os que nem têm País. E os eleitos são vistos à distância, nos ecrãs da televisão a pedir para que o povo entenda que a fome é relativa. Que a dor sentida agora será a virtude futura! Que o sofrimento consentido não será em vão! Que o caminho se faz caminhando a pé e descalço! À maioria da população que não é ouvida pela máquina da ruidosa propaganda é dito, de forma peremptória, que a vida acontece no município, que estes têm poder, orçamento, técnicos suficientes e as demais garantias de eficácia e que irão promover bem-estar e progresso. E no post a seguir, vemos que, na comuna, não estão a emitir cédulas há alguns meses. A "nova democracia" foi um "jajão". As palavras de ordem de 2017 foram esquecidas. Aprendemos todos os dias a linguagem do "virem-se como puderem". Felizmente, temos um POVO BOM. Um povo resiliente, corajoso e com imensa imaginação. Cuida de si mesmo há 48 anos e provou ser muito mais eficaz que programas que sugaram milhões e nem um rato pariram.

A única coisa que a Ditadura do Elogio produz é a anarquia, a desordem, a divisão da nação e a mensagem de que o "cavalo morto", afinal, vai continuar a correr e chegará em primeiro lugar. A Ditadura do Elogio é nefasta, é prova de fraqueza, é uma declaração de pobreza de capacidade de agir, de criar, de melhorar. É também uma clara manifestação de perda de patriotismo. É um "Thriller Político" pela dimensão da incapacidade de olharem para a calamidade. A mesma cacofonia que virou refrão e já se tornou uma anedota que não dá vontade de rir por ser demasiado básica. E no meio disto estamos a perder o país. Há um proverbio africano cheio de sabedoria que diz: "Se queres saber como acaba, toma atenção como começa". NJ

Por Alexandra Semeão


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